"O estado natural do nosso ser é a atenção plena: uma atenção que não é voltada para uma dada coisa, mas que é um estado de experiência pura que abrange todas as coisas. Dentro da atenção plena, nossa mente é equilibrada, leve, livre e flexível. Não somos, no entanto, capazes de permanecer dentro dessa atenção plena, pois nossa inclinação imediata é querer saber quem está vivendo o quê. Em consequência, a atenção plena cede lugar à nossa consciência comum, que divide nossas percepções em sujeito e objeto, criando como sujeito uma "auto-imagem", o "eu". Mas o que é, na verdade, este "eu" ? Será que podemos, de fato, encontrá-lo em algum lugar na mente ? Quando olhamos com cuidado, vemos que o "eu" é simplesmente uma imagem que a mente projetou. Este "eu" não tem realidade alguma em si; no entanto, nós o tomamos como real e o deixamos gerir as nossas vidas. O "eu", então, obscurece nossa atenção plena e nos separa da nossa experiência, dividindo-a em um pólo subjetivo e um objetivo.
"Sob a influência da auto-imagem, perpetuamos esta orientação sujeito-objeto. Tão logo nos identificamos, começam as comparações; logo em seguida surgem tendências à posse e ao egoísmo. A mesnte, então, põe-se a fazer discriminações e julgamentos que provocam conflitos. A auto-imagem fornece energia a estes conflitos, e estes conflitos, por sua vez, alimentam a auto-imagem. Desse modo, a auto-imagem perpetua-se a si mesma, tendendo a filtrar as experiências de forma a só permitir espaço para que as suas próprias estruturas rígidas funcionem. Desprovida de abertura e de aceitaçã, a auto-imagem nos aprisiona em bloqueios e limitações. O fluxo natural da nossa energia fica interrompido, e a nossa sensibilidade de rsposta, bem como a pofundidade da nossa experiência, ficam com a amplitude seriamente tolhida.
"A fim de nos libertarmos da interferência da auto-imagem, e para que nosso equilíbrio natural tenha espaço para atuar, precisamos primeiro ver a que a auto-imagem não é uma parte autêntica de nós mesmos, que nós não precisamos dela, e que, de fato, ela obscurece o nosso verdadeiro ser. Uma forma de conseguir isto é dar um passo atrás e observar nossos pensamentos, sempre que estivermos em meio a fermentação emocional.
"Mesmo qundo estamos muito perturbados, é possível nos separarmos da dor da emoção. Recue um pouco e, de fato, olhe para a dor. Com este conhecimento, você pode ver que a perturbação é, na verdade, causada pela auto-imagem. Talvez você até veja que muito de sua infelicdade resultou do fato de a auto-imagem levá-lo a ter expectativas que não poderiam ser preenchidas.
A auto-imagem é, ela própria, um tipo de fantasia, de modo que ela tende a construir um mundo de fantasias.(...)"
(Trecho do capítulo "A auto-imagem" da obra "A Expansão da Mente", de Tarthang Tulku)
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