sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Você está além do espaço e do tempo


Pergunta: Você continua dizendo que eu nunca nasci e que nunca morrerei. Se é assim, como é que vejo o mundo como alguém que nasceu e que, certamente, morrerá.

Maharaj: Você acredita desse modo porque você nunca questionou sua crença de que você é o corpo, o qual, obviamente, nasce e morre. Enquanto vivo, atrai a atenção e o fascina tão completamente que raramente alguém percebe sua verdadeira natureza. É como ver a superfície do oceano e esquecer completamente a imensidade mais abaixo. O mundo é só a superfície da mente e a mente é infinita. O que chamamos pensamento são apenas ondulações da mente. Quando a mente está serena, reflete a realidade. Quando ela está imóvel em toda sua extensão, ela se dissolve e apenas a realidade permanece. Esta realidade é tão concreta, tão real, tão mais tangível que a mente e a matéria que, comparado com ela, mesmo o diamante é suave como manteiga. Esta impressionante realidade torna o mundo irreal, nebuloso, irrelevante.

P: Com tanto sofrimento no mundo, como pode vê-lo como irrelevante¿ Que frieza!

M: É você quem é insensível, não eu. Se seu mundo é tão cheio de sofrimento faça algo a respeito, não acrescente mais a ele através da ambição e da indolência. Eu não estou limitado por seu mundo ilusório. Em meu mundo, as sementes do sofrimento, do desejo e do temor não são semeadas, e o sofrimento não cresce. Meu mundo está livre dos opostos, de discrepâncias mutuamente destrutivas; prevalece a harmonia; sua paz é como uma rocha; esta paz e o silêncio são o meu corpo.

P: O que você diz lembra-me o dharmakaya de Buda.

M: Pode ser. Não precisamos afastarmos pela terminologia. Simplesmente veja a pessoa que você imagina ser como uma parte do mundo que percebe dentro de sua mente, e olhe de fora para a mente, a qual você não é. Depois de tudo, seu único problema é a ansiosa auto-identificação com qualquer coisa que perceba. Abandone este hábito, lembre que você não é o que percebe, utilize o seu poder de distanciamento alerta. Veja-se em tudo quanto vive e seu comportamento expressará sua visão. Uma vez que compreenda que não há nada neste mundo que possa ter por próprio, você olha o mundo de fora como olha para uma peça em um palco, ou uma imagem na tela, admirando e apreciando, mas realmente impassível. Enquanto você imagina ser algo tangível e sólido, uma coisa entre coisas, existindo realmente no tempo e no espaço, de breve duração e vulnerável, naturalmente estará ansioso para sobreviver e crescer. Mas quando se conhece como além do tempo e do espaço em contato com eles apenas no ponto do aqui e agora; de qualquer forma todo-penetrante e todo-abarcante, inacessível, inalcançável, invulnerável não terá mais medo algum. Conheça-se tal como é contra o medo não há outro remédio.
Você tem que aprender a pensar e sentir desse modo, ou permanecerá indefinidamente no nível pessoal do desejo e do temor, ganhando e perdendo, crescendo e decaindo. Um problema pessoal não pode ser resolvido em seu próprio nível. O próprio desejo de viver é o mensageiro da morte, da mesma forma que o desejo de ser feliz é a essência da aflição. O mundo é um oceano de dor e de medo, de ansiedade e desespero. Os prazeres são como os peixes, poucos e ligeiros, chegam raramente e depressa se vão. Um homem de pouca inteligência acredita contra a evidência, que é uma exceção e que o mundo lhe deve felicidade. Mas o mundo não pode dar o que não tem; irreal até a medula, é de nenhuma utilidade para a felicidade real. Não pode ser de outra forma. Buscamos o real porque estamos infelizes como o irreal. A felicidade é nossa própria natureza e não descansaremos até que a encontremos. Mas raramente sabemos onde buscá-la. Uma vez que tenha entendido que o mundo é apenas uma visão errada da realidade, e não é o que parece ser, você é livre de suas obsessões. Apenas o que é compatível com seu ser real pode fazê-lo feliz e o mundo, como você o percebe, é sua clara negação.
Mantenha-se tranqüilo e observe o que chega à superfície da mente. Rejeite o conhecido, dê as boas vindas ao até agora desconhecido e rejeite-o em seu devido tempo. Assim você chega a um estado em que não há conhecimento, apenas ser, e o próprio ser é o conhecimento. O conhecimento mediante o ser é o conhecimento direto. Está baseado na identidade do que vê e do visto. O conhecimento indireto é baseado na sensação e na memória, na proximidade do que percebe e sua percepção, confinado ao contraste entre os dois. O mesmo acontece com a felicidade. Geralmente você deve estar triste para conhecer a alegria, e alegre para conhecer a tristeza. A verdadeira felicidade não tem causa e não pode desaparecer por falta de estimulação. Não é o oposto da aflição e inclui toda aflição e todo sofrimento.

P: Como pode alguém permanecer feliz entre tanto sofrimento?

M: Não se pode evitar, a felicidade é irresistivelmente real. Como o sol no céu, suas expressões pode estar nubladas, mas nunca está ausente.

P: Quando temos problema, somos obrigados a sentir-nos desgraçados.

M: O único problema é o temor. Saiba que é independente e permanecerá livre do temor e de suas sombras.

P: Qual a diferença entre felicidade e prazer?

M: O prazer depende das coisas, a felicidade não.

P: Se a felicidade é independente, porque não estamos sempre felizes?

M: Enquanto acreditarmos que necessitamos coisas para fazer-nos felizes, também devemos acreditar que, na ausência delas, delas devemos ser miseráveis. A mente sempre se desenvolve de acordo com suas crenças. Daí a importância de convencer-se de que não é necessário ser incitado para a felicidade; que, ao contrário, o prazer é uma distração e uma perturbação, pois que meramente aumenta a falsa convicção de que se necessita ter e fazer coisas para ser feliz, quando na realidade é exatamente o oposto.
Mas porque falar de felicidade em absoluto? Você não pensa nela exceto quando está infeliz. Um homem que diz: “agora sou feliz”, está entre duas aflições, passado e futuro. Esta felicidade é uma mera excitação causada pelo alívio da dor. A felicidade real é absolutamente consciente de si mesma. Isto é melhor expresso negativamente como: “não há nada errado comigo; não tenho nada a preocupar-me”. No final das contas, o propósito final de todo sadhana é alcançar um ponto onde esta convicção em vez de ser apenas verbal, esteja baseada em uma experiência real e sempre presente.

P: Que experiência?

M: A experiência de estar vazio, sem estar acossado pelas recordações e pelas experiências; é como a felicidade dos espaços abertos, de ser jovem, de ter toda a energia e tempo para fazer coisas, para descobrir, para a aventura.

P: O que fica por descobrir?

M: O universo exterior e a imensidade interior tal como são na realidade, na grande mente e no coração de Deus. O significado e o propósito da existência, o segredo do sofrimento, da vida redimida da ignorância.

P: Se ser feliz é o mesmo que estar livre do temor e da preocupação, não se pode dizer que a ausência de problemas é a causa da felicidade?

M: Um estado de ausência, de inexistência, não pode ser uma causa; a preexistência de uma causa está implícita em sua noção. Seu estado natural, no qual nada existe, não pode ser uma causa do vir-a-ser; as causas estão ocultas no grande poder misterioso da memória. Mas o seu verdadeiro lar está no nada, no vazio de todo conteúdo.

P: O vazio e o nada, que apavorante!

M: Sua face está mais alegre quando você vai dormir! Descubra por você mesmo o estado de sono vigilante, e você o achará em total harmonia com sua natureza real. As palavras apenas podem lhe dar uma idéia, e a idéia não é a experiência. Tudo o que posso dizer é que a verdadeira felicidade não tem causa e o que não tem causa é impassível. O que não quer dizer que seja perceptível, como o prazer. O que é perceptível é a dor e o prazer; o estado de liberdade da aflição só pode ser descrito negativamente. Para conhecê-lo diretamente, você deve ir além da mente aplicada à causalidade e à tirania do tempo.

P: Se a felicidade não é consciente e a consciência não é feliz, qual é a conexão entre a duas?

M: A consciência, sendo um produto das condições e das circunstâncias, depende delas e muda com elas. O que é independente, incriado, eterno e imutável, e ainda assim sempre novo e fresco, está além da mente. Quando a mente pensa nele, ela se dissolve e só a felicidade permanece.

P: Quando tudo desaparece, nada fica.

M: Como pode haver nada sem alguma coisa¿ O nada é só uma idéia, depende da recordação de algo. O puro ser é independente da existência, a qual é definível e descritível.

P: Por favor, fale-nos: a consciência continua além da mente, ou ela termina com a mente?

M: A consciência vai e vem, a Consciência brilha imutavelmente.

P: O que é consciente na Consciência?

M: Quando há uma pessoa, também há consciência. O “eu sou”, a mente, a consciência denotam o mesmo estado, se você diz “eu sou consciente”, só significa: “eu sou consciente de pensar no fato de ser consciente”. Na Consciência não há “eu sou”.

P: O que me diz sobre o testemunhar?

M: Testemunhar é da mente. A testemunha combina com o testemunhado. No estado de não-dualidade toda separação cessa.

P: E você? Continua na Consciência?

M: A pessoa, o “eu sou este corpo, esta mente, esta cadeia de recordações, este punhado de desejos e temores” desaparece, mas fica algo que você pode chamar identidade. Ele me habilita a tornar-me uma pessoa quando necessário. O amor cria suas próprias necessidades, mesmo tornar-se uma pessoa.

P: É dito que a realidade se manifesta como existência, consciência e bem-aventurança. Elas são absolutas ou relativas?

M: São relativas entre si e dependem uma da outra. A realidade é independente de suas expressões.

P: Qual é a relação entre a realidade e suas expressões?

M: Nenhuma relação. Na realidade tudo é real e idêntico. Como nós dizemos, saguna e nirguna são um só um parabrahman. Só existe o supremo. Em movimento, é saguna; imóvel, é nirguna. Mas é apenas a mente que se move ou não. O real está além, você está além. Uma vez que tenha entendido que nada perceptível, ou concebível, pode ser você mesmo, você é livre de sua imaginação. Ver tudo como imaginação nascida do desejo é algo necessário para a auto-realização. Nós perdemos o real por falta de atenção, e criamos o irreal pelo excesso de imaginação.
Você deve entregar seu coração e sua mente para essas coisas e remoê-las repetidamente. É como cozinhar alimentos. Deve mantê-los no fogo durante algum tempo antes que estejam prontos.

P: Não estou sob o influxo do destino, do meu karma¿ Que posso fazer contra ele? O que sou e o que faço estão pré-determinados. Mesmo minha assim chamada “livre escolha” é pré-determinada; apenas não estou consciente disso e imagino-me livre.

M: Novamente, tudo depende de como olhar. A ignorância é como uma febre, ela o faz ver coisas que não existem. O karma é o tratamento prescrito pelo divino. Dê a ele boas vindas e siga as instruções fielmente e você se curará. O paciente deixará o hospital depois de recuperar-se. Insistir na imediata liberdade de escolha e de ação meramente adia a recuperação. Aceite seu destino e complete-o; este é o mais curto caminho para a libertar-se do destino, embora não do amor e de suas compulsões. Atuar a partir do desejo e do temor é escravidão, atuar a partir do amor é liberdade.


Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj – cap. 94 - Ed. Advaita

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ouspensky: as emoções negativas



Sr. Ouspensky: Quero lembrá-los especialmente sobre a idéia das emoções negativas e do estado de emoção negativa. Realmente é o segundo ponto mais importante no sistema. O primeiro ponto importante refere-se à consciência. E o segundo ponto importante é sobre as emoções negativas.
Se vocês se lembram do que foi dito no início sobre a consciência e a ausência de consciência, vocês todos devem ter percebido uma coisa ao observar as funções (corpo, mente e emoções). Vocês devem ter percebido que, normalmente, em tudo o que fazemos, em tudo o que pensamos e que sentimos, não nos lembramos de nós mesmos. Não nos damos conta de que estamos presentes, de que estamos conscientes, de que estamos aqui.
Mas ao mesmo tempo, vocês já devem saber e entender que, se fizermos esforços suficientes por um período suficientemente longo , podemos aumentar a nossa capacidade para a lembrança de si. Começamos a lembrar de nós mesmos com mais freqüência, começamos a lembrar de nós mesmos mais profundamente, começamos a lembrar de nós mesmos em conexão com mais idéias - com a idéia da consciência, a idéia de trabalho, a idéia dos centros, a idéia do auto-estudo, a idéia das escolas. Mas a questão é - como lembrar de si mesmo, como tornarmos-nos mais cientes. Então, se você voltar à idéia das emoções negativas, vai descobrir que esse é o principal fator que nos faz não lembrar de nós mesmos. Então uma coisa não pode ir sem a outra. Você não pode lutar contra as emoções negativas sem lembrar mais de si mesmo, e você não pode lembrar-se mais sem lutar com as emoções negativas. Se lembrar dessas duas coisas, você vai entender tudo melhor. Portanto, tente manter essas duas idéias, que estão ligadas, em mente.
Agora, a respeito de como lutar contra as emoções negativas, primeiro de tudo, é necessário perceber que não há uma única emoção negativa que seja útil, útil em qualquer sentido. As emoções negativas são todas igualmente ruins. Lute contra elas, elas podem ser conquistadas e destruídas, pois não há nenhum centro real para elas. Se houvesse um centro verdadeiro para elas, então não haveria nenhuma chance, teríamos que ficar para sempre no poder das emoções negativas. Mas felizmente para nós, não há nenhum centro real. É um centro artificial que funciona, e esse centro artificial pode ser destruído e sumir. E nós vamos nos sentir muito melhor se isso acontecer. Mesmo a compreensão de que isso é possível já é muito; mas temos tantas convicções, preconceitos e até mesmo princípios a respeito delas, que é muito difícil de se livrar da idéia de que as emoções negativas são necessárias e obrigatórias. Enquanto nós pensarmos que elas são necessárias, inevitáveis, e até mesmo úteis para a auto- expressão ou muitas outras coisas - não podemos fazer nada. É necessário ter uma certa luta mental para perceber que elas são completamente inúteis, que não têm qualquer função útil em nossas vidas e, ainda, ao mesmo tempo que toda a vida está baseada em emoções negativas. Isso é o que ninguém percebe.

Pergunta: Mas me parece que há circunstâncias que simplesmente induzem-nos a ter emoções negativas.

Sr. O.: Essa é uma das nossas ilusões mais fortes, quando pensamos que as emoções negativas são produzidas pelas circunstâncias. Todas as emoções negativas estão em nós, dentro de nós... Sempre pensamos que nossas emoções negativas são produzidas ou por culpa das outras pessoas ou por culpa das circunstâncias. Nós sempre pensamos assim. Essa é a nossa principal ilusão. Nossas emoções negativas estão em nós mesmos e são produzidas por nós mesmos. Não há absolutamente nenhuma razão inevitável pela qual a ação de alguém ou de determinada circunstância, deveria produzir emoção negativa em mim. É apenas a minha fraqueza.

P: Então, se o seu melhor amigo morre, você deve ficar otimista?

Sr. O.: A morte de um amigo ou algum tipo de aflição é sofrimento, não é emoção negativa. Pode produzir emoção negativa apenas se você identificar-se com ele. O sofrimento pode ser real; emoção negativa não é real. E, afinal, o sofrimento ocupa uma parte muito pequena da nossa vida, mas as emoções negativas ocupam uma grande parte, ocupam toda a nossa vida. E porquê? Porque nós as justificamos. Achamos que elas são produzidas por alguma causa externa. Quando sabemos que elas não podem ser produzidas por causas externas, a maioria delas desaparecem. Mas esta é a primeira condição: precisamos perceber que elas não podem ser produzidas por causas externas, se não queremos tê-las. Elas geralmente estão lá porque permitimos-nas, explicamos-nas através de causas externas, e dessa forma não lutamos com elas. Esse é o ponto important e.

P: Há alguma razão pela qual estamos tão preocupados em manter as emoções negativas?

Sr. O.: O hábito. Estamos habituados a elas, e não podemos dormir sem elas. O que muitas pessoas fariam sem as emoções negativas?

P: Nós tornamos as emoções negativas muito piores através da imaginação?

Sr. O.: Elas não podem existir sem imaginação. Apenas sofrer uma dor não é uma emoção negativa, mas quando a imaginação e a identificação entram, então torna-se emoção negativa. Dor emocional, assim como a dor física, não é emoção negativa por si só, mas quando você começa a criar todo tipo de adorno em cima dela, ela se torna emoção negativa.

P: Para lutar contra as emoções negativas temos que observar mais e trabalhar contra a forte identificaç ão com a emoção?

Sr. O.: Sim. Mais tarde vamos falar sobre os métodos para lutar com as emoções, pois existem muitos, métodos muito definidos, diferentes para diferentes emoções, mas primeiro você deve lutar com a imaginação negativa e a identificação. Isso é perfeitamente suficiente para destruir muitas das emoções negativas usuais – em todo caso, torná-las mais leves. Você deve começar com isso, porque só é possível começar a usar métodos mais fortes contra as emoções negativas quando você puder lutar com a identificação até um certo ponto, e quando você já tiver parado a imaginação negativa. Isso deve ser interrompido totalmente. É inútil o estudo de outros métodos antes que isso seja feito. A imaginação negativa você pode parar, e mesmo o estudo da identificação já vai diminuí-la. Mas a verdadeira luta contra as emoções negativas começa mais tarde, e ela baseia-se na compreensão correta, primeiro de tudo, de como elas são criadas, o que está por trás delas, de como elas são inúteis e o quanto você perde por causa desse prazer de ter emoções negativas. Quando você perceber o quanto você perde, então talvez você vai ter energia suficiente para fazer algo a esse respeito.

P: De acordo com o que você diz, parece-me que você está pressupondo que temos um 'eu', superior aos outros, que pode fazer isso?

Sr. O.: Não superior, mas alguns 'eus' intelectuais estão livres do centro emocional e podem ver as coisas de forma imparcial. Eles podem dizer: "Eu tive essa emoção negativa toda a minha vida. Recebi um centavo por isso? Não, eu só paguei, paguei e paguei. Significa que isso é inútil.”

P: Quando você está no meio do processo de uma emoção negativa é possível detê-la apenas ao pensar?

Sr. O.: Não, mas você pode preparar o terreno antecipadamente. Se, por um longo tempo, você puder criar uma atitude correta, após algum tempo ela irá ajudá-lo a parar a emoção negativa no início. Quando você está no meio dela, você não pode pará-la.

P: Mas certamente há momentos onde nossos próprios sentimentos podem não ser negativos, e ainda, por alguma razão perfeitamente justa, ficamos indignados ou irritados ....




Sr. O.: Não existem razões justas. De uma vez por todas é preciso entender que não existem motivos justos para ficar com raiva. E a raiva não está nas razões, está em você. As emoções negativas não estão nas razões externas, elas estão em você. Quando você entender isso, você começará a pensar sobre isso corretamente. Enquanto achar que existem razões externas, significa que você não começou ainda.

P: Por que sentimos as emoções negativas com mais força e mais freqüentemente na companhia de algumas pessoas do que com os outras?

Sr. O.: As pessoas que estão cheias de emoções negativas e de identificação produzem reações similares em outras pessoas. É preciso aprender a isolar a si mesmo nesses casos, por meio da lembrança de si e da não identificação. Isolamento não significa indiferença.

P: As emoções negativas estão sempre conectadas com a identificação de alguma maneira?

Sr. O.: Sempre. As emoções negativas não podem existir sem a identificação e a imaginação negativa. Essas duas coisas são a base psicológica das emoções negativas. A base mecânica é o trabalho errado dos centros.

P: Algumas vezes consigo não expressar uma emoção negativa, para começar, mas ela fica tentando sair.

Sr. O.: Isso significa que você só parou a manifestação externa e que você deve tentar parar a causa dela. Não me refiro à emoção em si, mas a causa da expressão. Há uma diferença. A emoção é uma coisa, a expressão é outra. Tente encontrar a diferença.

P: Onde é que a expressão das emoções negativas começa? Muitas vezes, a emoção persiste apesar dos esforços para excluir a imaginação e a identificação, por exemplo, com a decepção. Isso deveria parar, se fizermos as observações e os esforços corretos para superar a imaginação e a identificação, ou ela pode persistir apesar de tudo isso? Se persistir, isso significa que ainda estamos expressando-a?

Sr. O.: É diferente em casos diferentes. Muitas coisas estão misturadas aqui. Você deve entender que se você falar sobre não expressar emoção negativa, você deve falar apenas sobre não expressar emoção negativa. Se você falar sobre as causas ou as razões das emoções, então você deve falar apenas disso e não dizer nada sobre a não expressão. Apenas uma coisa de cada vez.

P: Se eu consigo frear a expressão de uma emoção negativa, isso resulta numa irritação extrema e uma vulnerabilidade subseqüente em relação à todas as coisas externas.

Sr. O.: Certamente, se você mantiver a expressão calada você sente irritado. Isso significa que você se identifica. Você tenta manter a identificação e destruir a expressão. Você deve começar destruindo a identificação.

P: É possível que os esforços para controlar a emoção negativa nos deixe cansados?

Sr. O.: Não. Tais esforços nos dão muito mais energia, eles não podem cansar. Você pode ficar cansado, se você apenas reprimir a expressão. Mas eu nunca disse para suprimir. Eu disse, 'Não expresse; encontre razões para não expressar. A repressão jamais pode ajudar, porque mais cedo ou mais tarde a emoção negativa vai saltar para fora. É uma questão de encontrar razões, pensar de maneira correta.

P: Uma mudança de atitude?

Sr. O.: Isso mesmo. Pois a expressão da emoção está sempre baseada em algum tipo de pensamento errado.

P: Gostaria de obter mais ajuda em relação à luta contra as emoções negativas.

Sr. O.: Isso deve ser o seu próprio esforço, e antes de tudo você deve classificar suas emoções negativas. Você deve descobrir quais são as principais emoções negativas que você tem; por que elas vêm, o que as traz, e assim por diante. É preciso compreender que seu único controle sobre
emoções é pela mente, mas não é de imediato. Se você pensa corretamente por seis meses, então isso irá afetar as emoções negativas, pois elas estão baseadas em pensamento errado. Se você começar a pensar corretamente hoje, isso não vai alterar as emoções negativas amanhã. Mas as emoções negativas em Janeiro, podem ser alteradas se você começar a pensar corretamente agora.

P: Quando penso sobre as emoções negativas, compreendo muito claramente que elas estão em nós mesmos e, no entanto, logo depois, eu ainda continuo a ficar negativo e continuo a expressar emoções negativas. Isso ocorre simplesmente porque eu não sou um (não tenho um 'eu' permanente)?

Sr. O.: Primeiro, porque você não é um, e segundo, porque você não tenta do jeito certo. É uma questão de um longo trabalho, como eu disse, e isso não pode ser alterado de uma vez. Se uma pessoa tem emoções negativas constantes, emoções negativas recorrentes do mesmo tipo, ela sempre cai no mesmo ponto. Se observasse melhor a si mesma a pessoa saberia que isso ia acontecer, ou que teria vindo, e se tivesse pensado corretamente de antemão, teria alguma resistência. Mas se a pessoa não tem uma atitude correta, se não pensar corretamente, então fica impotente, e a emoção negativa acontece de novo, no mesmo tempo, da mesma forma e assim por diante .... A primeira coisa que é preciso fazer é aprender a não expressá-la, porque, quando expressamos uma emoção negativa, estamos em poder dela. Não podemos fazer nada naquele momento. Primeiro de tudo devemos aprender a não expressa r a emoção negativa. Quando aprendemos isso, então, podemos tentar não se identificar, tentar criar uma atitude correta, e lembrar de si mesmo.
Sobre essa questão das emoções negativas, quero que você entenda que parar de expressar as emoções negativas e a luta com as emoções negativas são duas práticas bem diferentes. Tentar impedir a expressão das emoções negativas vem primeiro. Você não pode fazer nada a respeito das emoções negativas até que tenha aprendido a parar a expressão delas. Quando você tiver adquirido um certo controle na não-expressão de emoções negativas, então você pode estudar as emoções negativas propriamente ditas. Primeiro, você deve entender o quão erradas elas são, o quanto são inúteis, e então você deve compreender que elas não podem existir sem a identificação. Quando você percebeu isso, você deve tentar (Eu não disse que você pode fazer isso de uma vez, levará um longo tempo, mas você deve tentar) dividi-las em três categorias. Primeiro, as emoções negativas mais ou menos comuns, do dia a dia, que acontecem muitas vezes e estão sempre relacionadas com a identificação. Certamente, você deve observá-las e você já deve ter um certo controle sobre a expressão delas. Então você deve começar a lidar com elas, tentando não se identificar, evitando a identificação tão frequentemente quanto você puder, não só em relação a essas emoções, mas em relação a tudo. Se você criar em si a capacidade de não se identificar, isso irá afetar essas emoções e você vai notar como eles desaparecem.A segunda categoria não aparece todos os dias. Elas são as mais difíceis, são emoções mais complicadas que dependem de algum processo mental - desconfiança, sentimentos feridos e muitas coisas desse tipo. Elas são mais difíceis de conquistar. Você pode lidar com elas, criando uma atitude mental correta, através do pensamento - não no momento em que você está na emoção negativa, mas no intervalo entre uma e outra, quando você está quieto. Tente encontrar a atitude correta, o ponto de vista certo, e torne-o permanente. Se você criar o pensar correto, isso irá levar embora todo o poder dessas emoções negativas.
Depois, há a terceira categoria, muito mais intensa, muito mais difícil, e muito rara. Contra elas, você não pode fazer nada. Esses dois métodos - lutar com a identificação e criar atitudes, não ajudam. Quando tais emoções vem você pode fazer apenas uma coisa: você deve tentar lembrar de si – lembrar de si com a ajuda da emoção. Isso irá alterá-las depois de algum tempo. Mas para isso você tem que estar preparado, é uma coisa muito especial.
Esses são os métodos de lidar com as emoções negativas. Como mesmo as emoções negativas podem ser diferentes, você não pode usar os mesmos métodos contra todas elas. Em todos os casos você deve estar preparado. Como eu disse no iníc io, será difícil vencê-las ou lutar com elas, mas você vai aprender com o tempo. Somente, nunca misture isso com a expressão de emoções negativas. Isso vem em primeiro lugar. É dado quase na primeira conferência*, e antes que você posse fazer qualquer outra coisa, você deve aprender a controlar a manifestação da emoção negativa. Enquanto você não puder parar a expressão, isso significa que você não pode fazer nada sobre as próprias emoções. Mas se você aprender a controlar a expressão, então você pode começar. Mas lembre-se você não pode fazer nada quando você está no meio de uma emoção negativa, você só pode fazer algo relativo a isso antes e depois.


(* ver no início do blog na 'psicologia da evolução possível ao homem' as cinco conferências que apresentam o sistema de G. I. Gurdjieff)



Fonte:

http://ricardo-yoga.blogspot.com/

sábado, 9 de janeiro de 2010

Tecno-niilistas: na prisão do princípio do prazer



Uma liberdade que tem o sabor agridoce da coação ao consumo. Um longo e comprometido ensaio de Mauro Magatti repropõe a secular e às vezes conflituosa relação entre a técnica e a formação das subjetividades coletivas à luz de um capitalismo que elevou a comunicação a "medium" das relações sociais

A reportagem é de Francesco Antonelli, publicada no jornal Il Manifesto, 29-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Uma das perguntas mais frequentes que nos colocamos sobre o celular ou sobre o computador conectado à Internet é se a contínua acessibilidade que permitem não transformou a vida em uma contínua obsessão. Da mesma forma, a todos nós, ao final de uma longa jornada de trabalho, ocorrerá que nos sentiremo s engrenagens de um grande mecanismo que não somos capazes de controlar e que condiciona irremediavelmente a nossa vida.

"Técnica" e "Sujeito": toda a vez que nos encontramos em situações semelhantes às descritas, ressurge a secular questão das relações entre essas dimensões constitutivas da modernidade. Além de toda banalização exemplificativa, a questão é verdadeiramente central. Para esclarecer, enquanto do lado da "Técnica" encontramos a ciência experimental, a tecnologia e a racionalidade instrumental da qual a burocracia, por exemplo, é filho, do lado do "Sujeito" traçamos a liberdade, a igualdade e a racionalidade substancial da qual derivam, de 1789 em diante, as grandes lutas pela emancipação de homens e mulheres.

O positivismo, ideologia oficial do Ocidente, retraçou no desenvolvimento da técnica o melhor modo para promover a emancipação, enquanto Marx, Nietzsche e Freud ("os três mestres da suspeita") contribuíram para difundir a ideia de uma inconciliação crescente entre "Técnica" e afirmação do "Sujeito". O trágico da modernidade e da pós-modernidade reside na convivência dessas posições dentro de uma mesma cultura e de uma mesma sociedade que é incapaz de controlar e conciliar as forças desencadeadas pela "Técnica" e pela emancipação subjetiva.

A luta contra o sistema

O longo e inteligente texto de Mauro Magatti "Libertà immaginaria. Le illusioni del capitalismo tecno-nichilista" (Ed. Feltrinelli, 432 páginas) se insere no interior dessa controvérsia de vocação "universalista" que investe tanto sobre a nossa vida cotidiana ("o celular melhora a minha vida?"), quanto a "grande história" (o movimento operário contra a reificação da fábrica, do escritório e, hoje, do call center). Na realidade, o livro de Magatti parte de duas releituras complementares da relação Técnica/Sujeito: a primeira opõe a utilização massificante da tecnologia própria do capitalismo social (fordismo) ao uso microfísico, personalizado e hermético da Técnica, próprio do atual modelo de desenvolvimento.

A homologação dos gostos é substituída pelas obsessões e pelas mutações antropológicas geradas por tecnologias personalizáveis e por sistemas organizativos, institucionais, científicos e culturais que funcionam por inércia, sem aspirar a uma meta ideal mais alta a não ser o próprio desenvolvimento e a apropriação total da vida humana (biopolítica). A segunda, mais original, baseia-se na leitura dos movimentos sociais dos anos 60 feita por Berman, Luc Boltanski, Manuel Castells e Pekka Himannen: especialmente nos Estados Unidos, as instâncias libertárias contribuíram para demolir a sociedade massif icada própria do fordismo, relançando a centralidade da autodeterminação individual.

Individualismo e massificação

Da luta contra o autoritarismo, surgiu assim um sujeito que imagina a sua própria liberdade como gozo total e libertação dos laços mais fortes, um imaginário difundido que, desde o fim dos anos 70, o neoliberalismo soube formalizar politicamente, e o capitalismo, subsumir, relançando sobre novos fundamentos o seu próprio desenvolvimento (flexibilidade do trabalho e das organizações, pós-fordismo, consumos personalizados, valorização do imaterial).

O capitalismo tecno-niilista, etiqueta com a qual Magatti designa o modelo atual, baseia-se justamente na insensatez de uma técnica onipotente que encontra uma multidão de subjetividades hiperestimuladas no seu hedonismo. "Vontade de p oder" e "desejo" são as duas faces desse niilismo que o sistema capitalista global produz para se alimentar: a crítica se transforma em mecanismo de reproposição; a libertação sexual e dos costumes, em consumismo personalizado; as instituições, em sistemas voltados a tornar as pessoas eficientes e eficazes; a ética da estética ("farei de minha vida uma obra de arte") substitiu a ética do dever.

Na análise de Magatti, a mudança cultural, sob forma de crítica, precedeu a mudança material e institucional. Se, por meio de um gigantesco efeito imprevisto, também o favoreceu, se até reforçou aquele capitalismo objeto da crítica do 68, isso se deveu à capacidade do sistema de dominar as instâncias de liberdade que haviam surgido precedentemente, por meio de um poderoso desenvolvimento da técnica (particularmente da comunicação).

Esse mundo, que como uma massa gosmenta parece quase absorver e abranger tudo, é só aparentemente um hegeli ano "fim da História": não tanto porque os modelos de subjetividade presente são um simulacro vazio que não permite a humanidade das pessoas. Mas sim porque o niilismo do capitalismo contemporâneo, com a sua centralidade exasperada do "princípio do prazer", não consegue se desfazer completamente do "princípio de realidade" em três frentes fundamentais da experiência humana: o sofrimento, a importância dos laços sociais, o desejo de reencontrar um sentido mais profundo por trás da vida das pessoas e o desenvolvimento das sociedades. Sobre esses três tópicos indomáveis do poder do sistema, é possível e obrigatório agir para reconstruir uma coletividade mais humanizada e com maiores oportunidades de emancipação.

Mostrando um extraordinário realismo que o aproxima da sensibilidade expressada por Alain Touraine nos seus últimos trabalhos, Mauro Magatti reconhece que o imaginário da liberdade, os percursos de autodeterminação c omo fundamento da subjetividade contemporânea e, portanto, a ruptura definitiva da ideia do século XVIII de "Sociedade" ordenada não são processos reversíveis. É preciso redefini-los, valorizando os elementos positivos que eles contêm: a partir dessa nova mudança cultural, será possível promover também uma mudança do sistema econômico e institucional, favorecendo assim novos percursos de autêntica emancipação subjetiva que reinvestem o sentido da técnica.

A fé na liberdade

Trata-se, portanto, de uma chave de leitura e de uma intervenção sobre a realidade "culturalista", coerente com a análise desenvolvida, que encontra as suas condições de aplicabilidade neste momento de crise, mas que, porém, não parece plenamente compartilhável: a centralidade do conflito e dos movimentos, a recíproca influência entre eles e a ação das classes dirigentes, dos partidos, é deixada totalmente de lado. Para Magatti, de fato, intelectual de primeira linha daquela cultura católica mais atenta às instâncias de justiça social, os atores da mudança não podem ser mais os habitantes da "sociedade político-partidária", com a sua dureza, rigidez e incorporação no sistema. São, pelo contrário, os pertencentes à "sociedade civil instituinte", isto é, "todos os sujeitos que pensam a sua própria liberdade em relação a outros".

A partir dessa dimensão, é possível esclarecer aquela que Magatti define como a "ação deponente", novo percurso de reproposta e redefinição de uma subjetividade centrada na liberdade. A ação deponente é, de fato, testemunho e momento de mudança ao mesmo tempo, gradual nos modos de construção e radical nos conteúdos. Essa modalidade de ação, coletiva e individual ao mesmo tempo, deve mostrar como uma liberdade mais humanizante é possível por meio de uma relançamento da responsabilidade, da generatividade, da socialidade e de um sentido mai s profundo a ser atribuído às próprias ações, por meio do fato de ter fé.

O empenho na construção de um mundo que não religue a segunda modernidade à epifania de uma técnica desumanizante se torna, portanto, o campo sobre o qual, defende Mauro Magatti, podem se encontrar, tanto hoje quando ontem, todas as culturas, laicas, católicas e socialistas, que colocam no seu centro a emancipação (global) das subjetividades sociais. Motivo suficiente para meditar longamente sobre o trabalho do estudioso de Milão.



Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28753


Veja ainda a postagem neste Blog: O Capitalismo tecno-niilista

domingo, 3 de janeiro de 2010

Planeta Advaita

Ramesh Balsekar


Contatos Imediatos do Grau Advaita (por Chris Parish)

O nihilismo eufórico de Ramesh Balsekar

"Imagine, se puder, que uma manhã você acorda em outro mundo. Esfrega seus olhos pra ficar acostumado à luz brilhante do sol, você vê que sob muitos aspectos não é um mundo muito diferente deste. Você está cercado por criaturas que, aos seus olhos, aparecem idênticas aos seres humanos com quem você normalmente compartilha o mundo. Você os observa em suas atividades diárias, vivendo suas vidas, empenhando-se em conversas com outros, fazendo escolhas inumeráveis e tomando as decisões inerentes às exigências da vida. O quadro parece tranqüilizante, familiar e normal.

Mas neste mundo, você logo descobre que as coisas não são necessariamente como parecem. Porque estes não são seres humanos. Não, estes são "organismos corpo/mente" que, diversamente de seus pares humanos, não tem a faculdade de escolher entre opções nem de tomar decisões. De fato, estes organismos não têm nada mesmo que se assemelhe ao que nós chamaríamos de livre arbítrio. As tramas de suas vidas foram escritas na pedra muito antes deles nascerem, deixando a eles somente a possibilidade de cumprir mecanicamente os atos para os quais foram programados. Estas criaturas aparentemente humanas, não são nada mais que máquinas. Enquanto aparentam comportar-se como indivíduos normais com liberdade de escolha , ativamente empenhados nas atividades diárias, estranhamente, quando perguntados, respondem que eles não fazem absolutamente nada. Aliás, neste mundo peculiar, eles dizem que não ha "aqueles que agem". Além do mais, ninguém neste mundo jamais é julgado responsável por algo. Mesmo quando um destes seres parece prejudicar outro, não há nenhum remorso, nenhum sentido de culpa é atribuído. Se perguntasse a um destes organismos corpo/mente sobre esse evento, a resposta seria que não havia ninguém que tinha feito algo. A ética é um conceito desconhecido aqui. As leis da natureza não parecem aplicar-se neste admirável novo mundo. Ou talvez tenham sido reescritas aqui, desde que parece que esses seres observam algumas leis estranhas. Você se pergunta em que lugar da terra poderia estar. Mas você não está na terra. Você aterrisou no Planeta Advaita.

Tinha vindo a Bombaim entrevistar Ramesh Balsekar, um dos mais conhecidos professores de Advaita Vedanta atualmente em vida. Vive no coração desta caótica e vasta cidade numa área exclusiva frente mar que, me informou meu motorista de táxi, é um bairro onde moram muitos VIPs. O porteiro do seu prédio, deduzindo automaticamente que, sendo um ocidental ,devo estar vindo ver Ramesh Balsekar, dirigiu-me a um andar superior, onde Balsekar tem uma residência espaçosa e bem decorada. Balsekar foi um anfitrião muito cortês, saudando-me calorosamente em seu imaculado traje indiano tradicional. Seu comportamento era brilhante e animado e foi difícil para mim acreditar que tinha oitenta anos de idade.

Ramesh Balsekar tem um background insólito para um guru indiano. Educado no ocidente, teve uma carreira muito bem sucedida como dirigente executivo, aposentando-se de seu cargo de presidente do banco da Índia quando tinha sessenta anos. E, apesar de declarar que ele sempre tem sido inclinado a acreditar no destino, foi somente depois que se aposentou que iniciou sua busca espiritual, uma busca que o levou rapidamente ao seu guru, o famoso mestre de Advaita Vedanta Sri Nisargadatta Maharaj. Nisargadatta era um professor impetuoso que se tornou famoso no ocidente nos anos 70 quando foi publicada uma tradução inglesa de seus diálogos, intitulada Eu Sou Aquilo. Um livro que se tornou um clássico espiritual moderno. Menos de um ano depois de encontrar Nisargadatta, Balsekar alcançou o que ele denominou de "a compreensão final" - a iluminação - enquanto traduzia para seu guru. Segundo conta Balsekar, Nisargadatta autorizou-o a ensinar logo antes de morrer e desde então ele tem compartilhado constantemente sua mensagem como sucessor desse Mestre muito respeitado. Balsekar publicou muitos livros sobre seus ensinamentos e ensinou na Europa, nos Estados Unidos e na Índia. Oferece satsang [encontros com um mestre espiritual ou, literalmente - do sanscrito - "Comunhão (sanga) com a Verdade (Satya)"] no seu apartamento cada manhã, e um fluxo constante de buscadores quase que exclusivamente ocidentais vai para Bombaim para vê-lo.

Inicialmente quisemos entrevistar Balsekar seja porque é um popular e influente professor de Advaita - agora ele autorizou tambem alguns de seus estudantes a ensinar - seja porque é considerado, por muitos, como o sucessor de um dos professores de Advaita mais reconhecidos da era moderna. Entretanto, estudando os escritos de Balsekar, nós logo compreendemos que ele ensina uma forma de Advaita insólita e possivelmente excêntrica, que poderia, a nosso franco parecer, induzir a conclusões discutíveis e até perturbadoras. Mesmo que o pensamento indiano tenha sido longamente criticado por suas inclinações determinísticas, parecia-nos que Balsekar tem levado este fatalismo a um extremo sem precedentes. Enfim, foi seja um desejo de explorar estas áreas inquietantes, quanto para aprofundar-me no interesse sobretudo dos ensinamentos do Advaita, que trouxe-me finalmente a Bombaim para conversar com ele. E enquanto cheguei imaginando um encontro diferente, olhando posteriormente, me é claro que, enquanto nos era oferecido um café e nos sentávamos confortavelmente em sua sala, não teria tido nenhuma possibilidade de me preparar para o dialogo que seria iniciado.

WIE : . Você está cada vez mais conhecido como professor do Advaita Vedanta seja na Índia que no ocidente. Pode descrever para nós o que é que ensina?

Ramesh Balsekar: Posso realmente resumi-lo numa só frase. A frase na qual meu ensinamento inteiro é baseado é: "Seja feita a tua vontade." Ou, como dizem os muçulmanos, "Inshallah " - A vontade de Deus." Ou, nas palavras do Buddha: "Eventos acontecem, ações são feitas, mas não tem nenhum individuo que age". Veja, o conflito básico na vida é: "eu sempre faço tudo direito então quero minha recompensa. Ele ou ela sempre fazem algo errado então deveriam ser punidos." Essa é a vida, não é assim?

WIE : Bem, certamente acontece muito.

RB : Essa é a base daquilo que eu observei. O problema inteiro surge porque alguém diz , "Eu fiz algo e portanto mereço uma recompensa, ou ele fez algo e portanto eu quero puni-lo pelo que ele fez."

WIE : Como leva as pessoas compreender isso - que não há aquele que age, que não ha fazedor?

RB : Isso é muito simples. Se voce analisar qualquer ação que você considera como sendo sua ação, você vai descobrir que é uma reação do cérebro a um evento externo sobre o qual você não tem nenhum controle. Um pensamento vem - você não tem nenhum controle sobre o pensamento que chega. Algo é visto ou é ouvido - você não tem nenhum controle sobre o que você verá ou ouvirá em seguida. Todos esses eventos acontecem sem seu controle. E então o que acontece? O cérebro reage ao que pensou ou à coisa que é vista, é ouvida, é provada, é cheirada ou é tocada. A reação do cérebro é o que você chama "sua ação." Mas, de fato, isto é meramente um conceito.

WIE : Qual é a diferença então entre pensamentos, sensações e ações de uma pessoa iluminada e de uma pessoa não iluminada ?

RB : Acontece a mesma coisa. A única diferença é que, no caso do sábio, ele entende que é isso que acontece. Portanto ele sabe que não há nada que ele esteja fazendo: as coisas simplesmente acontecem. O sábio sabe que "eu não faço nada". Mas o homem comum diz, "faço coisas ou fazem coisas. Portanto quero minha recompensa e quero que eles sejam punidos." A recompensa ou o castigo dependem da idéia que eu, ele ou ela fazemos coisas, de que somos agentes.

WIE : Posso entender através de minha própria experiência que nós não temos qualquer controle sobre qual pensamentos nem sentimentos que surgem. Mas às vezes a uma ação segue outra, às vezes não, e me parece que existe uma grande diferença entre quando um pensamento meramente surge e quando é empreendida uma ação que envolve uma outra pessoa.

RB : A ação que acontece é o resultado da reação do cérebro ao pensamento. Se se é simplesmente a testemunha do pensamento e o cérebro não reage aaquele pensamento, então não há nenhuma ação.

WIE : Mas se, como você diz, não há ninguém que decide como responder, então o que é que causa o manifestar-se de uma ação?

RB : Uma ação acontece se for vontade de Deus que aconteça. Se não está em sua vontade, a ação não acontece.

WIE : Quer dizer que cada ação acontece por vontade de Deus?

RB : Sim, é a vontade de Deus.

WIE : Que age através de uma pessoa?

RB : Sim, através de uma pessoa.

WIE : Que seja uma pessoa iluminada ou não? Através de cada um, em outras palavras?

RB : Exatamente. A única diferença, como disse, é que o homem comum pensa, "é minha ação" enquanto o sábio sabe que não é a ação de ninguém. O sábio sabe isso: "Ações são feitas, eventos acontecem, mas não há um individuo, não ha "aquele que age". Essa é a única diferença quanto a mim. A única diferença entre um sábio e uma pessoa comum é que a pessoa comum pensa que cada indivíduo faz aquilo que acontece através daquele organismo corpo/mente. Portanto, desde que o sábio sabe não há nenhuma ação que ele faz, se se produz uma ação que possa machucar alguém, então ele fará tudo que for possível para ajudar aquela pessoa, mas não haverá nenhum sentimento de culpa.

WIE : Quer dizer que, se um indivíduo age de maneira que possa ferir outro, então a pessoa que fez, ou, como você diz, o "organismo corpo/mente" que agiu, não é responsável?

RB : O que eu estou dizendo é que você sabe que "eu" não o fiz. Não digo que eu não lamente por ter machucado alguém. O fato de que alguém foi machucado produzirá um sentimento de compaixão e o sentimento de compaixão resultará em meu tentar fazer qualquer coisa que possa aliviar essa ferida. Mas não haverá nenhum sentimento de culpa: eu não o fiz! O outro lado da moeda é que, se acontecer uma ação que é elogiada pela sociedade e essa me oferecer uma recompensa por isso, eu não digo que não surgirá um sentimento de felicidade por causa da recompensa. Assim como surgiu a compaixão por causa do magoado, um sentimento de satisfação ou de felicidade pode surgir por causa de uma recompensa. Mas não haverá nenhum orgulho.

WIE : Mas você literalmente quer dizer que se vou e firo alguém, não sou eu a fazê-lo? Quero simplesmente ficar claro em relação a isso.

RB : O fato inicial, o conceito original ainda resta: você feriu alguém. Surge o conceito adicional que o que acontece é a vontade de Deus, e a vontade de Deus respeito a cada organismo corpo/mente é o destino daquele organismo corpo/mente.

WIE : Então eu poderia somente dizer, "Bem, agi pela vontade de Deus; não tenho culpa" ?

RB : Certamente. Um ato acontece porque é o destino deste organismo corpo/mente e porque é a vontade de Deus. E as conseqüências daquela ação são também o destino daquele organismo corpo/mente. Se uma boa ação acontece, isso é o destino. Por exemplo, nós tivemos um Madre Teresa. O organismo corpo/mente conhecido como "Madre Teresa" era programado de modo que acontecessem somente boas ações. Então o acontecimento das boas ações era o destino do organismo corpo/mente chamado Madre Teresa. E as conseqüências foram: um Prêmio Nobel, recompensas, prêmios, e doações para as várias causas. Tudo isso era o destino daquele organismo corpo/mente chamado Madre Teresa. Por outro lado há um organismo psicopata que é programado de tal maneira - pela mesma fonte - que somente aconteçam ações perversas e maldosas. A manifestação dessas ações maldosas e perversas são o destino de um organismo corpo/mente que a sociedade chama de psicopata. Mas o psicopata não escolheu ser psicopata. Aliás não há nenhum psicopata; há só um organismo corpo/mente psicopático, cujo destino é produzir ações maldosas e pervertidas. E as conseqüências dessas ações são também o destino daquele organismo corpo/mente.

WIE : Você acha que tudo seja predestinado? Que tudo seja pré-programado desde o nascimento?

RB : Uso a palavra "programar" em referencia às características inerentes ao organismo corpo/mente. A "programação" para mim significa os gens mais os condicionamentos ambientais. Você não pude escolher seus pais, portanto você não teve escolha quanto aos seus genes. Do mesmo modo, você não teve escolha quanto ao ambiente onde você nasceu. Portanto você não teve nenhuma escolha sobre os condicionamentos da infância que você recebeu naquele ambiente, que inclui o condicionamento em casa, na sociedade, escola e a igreja. Os psicólogos dizem que o condicionando total que você recebeu até a idade de três ou quatro anos é seu condicionamento básico. Haverá mais condicionamentos, mas o condicionamento básico que cria a personalidade é a soma dos genes mais o condicionamento ambiental. Chamo isso de programação. Cada organismo corpo/mente é programado de maneira única. Não há dois organismos corpo/mente iguais.

WIE : Sim, mas não é verdade que duas pessoas podem ter bases muito semelhantes de condicionamento e, mesmo assim, serem completamente diferentes uma da outra?

RB : Claro. Essa é a razão pela qual eu uso dois termos: um é a programação do organismo corpo/mente, o outro é o destino. O destino é a vontade de Deus em relação aauele organismo corpo/mente, imprimido no momento de concebimento. O destino de um concebido poderia ser o de não nascer absolutamente, nesse caso ele será abortado. Isto tudo é um conceito, não se engane. Isto é meu conceito.

WIE : Você afirma que isto é um conceito e, certamente, todas as palavras são conceitos, mas como sabemos que este conceito é a verdade? Tendo a pensar que todo mundo tem responsabilidades indivíduais e que, embora haja uma certa quantidade de condicionamentos que nós herdamos, nós ainda podemos escolher como respondemos. Um indivíduo pode transcender os aspectos de seu condicionamento, enquanto outro pode ficar preso a eles durante toda sua vida. Desde que isto ocorra, diria que é devido à vontade individual transcender seus condicionamentos e prosperar.

RB : Mas se isso acontecer, pode acontecer a menos que seja a vontade de Deus? Vamos supor que haja duas pessoas: uma tenta superar seus limites e consegue, a outra não consegue. O que eu entendo é que seja aquela que prospera, seja aquela que fracassa, cada uma o faz porque isso é o destino de cada organismo corpo/mente - que é a vontade de Deus.

WIE : Mas não poderíamos simplesmente dizer que é a vontade de Deus dar a cada individuo a livre escolha de tomar suas próprias decisões?

RB : Não. Veja. A minha pergunta a você é: Qual das duas vontades prevalece? Aquela do indivíduo ou aquela de Deus? Pela sua própria experiência, até que ponto seu livre arbítrio prevaleceu?

WIE : Bem, acho que, às vezes, a vontade do individuo poderá certamente prevalecer.

RB : Em relação a vontade de Deus? Quando você quer algo e você trabalha para isso e isso acontece, acontece porque sua vontade coincidia com a vontade de Deus.

WIE: Vamos fazer o exemplo de um indivíduo que se torna um viciado durante toda sua vida. Alguém poderia argumentar que ele escolheu ir contra a vontade de Deus e conseguiu exatamente porque tinha o livre arbítrio.

RB : Mas seja que você aceite ou não, essa é a vontade de Deus, você não vê? Que você aceite a vontade de Deus ou você não aceite a vontade de Deus, isso tambem é a vontade de Deus!

WIE : Eu diria - não necessariamente.

RB : Sei, você quer fazer o advogado do diabo.

WIE : Bem, não, tento chegar a perceber qual é a verdade.

RB : Mas o que é verdade? Eu já disse que qualquer coisa que eu diga é um conceito.

WIE : Sim, eu entendo, mas nem todos os conceitos são iguais. Alguns afirmam algo que é verdadeiro e outros não.

RB : Todos os conceitos tentam apontar para algo, mas ainda assim são todos conceitos. A pergunta real seria, "o que é a verdade que não é um conceito?"

WIE : Afirmar que tudo é programado antecipadamente, que é tudo destino e que não há livre arbítrio parece-me como uma forma muito extrema de reducionismo. De acordo com esta visão, os seres humanos são como computadores; tudo que nos concerne já está pré-determinado.

RB : Sim, exatamente.

WIE : Mas essa me parece ser uma visão sem coração. Então somos somente máquinas, tudo nós acontece. Não há nada que nós pssamos fazer, nada que nós possamos mudar.

RB : Sim, precisamente.

WIE : Mas isso pode levar facilmente a uma indiferença profunda em relação a vida.

RB : Sim, e se isso acontecesse, então seria maravilhoso!

WIE : Realmente?

RB : Mas esse é o ponto! Claro. Então pode dizer que qualquer coisa que aconteça é aceita. Então não há nenhuma infelicidade, não há nenhuma miséria, nenhuma culpa, nenhum orgulho, nenhum ódio, nenhuma inveja. O que ha de errado nisso? E, como já disse, as ações acontecem através desse organismo corpo/mente e, se esse individuo descobre que uma atitude feriu alguém, nasce a compaixão. Como a compaixão poderia surgir se não houvesse nenhum coração?

WIE : Mas não parece um pouco estranho ferir alguém e depois sentir compaixão? Não seria melhor, em primeiro lugar, não machucá-lo?

RB : Mas não está sob seu controle! Se assim fosse, em primeiro lugar, você nunca o teria feito.

WIE : Mas se alguém acredita poder exercitar o controle, se opondo à crença que afirma o contrario, poderia escolher fazê-lo.

RB : Então por que o ser humano não exercita o controle em cada ação que acontece? Deixe-me fazer uma pergunta. E' evidente que o ser humano possui um intelecto extraordinário, tanto que um pequeno ser humano foi capaz de enviar um homem à lua.

WIE : Sim, isso é verdade.

RB : E ele também tem o intelecto pra saber que se faz certas coisas, coisas terríveis acontecerão. Tem o intelecto para saber que se produz armamentos nucleares ou armas químicas, então as pessoas as usarão e coisas terríveis acontecerão ao mundo. Tem o intelecto - portanto se tiver livre arbítrio, então por que o faz? Se possui o livre arbítrio, por que reduziu o mundo a essa condição?

WIE : Admito, a situação que você descreve é obviamente demente. Mas diria que é devido ao fato que as pessoas são indolentes. E acredito que as pessoas podem mudar se queserem.

RB : Então por que elas não o fizeram?

WIE : Algumas pessoas mudam, mas, como disse, infelizmente parece que a maioria das pessoas é muito indolente.

RB : Significa eles não têm nenhum livre arbítrio!

WIE: Tendo somente o livre arbítrio não nos assegura que agiremos inteligentemente. Como no exemplo que você acaba de dar, está claro que as pessoas freqüentemente escolhem fazer coisas que são bastante prejudiciais.

RB : Qdizer temos o livre arbítrio para destruir o mundo? Se dizem que temos o livre arbítrio para destruir o mundo, em outras palavras, significa que destruímos o mundo porque queremos fazê-lo - sabendo muito bem que o mundo será destruído! Livre arbítrio significa que quer fazê-lo.

WIE : Penso que o problema deve-se mais ao fato que as pessoas normalmente não assumem as conseqüências de suas ações. Elas freqüentemente pensam somente em si mesmas, sem considerar onde suas ações podem levá-las.

RB : Mas o ser humano é extremamente inteligente. Por que eles não pensam nesses termos que você propõe? Minha resposta é - porque não é previsto que eles o façam!

WIE : Quando você diz que "não é previsto que eles o façam" o que quer dizer?

RB : Não é a vontade de Deus que os seres humanos pensem dessa maneira. Não é a vontade de Deus que o ser humano seja perfeito. A diferença entre o sábio e a pessoa comum é que a sábio aceita o que é enquanto vontade de Deus mas, e isto é importante, isto não o impede de fazer o que ele pensa deva ser feito. E o que ele pensa que ele deva fazer é baseado na programação.

WIE : Mas porque o sábio faria "o que ele pensa deva ser feito" se, como você já explicou, sabe que, em primeiro lugar, não é ele que pensa?

RB : Quer dizer, como a ação acontece? A resposta é que a energia dentro deste organismo corpo/mente produz a ação de acordo com a programação.

WIE : Então a ação, como você a descreve, acontece somente através da pessoa.

RB : Sim, flui. A ação acontece. Portanto esse é o ponto daquilo que eu digo - voltando novamente as palavras do Buda "Eventos acontecem, ações são feitas."

WIE : Pelo que eu conheço sobre o pensamento do Buda, ele também sentia fortemente que os indivíduos eram pessoalmente responsáveis por suas ações. Não é essa a base do seu inteiro ensinamento sobre o carma, a lei de causa e efeito?

RB : Não o Buda!

WIE : É minha impressão que o Buda ensinou bastante sobre a "ação correta." Parece que ele prezava muito aquilo que as pessoas faziam e punha muita ênfase no fato de que as pessoas tinham que fazer um grande esforço para mudar.

RB : Isso é uma interpretação subseqüente do Budismo. As palavras do Buda são muito claras. Quem tem o controle sobre aquilo que acontece? Deus tem o controle! Isso, como vimos, é a base de cada religião. E', mas porque existem as guerras religiosas se isso está na base de cada religião? São os intérpretes que causam estas guerras! E como é que isso poderia acontecer se não fosse a vontade de Deus?

WIE : E' claro que você acredita que tudo que nós fazemos é porque é a vontade de Deus que nós o façamos. Mas me parece que isso só faria realmente sentido no caso de um indivíduo que chegou ao fim do caminho espiritual - que tenha acabado com o ego - porque as ações dessa pessoa não estão a serviço de si mesma e, portanto, não surgiria nenhuma deformação com a vontade de Deus. Mas até esse ponto, se um indivíduo age incorretamente em relação a outro, bem poderia ser somente uma reação compulsiva porque a pessoa sente-se egoísta. Se este é o caso, então o que você diz poderia realmente ser usado como uma justificativa para um comportamento desagradável ou agressivo. Você acaba de dizer, "é tudo a vontade de Deus. Não tem importância!"

RB : Sei, mas isso é a verdade. Sua pergunta real é, "por que Deus criou o mundo como é?" Mas veja, um ser humano é somente um objeto criado que é parte da totalidade da manifestação que veio da Fonte. Portanto minha resposta é: "um objeto criado jamais poderia conhecer seu criador!" Deixe-me trazer uma metáfora. Vamos imaginar que você pinte um quadro, e nesse quadro você pinta uma figura. Então aquela figura quer saber primeiro, por que você, como um pintor pintou esse quadro particular, e segundo, por que você pintou aquela figura de modo tão feio! Veja, como pode um objeto criado jamais conhecer a vontade do próprio criador? Meu ponto de vista é que, embora seja assim, isso não o impede de fazer o que você pensa que você deva fazer! Aceitar que nada acontece a menos que seja a vontade de Deus isso não impede a qualquer pessoa de fazer o que ela pensa que ele deva fazer. Poderia ser de outra forma?

WIE : Mas baseado nesta linha de raciocínio, como disse antes, seria bastante fácil concluir que, "Ok, tudo é a vontade de Deus, não importa o que acontece!".

RB : Quer dizer, "Então por que deveria fazer qualquer coisa em vez de ficar na cama o dia inteiro?"

WIE : Sim, por que continuar a fazer qualquer esforço?

RB : A resposta é que a energia dentro deste organismo corpo/mente não permitirá a este organismo corpo/mente permanecer inativo nem mesmo por um momento. A energia continuará a produzir alguma ação, física ou mental, a cada instante, de acordo com a programação do organismo corpo/mente e o destino do organismo corpo/mente, que é a vontade de Deus. Mas isso não impede a você, que ainda pensa que é um indivíduo, de fazer o que você pensa que você deve fazer. Portanto, o que de fato eu digo é, "Aquilo que você pensa você deve fazer em qualquer situação em qualquer momento particular é precisamente aquilo que Deus quer que você pense que você deve fazer!" Definitivamente , aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer o que você pensa que você deve fazer. Vê? Aliás, você não pode fazer nada mais que fazê-lo!

WIE : De acordo com sua maneira de ver o mundo, isso soa como se, tudo que quer que nós consideremos como sendo nossa escolha, nossa própria vontade e responsabilidade, foi transferida do indivíduo para Deus ou a Consciência. E' isso o que você diz?

RB : Quando você pensa que é você que faz , o que acontece? Ha culpa, orgulho, ódio e inveja. Mas isso ainda não impede ao que acontece de continuar a acontecer. Mas quando você pensa que você não faz , então não há nenhuma culpa, nenhum orgulho, nenhum ódio, nenhuma inveja! A vida torna-se mais pacífica.

WIE : Leio algo num folheto escrito por vários de seus estudantes que parece relevante a esse propósito. Diz: "Aquilo que você gosta só pode ser porque é a vontade de Deus que você goste. Nada pode acontecer a menos que seja Sua vontade.."

RB : Sim, é isso.

WIE : O folheto também diz: "Não se sinta culpado mesmo que um adultério aconteça. Você, a Fonte, é sempre pura."

RB : Isso é Ramana Maharshi quem disse.

WIE : Meu ponto é que a Fonte pode ser sempre pura, mas novamente, parece-me que isso poderia facilmente ser tomado como uma desculpa para agir sem consciência.Você poderia dizer, "não importa se cometo adultério, não importa se machuco meus amigos porque é simplesmente uma ação que acontece". Poderia facilmente ser tomada como uma permissão para agir segundo meu desejo, só porque me aconteceu de ter aquele desejo.


RB : Mas não é isso que acontece?

WIE : Acontece, certamente, mas. . .

RB : Quer dizer que aconteceria mais freqüentemente?

WIE : Com facilidade, poderia acontecer mais. Eu poderia dizer, "Hei, não importa o que eu faça agora. Eu não devo conter-me se sinto um desejo." E' claro o que eu quero dizer?

RB : A pergunta, normalmente formulada seria essa: "Se eu realmente não faço nada, o que me impede de pegar uma metralhadora e sair por aí e matar vinte pessoas?" E' isto que você pergunta, não?

WIE : Bem, isso é um exemplo extremo.

RB : Sim, vamos pegar um exemplo extremo!

WIE : Mas eu acho que seria mais interessante considerar o exemplo do adultério, porque muita gente realmente não faria algo tão extremo como sair por aí de metralhadora para derrubar outras pessoas.

RB : Bem. É a mesma coisa quando conversamos sobre cometer adultério. Leio que os psicólogos e biólogos, baseados em suas pesquisas, chegaram à conclusão que se você trair sua esposa, você não deve se culpar.

WIE : Bem, eu não creio que essa seja a opinião de toda a comunidade cientifica.

RB : O que eu digo é isso, cada vez mais os cientistas estão chegando à conclusão que os místicos sempre sustentaram - de que qualquer ação que aconteça, podemos sempre buscar o motivo na programação.

WIE : Me dou conta de que, em alguns casos, isto pode ser verdade, mas deixe-me dizer, por exemplo, que eu tenha o desejo cometer adultério. Posso dizer, "deve ser a vontade de Deus que eu faça isto e então seguirei adiante" ou, posso conter-me e não causar tanto sofrimento para meus amigos. Não seria melhor se eu me contivesse?

RB : Então o que é que o impede de se conter? Faça como quiser! O que o impede de conter-se? Contenha-se!

WIE : Meu ponto de vista é que é melhor fazer assim!

RB : Também é o meu.

WIE : Mas de acordo com sua visão, assim eu poderia facilmente dizer, "se eu sinto esse desejo deve ser porque é a vontade de Deus," e então não me contenho.

RB : Você afirma que você sabe que deveria se conter então por que você não se contém? Se um organismo corpo/mente não é programado para trair sua esposa, então qualquer coisa que digam os outros, ele não o fará. Se você for programado de maneira que você não levantará sua mão contra ninguém, você começará a matar as pessoas? Agora se existisse uma lei permitindo que você bata em sua esposa sem que você corra nenhum risco, você começaria a surrar sua esposa? Não, a menos que o organismo corpo/mente seja programado para fazer isso, e se é programado para fazer isso, o fará de qualquer jeito. Então como disse, aceitar a vontade de Deus não vai impedi-lo de fazer qualquer coisa que você pense que você deva fazer. Faça-a! Faça exatamente aquilo que você acha que deva ser feito!

WIE : Todavia, no final, como podemos dizer que sabemos que é destino ou a vontade de Deus? Tudo que nós sabemos é que certos eventos se manifestam. Em seguida, podemos rever algo que fizemos e admitir, "Aconteceu, simplesmente" e se gostamos, podemos chamá-lo de destino. Mas não é mais exato dizer que nós realmente não sabemos se é destino ou não?

RB : Esse é o ponto. Nós não sabemos.

WIE : Mas dizer que não sabemos é diferente de dizer "sabemos que é a vontade de Deus". É diferente de dizer "sabemos que tudo é predestinado". Veja, me parece que você quer afirmar que você sabe que tudo é a vontade de Deus.

RB : Nós não sabemos, e isto é um fato; então se você quiser você pode jogar fora o conceito de destino e dizer que ninguém realmente pode saber alguma coisa sobre nada. Ótimo! Não ha nenhuma necessidade de manter o conceito de destino. Afinal de contas, se se aceita que o que acontece não está em seu controle, então quem estaria preocupado com o destino?

WIE : Já que muitos buscadores espirituais vêm a você para receber algum conselho sobre o caminho espiritual, eu gostaria de saber que valor, se é que tem algum valor, você dá ao caminho espiritual como instrumento em direção à Iluminação.

RB : Se a sadhana [a prática espiritual] é necessária, um organismo corpo/mente é programado para seguir uma sadhana.

WIE : Em outras palavras, se tem que acontecer, acontece?

RB : Isso mesmo. As pessoas às vezes me perguntam, "Se nada está nas nossas mãos, deveríamos meditar ou não?" Minha resposta é muito simples. Se vocês gostam de meditar, meditem; se vocês não gostam de meditar, não se forcem a meditar.

WIE : A busca espiritual então é um obstáculo para Iluminação?

RB : Sim, buscar é o maior obstáculo por causa da presença do buscador. O buscador é o obstáculo - não a busca; a busca acontece por si mesma. A busca acontece porque o organismo corpo/mente é programado para buscar. Se a busca da iluminação acontece, então o organismo corpo/mente foi programado para buscar. O obstáculo é o buscador que diz, "quero a Iluminação."

WIE : Então porque tantos sábios falaram sobre a importância da busca? Ramana Maharshi disse que o buscador tem que querer a Iluminação com a mesma intensidade que um homem que esteja afogando-se quer o ar, com o mesmo grau de concentração e sinceridade.

RB : Certamente. Portanto isso quer dizer que tem que ter esse tipo de intensidade na busca. Mas ele também disse, "Se você quer fazer um esforço, você deve fazer um esforço; mas se o esforço não é destinado a acontecer, o esforço não será feito." E' isso que Ramana Maharshi disse. Então veja, se alguém busca ou não busca não está em seu controle. Se a busca por Deus ou a busca pelo dinheiro acontece, não é nem seu mérito nem sua culpa.

WIE : Num de seus livros você afirmou que alguém realmente alcançou uma certa profundidade de entendimento quando pode dizer, "eu não estou nem aí se a Iluminação acontece ou não neste organismo corpo/mente."

RB : E' verdade. Quando alcança esse estagio, então significa que o buscador não está mais aí. Está extremamente perto da Iluminação porque se não há ninguém que se interesse, então não há mais nenhum buscador.

WIE : Mas o resultado não pode ser uma indiferença extraordinariamente profunda que não é Iluminação?

RB : Isso poderia levar a Iluminação!

WIE : Tenho mais uma pergunta. Você freqüentemente diz que nós deveríamos "somente aceitar o que é".

RB : Sim, se é possível para você fazer isto - e isto não está em seu controle!


EPÍLOGO


Enquanto passei meio zonzo pelo porteiro e saia nas ruas tumultuadas de Bombaim minha mente vacilava. Como poderia ser, perguntei-me enquanto abria caminho no meio da multidão, que um homem educado e inteligente como Ramesh Balsekar pudesse realmente acreditar que tudo seja predestinado, que antes de ter nascido, nosso destino já estava gravado numa espécie de granito etéreo? Poderia ele ser realmente sério em sua insistência de que nossa vida inteira, com seu fluxo aparentemente interminável de escolhas e decisões e oportunidades para sistematizar o próprio curso para melhor ou para pior, seja realmente, desde o primeiro respiro, um destino? Enquanto atravessava a calçada em busca de um café onde encontrar um refugio do caos, os pontos difíceis de nosso breve diálogo iam passando em minha cabeça. Sim, "Assim seja" é a essência da maioria das religiões, pensei comigo, mas para os grandes místicos e sábios que fizeram tais declarações por toda a história, a rendição à vontade de Deus tem um significado muito maior do que simplesmente aceitar que não há nada que ninguém possa fazer para influenciar as circunstâncias da vida. Certamente aquilo que tradicionalmente se referia "a vontade Deus" é algo que alguém descobre quando o ego foi absolutamente abandonado, quando todas as motivações egoísticas foram todas queimadas, deixando-o completamente rendido para cumprir a vontade de Deus, qualquer ela seja! Para um Jesus ou um Ramakrishna ou um Ramana Maharshi dizer que se rendeu à vontade de Deus é um fato. Mas dizer que isto é verdade para todo o mundo, naquele momento, pareceu-me refletir uma forma perigosa e particular de loucura que poderia ser usada para justificar as mais extremas formas de comportamento. A declaração de Balsekar, "O que você acha que você deve fazer em qualquer situação. . . é precisamente aquilo que Deus quer que você ache que deva fazer," significa que para ele o Buda Iluminado não está fazendo em medida maior a vontade de Deus que o assassino em série que ataca sua próxima vítima.Tinha vindo a entrevista esperando que houvesse algum desacordo, mas de qualquer forma até os livros de Balsekar, nos quais todas essas idéias são claramente e repetidamente expressadas, não me tinham preparado para meu encontro com o homem. Como tinham lhe surgido essas idéias? Perguntei-me. E por que? Meus pensamentos rodavam e rodavam, lembrando-me de sua arrepiante afirmação de que, mesmo quando machucamos alguém, não precisamos sentirmo-nos culpados, pois nós não somos responsáveis por nossas ações - que mesmo "Hitler foi meramente um instrumento através o qual os acontecimentos horríveis que tinham que acontecer aconteceram" sua afirmação, desafiando todo bom senso, que nós não temos nenhum poder de controlar nosso comportamento ou até de influenciar o dos outros. E tudo isto no contexto de sua descrição fantástica de todos nós como "organismos corpo/mente exercitando nossa "programação". De repente a visão bem-vinda de uma loja de chá apareceu através da névoa e enquanto conseguia um espaço para entrar, senti alivio ao achar aquele tipo de oásis tranqüilo que tinha esperado encontrar. Foi aí, numa das muitas mesas vazias, enquanto o primeiro gole de chá ao leite de sabor adocicado passava pelos meus lábios que num flash, minha ficha caiu. Eu não estava bebendo aquele chá! Eu não estava sentado naquela mesa! De fato, eu não era aquele que tinha entrado na loja de chá. E eu não era aquele que acabava de se atormentar durante uma hora numa conversa com um homem que naquele momento começava a parecer como um indivíduo são. Aliás, eu nunca tinha feito alguma coisa. Era como se um peso que eu tinha carregado durante minha vida inteira de repente fosse levantado no céu graças a um balão de ar quente, e levado para longe, para nunca mais voltar novamente. Todos aqueles anos eu tinha lutado para virar um ser humano melhor, mais generoso mais honesto - todo aquele esforço que eu tinha feito para renunciar a minhas inclinações de superioridade, egoísmo e agressividade - foram todos uma louca empreitada, todos estupidamente e sem necessidade, baseados na idéia importante de que eu tinha algum controle sobre meu destino e a mesquinha presunção de que aquilo que eu fazia pudesse importar aos "outros". Como podia ter me desviado tanto? Mas espera , não era sequer eu quem se tinha desviado! Como se as nuvens se abrissem, de relance agora eu vejo claramente que aquilo que eu tinha pensado como "a minha vida" tinha sido na verdade somente um processo mecânico. A pessoa que eu pensava ser sempre tinha sido somente uma máquina. E o mundo em que eu pensei que eu tinha vivido não era, como tinha suposto, um mundo de complexidade humana, mas um mundo de simplicidade mecanicista, de ordem perfeita, um matemático desenrolar de programas em movimento desde o começo do tempo. Como a perfeição clínica do plano científico de Deus começou a abrir-se perante mim, a emoção extática da liberdade absoluta - da preocupação, do cuidado, da obrigação, da culpa - começou a fluir pelas minhas veias como uma torrente sem margens. E com isso veio uma paz envolvente e retumbante, uma cessação absoluta de tensão, no reconhecimento de que nenhuma ambigüidade aparente ou incerteza eu poderia encontrar daí pra frente, não importa quais decisões aparentemente difíceis poderia encontrar, eu poderia sempre descansar na certeza de que qualquer escolha que eu fizer era exatamente a escolha que Deus queria que eu fizesse. A sensação misteriosa de um desconhecido que tinha me arrastado por tanto tempo tinha evaporado. Os outros no café viraram suas cabeças enquanto eu ria alto, uma risada longa, de barriga, e fiquei pensando comigo mesmo que jogo fantástico seria a vida se todo o mundo entendesse como ela realmente funciona, se todo o mundo pudesse pelo menos ter um vislumbre de como poderíamos ser livres se todos vivêssemos no Planeta Advaita."


Extraído do excelente Blog Editora Advaita

sábado, 2 de janeiro de 2010

Você não é o corpo, nem a mente



Pergunta

Se eu sou livre, porque estou em um corpo?

Maharaj:

Voce não está no corpo, o corpo está em você! A mente está em você. Acontecem a você. Existem porque os acha interessantes. A sua própria natureza tem a capacidade infinita de desfrutar. Está cheia de animação e afeto. Ela derrama seu brilho em tudo o que entra no seu foco de consciência, e não exclui nada. Não conhece nem o mal nem a feiúra; ela espera, confia, ama. Você não sabe quanto perde por não conhecer seu próprio ser real. Você não é nem o corpo nem a mente, nem o combustível nem o fogo. Eles aparecem e desaparecem segundo suas próprias leis.

Você ama o próprio ser, isso que você é, e tudo o que faz o faz pela sua própria felicidade. O seu impulso básico é encontrá-lo, conhecê-lo, apreciá-lo. Você ama a si mesmo desde tempo imemorial, mas nunca sabiamente. Use o corpo e a mente sabiamente ao serviço do ser, isso é tudo. Seja fiel a seu próprio ser e o ame absolutamente. Não finja amar os demais como a si mesmo. A menos que os compreenda como um consigo mesmo, não poderá amá-los. Não finja ser o que não é, não recuse ser o que você é. O amor aos demais é o resultado do autoconhecimento, não sua causa. Nenhuma virtude é genuína sem a autorrealização. Quando souber, sem qualquer dúvida, que a mesma vida flui através de tudo o que existe, e que você é esta vida, você amará tudo, natural e espontaneamente. Quando compreender a profundidade e a plenitude do amor a si mesmo, saberá que cada ser vivo e o universo inteiro estão incluídos em seu afeto. Mas, quando você olhar para qualquer coisa como separada de você, não poderá amá-la porque a teme. A alienação causa o medo e o medo aumenta a alienação. É um círculo vicioso. Apenas a autorrealização poderá rompê-lo. Busque-a resolutamente.


(Do livro: "Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj", Editora Advaita)