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sábado, 5 de março de 2011

Auto-inquirição



Ramana Maharshi

Discípulo – Como uma pessoa realiza o Eu superior?

Maharshi – O Eu superior de quem? Descubra.

D – O meu, mas quem sou eu?

M – Descubra você mesmo.

D – Não sei como.

M – Pense a respeito. Quem é que diz “Não sei”? Quem é o “eu” na sua afirmação? O que não é sabido?

D – Alguém ou algo em mim.

M – Quem é esse alguém? Em quem?

D – Talvez alguma força.

M – Descubra.

D – Por que eu nasci?

M – Quem nasceu? A resposta é a mesma para todas as suas perguntas.

D – Então, quem sou eu?

M – (Sorrindo) Você veio para me interrogar? Você é que tem de dizer quem é você.

D – Não importa o quanto tente, sinto que não capto quem é o “eu”. Ele nem sequer é perceptível.

M – Quem é que afirma que o “Eu” não é perceptível? Existem dois “eus” em você, sendo que um não percebe o outro?

D – Em vez de indagar “Quem sou eu?”, posso formular a pergunta “Quem é o senhor?” para mim, pois assim a minha mente poderá fixar-se no senhor, que eu considero ser Deus na forma de um Guru. Talvez eu fique mais próximo do objetivo da minha busca através dessa inquirição do que perguntando-me “Quem sou eu?”.

M – Não importa que forma assuma a sua inquirição, você acabará chegando ao único “Eu”, o Eu superior. Todas estas distinções entre “eu” e “você”, entre Mestre e discípulo, etc., são apenas um sinal de desconhecimento. O “Eu” supremo apenas é. Pensar de outro modo é o mesmo que iludir-se.

Uma história dos Puranas sobre o Sábio Ribhu e seu discípulo Nidagha é particularmente instrutiva a este respeito.

Embora Ribhu tenha ensinado a seu discípulo a Verdade suprema do Brahman¹ único sem segundo, Nidagha, não obstante sua erudição e compreensão, não se convenceu o suficiente a ponto de adotar e seguir o caminho de jnana², mas estabeleceu-se em sua cidade natal a fim de levar uma vida devotada à observância da religião cerimonial.

Contudo, o Sábio amava seu discípulo tão profundamente quanto este venerava seu Mestre. A despeito de sua idade, Ribhu foi em pessoa ao encontro do discípulo na cidade, apenas para ver se este último superara o ritualismo. Às vezes, o Sábio disfarçava-se, para observar como Nidagha agia quando sabia que não estava sendo observado pelo Mestre.

Disfarçado de camponês, Ribhu encontrou Nidagha observando atentamente uma procissão real. Não tendo sido reconhecido pelo morador da cidade Nidagha, o camponês indagou sobre aquele alvoroço, e disseram-lhe que o rei participava de um cortejo.

“Oh! É o rei. Ele está participando de um cortejo.” “Mas onde está ele?”, indagou o camponês.

“Lá, montado no elefante”, disse Nidagha.

“Você diz que o rei está montado no elefante. Sim, vejo os dois”, redargüiu o camponês. “Mas quem é o rei e quem é o elefante?”

“O quê!”, exclamou Nidagha. “Você vê os dois e não sabe que o homem, que está em cima, é o rei e que o animal, que está embaixo, é o elefante? De que vale falar a um homem como você?”

“Rogo-lhe que não seja impaciente com um homem ignorante como eu”, implorou o camponês. “Mas você disse ‘em cima’ e ‘embaixo’ – o que significam essas expressões?”

Nidagha não se conteve mais. “Você vê o rei e o elefante, um em cima e outro embaixo. Entretanto, quer saber o que significa ‘em cima’ e ‘embaixo’?”, explodiu Nidagha. “Se as coisas vistas e as palavras ditas significam tão pouco para você, só a ação pode ensiná-lo. Curve-se e saberá muito bem.”

O camponês fez o que lhe fora ordenado. Nidagha subiu em seus ombros e disse: “Agora você sabe. Eu estou em cima, como o rei, você está embaixo, como o elefante. Está claro?”

“Não, ainda não”, foi a resposta tranqüila do camponês. “Você diz que está em cima como o rei, e eu, embaixo como o elefante. O ‘rei’, o ‘elefante’, ‘em cima’, ‘embaixo’, até aí está claro. Mas peço-lhe que explique: o que quer dizer com ‘Eu’ e ‘você’?”

Quando Nidagha subitamente viu-se diante do profundo problema de definir o “você” separado do “eu”, sua mente clareou. Saltou imediatamente das costas do camponês e caiu a seus pés, dizendo:

“Quem mais senão meu venerável Mestre, Ribhu, poderia iluminar assim minha mente, retirando-a da superficialidade da existência física e trazendo-me o verdadeiro Ser do Eu superior? Oh, bom Mestre, imploro a sua bênção.”

Portanto, enquanto seu objetivo consiste em transcender aqui e agora as superficialidades da existência física por meio de atma-vichara³, onde está o espaço para distinguir entre “mim” e “você”, se elas pertencem apenas ao corpo? Quando você volta sua mente para o interior, buscando a Fonte do pensamento, onde está o “você” e onde o “eu”?

Você deve buscar e ser o Eu superior que tudo inclui.

¹ Brahman: o Eu superior Universal
² jnana: conhecimento
³ atma-vichara: inquirição do Eu superior

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quem sou eu ?

Baghavan Sri Ramana Maharshi

Opensamento-eu é a fonte de todos os pensamentos.


A mente só vai se dissolver através da autoinvestigação "Quem sou eu?". O pensamento "Quem sou eu?" destruirá todos os outros pensamentos e depois destruirá a si mesmo também. Se outros pensamentos surgirem, devemos perguntar a quem esses pensamentos ocorrem, sem tentar completá-los. Que importa quantos pensamentos surgem? Na medida em que cada pensamento surgir, devemos estar vigilantes e perguntar para quem ele ocorre. A resposta será "para mim".
Se você perguntar "quem sou eu?", a mente então voltará à sua Fonte (de onde surgiu). O pensamento que surgiu também desaparecerá. À medida que você praticar dessa forma mais e mais, o poder da mente de permanecer em sua Fonte aumentará.
Alimentando-se com uma quantidade moderada de comida sãttvika (pura) - o que é superior a qualquer outra regra e regulação de autodisciplina - a qualidade sãttvika ou pura da mente crescerá e isso ajudará a autoinquirição.
Embora os apegos sensoriais, antigos e imemoriais, possam surgir sob forma de incontáveis vãsanãs (tendências mentais), assim como as ondas surgem no mar, todos eles serão destruídos na medida em que a meditação (dhyãna) avançar. Devemos nos agarrar sem cessar à meditação do Ser, sem duvidar da possibilidade de erradicar todas essas vãsanãs e de só o Ser permanecer. Por mais pecadora que uma pessoa possa ser, se ela parar de se lamentar "Ai de mim que sou um pecador! Como posso eu alcançar a libertação?" e, abandonando até mesmo o pensamento de que é pecadora, se dedicar zelosamente à autoinquirição, ela com certeza realizará o Ser (Atman).
Se o ego estiver presente, tudo o mais também existirá. Se estiver ausente, tudo o mais desaparecerá. Como o ego é tudo isso, investigar a sua natureza é a única forma de abandonar todo apego.
Controlando a fala e a respiração, e mergulhando fundo em nós mesmos, como alguém que mergulha na água para recuperar algo que nela caiu, devemos, por meio de um insighi aguçado, descobrir a fonte de onde surge o ego.
A investigação, que é o caminho da Sabedoria (Jñãna), não consiste em repetir verbalmente "eu, eu", mas em buscar, por meio de uma mente profundamente interiorizada, de onde o "eu" surge. Pensar "Eu não sou isso", "Eu sou aquilo" pode ajudar, mas não constitui a inquirição em si.
Quando questionamos dentro da nossa mente "Quem sou eu?" e chegamos ao Coração, o "eu" sucumbe e imediatamente outra entidade se revela proclamando "Eu-Eu". Muito embora ela também surja dizendo "eu", não se trata mais do ego, mas sim da Existência Única, perfeita.
Se investigarmos incessantemente a forma da mente, descobriremos que não existe algo chamado "mente". Este é o caminho direto aberto a todos.
A mente é constituída apenas de pensamentos, e para todos eles a base ou fonte é o pensamento-"eu". O "eu" é a mente. Se nos voltarmos para dentro perguntando pela Fonte do "eu", o "eu" sucumbe. Esta é a investigação da Sabedoria.
Onde o "eu" se dissolve, outra entidade emerge como "Eu-Eu" por conta própria: é o Ser Perfeito.
É inútil remover as dúvidas [uma a uma]. Se esclarecermos uma, outra surgirá e não haverá fim para elas. Todas as dúvidas cessarão apenas quando quem duvida e sua Fonte forem encontrados. Procure a Fonte do responsável pela dúvida e você descobrirá que ele na realidade não existe. Se o questionador cessar, as dúvidas também cessarão.
Como a Realidade é você mesmo, não há nada a realizar. Todos tomam o irreal por real. É preciso que você desista de tomar o irreal por real. A finalidade de toda meditação ou repetição de mantras (japa) é apenas isso - abrir mão de todos os pensamentos referentes ao não Eu; é desistir de todos os pensamentos e concentrar-se num só. O objetivo de toda prática (sãdhana) é fazer com que a mente fique unifocada, concentrando-a num só pensamento e assim excluindo os demais. Fazendo isso, no, final até mesmo esse pensamento único irá embora e a mente se extinguirá em sua fonte.

Quando inquirimos "Quem sou eu?", o "eu" investigado é o ego. Também é esse "eu" quem faz a autoinvestigação (vichãra). O Ser não tem inquirição. É o ego que faz a investigação. O "eu" sobre o qual a investigação é feita também é ego. Como resultado da investigação, o ego deixa de existir e descobrimos que somente o Eu Real existe.

Qual a melhor maneira de matar o ego? Para cada um o melhor caminho é aquele que parece mais fácil ou que tem maior apelo. Todos os caminhos são igualmente bons, na medida e que conduzem ao mesmo objetivo: dissolver o ego no Eu Real. O que o devoto (bhakta) chama de entrega, aquele que faz investigação (vichara) chama de Sabedoria (Jñãna). Ambos estão tentando levar o ego de volta à Fonte da qual ele surgiu e fazê-lo ser absorvido por ela.
Pedir que a mente mate a si mesma é como fazer do ladrão um policial. Ele irá com você e fingirá prender o ladrão, mas nada será ganho. Portanto, volte-se para dentro, veja de onde surge a mente e ela deixará de existir.
A respiração e a mente surgem da mesma fonte e quando uma delas é controlada, a outra também fica controlada. De fato, no método investigativo - no qual, aliás, a pergunta "De onde eu vim?" seria mais correta do que "Quem sou eu?" - não estamos simplesmente tentando eliminar, dizendo "não sou o corpo, nem os sentidos" e assim por diante, visando alcançar a realidade última, mas sim estamos procurando descobrir onde surge o pensamento-"eu" ou ego dentro de nós. O método contém em si - de forma implícita - a observação da respiração.
Quando observamos de onde o pensamento-eu surge, estamos observando também a fonte da respiração, já que tanto o pensamento-"eu" quanto a respiração provêm da mesma Fonte.
O controle da respiração pode servir como uma ajuda, mas por si mesmo nunca pode levar ao objetivo. Enquanto você o pratica mecanicamente, procure manter a mente alerta, lembrando do pensamento-eu e da busca pela sua Fonte. Então você descobrirá que o pensamento-eu surge do lugar no qual a respiração desaparece. Eles desaparecem e emergem juntos. O pensamento-"eu" também submergirá junto com a respiração. Simultaneamente, um outro "Eu-Eu" -luminoso e infinito - emergirá, e será constante e inquebrantável. Este é o objetivo, o qual recebe diferentes nomes: Deus, Eu Real, Kundalini , Shakti, Consciência, etc.
"Quem sou eu?" não é um mantra. Significa que você deve descobrir onde em você surge o pensamento-"eu", que é a fonte de todos os outros pensamentos. Mas se você achar que o caminho da investigação é difícil demais, continue a repetir "eu-eu", e isso o levará ao mesmo objetivo. Não há nenhum mal em usar o "eu" como um mantra. Trata-se do primeiro nome de Deus [Eu Sou].
Peço que veja onde o "eu" surge em seu corpo; mas realmente não é muito correto dizer que o "eu" surge e dissolve-se no Coração no lado direito do peito. O Coração é outro nome para a Realidade e não está nem dentro nem fora do corpo. Não pode haver nenhum dentro e fora para Ela, já que a Realidade apenas é. Por "Coração" não me refiro a nenhum órgão fisiológico, nenhum plexo de nervos ou qualquer coisa do gênero.
Mas enquanto a pessoa se identificar com o corpo e pensar ser o corpo, ela é aconselhada a ver no corpo onde o pensamento-"eu" surge e volta a se dissolver. Deve ser no Coração, no lado direito do peito. Todo homem de qualquer raça, língua ou religião, quando diz "eu", aponta para o lado direito do peito para referir-se a si mesmo. Isso é verdadeiro em todo o mundo.
Portanto, esse deve ser o lugar. E observando-se de forma perspicaz o constante surgimento do pensamento-"eu" no estado de vigília e de seu desaparecimento no sono, podemos ver que surge no Coração no lado direito.

Saiba primeiro quem você é. Isso não requer escrituras ou erudição. É simplesmente experiência. O estado de Ser está aqui e agora o tempo todo. Você perdeu contato consigo mesmo e está pedindo orientação aos outros. O propósito da espiritualidade é voltar a mente para dentro. Se você conhecer a si mesmo, nenhum mal poderá lhe acontecer. Como você me perguntou, eu estou lhe dizendo (verso do Kaivalya Navaneeta). O ego só surge agarrando-se a você (o Eu Real). Permaneça no Eu Real e o ego desaparecerá. Até este momento o sábio estará feliz dizendo: "Eis aí", e o ignorante perguntando: "Onde?". A regulação da vida, tal como levantar-se em uma hora determinada, tomar banho, praticar repetição de mantras, etc., tudo isso é para quem não se sente atraído pela auto investigação ou não é capaz de fazê-la. Mas para aqueles que podem praticar esse método, todas as regras e disciplinas são desnecessárias. Sem dúvida é dito em alguns livros que devemos cultivar uma virtude após outra e assim nos prepararmos para a Libertação (moksha); mas para os que seguem o caminho da Sabedoria ou da investigação (Jñãna ou vichãra), sua sãdhana é por si só suficiente para adquirir todas as qualidades divinas. Eles não precisam fazer mais nada.
O que é [o mantra] Gayatri? Na verdade, quer dizer "Deixe-me concentrar Naquele que tudo ilumina".







Fonte: Capítulo 4, intitulado "Quem Sou Eu" , do livro Pérolas de Bhagavan - do discípulo de Sri Ramana Maharshi, A. Devaraja Mudaliar. Esse texto encontra-se reunido no volume editado pela Editora Teosófica, "Pérolas de Sabedoria - Vida e Ensinamentos de Sri Ramana Maharshi".



domingo, 22 de novembro de 2009

Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras






Edited by Arthur Osborne

1- A TEORIA BÁSICA

D.: Existem graus de ilusão?

B.: A ilusão é em si ilusória. Ela deve ser vista por alguém que encontra-se fora dela, mas como pode um observador assim estar sujeito a ela? Então, como ele pode falar de graus de ilusão?(1)

A ilusão é aquilo que faz os seres tomarem por real e existente por si aquilo que é inexistente e irreal, isto é, a trilogia mundo-ego-Deus.(2)

A essência da mente é apenas atenção ou consciência. Entretanto, quando o ego nubla a mente, esta adota as funções de raciocínio, pensamento e percepção. A mente universal, não sendo limitada pelo ego, não tem nada exterior a si, e portanto ela é apenas consciência. É isso o que a Bíblia quer dizer com “EU SOU O QUE EU SOU”.(3)

D.: Quando eu procuro o “eu” eu não vejo nada.

B.: Você diz isso porque você está acostumado a identificar o seu eu com o seu corpo e a sua visão com os seus olhos. O que existe para ser visto? E por quem? E como? (...) Na verdade não há nada para ver. Como você se reconhece agora? Você precisa por um espelho na sua frente para reconhecer a si mesmo? A consciência em si é o “eu”. Realize-a e isto é a verdade.

D.: Quando eu investigo a origem dos pensamentos há a percepção do “eu”, mas isso não me satisfaz.

B.: Exatamente. Isso acontece porque essa percepção de “eu” está associada a uma forma, talvez a forma do corpo físico. Mas nada deveria ser associado ao Eu puro.(4)

Tudo o que nasce deve morrer; tudo o que é adquirido será perdido. Você nasceu?
[Não,] você existe eternamente. O Eu Real nunca pode ser perdido.(5)
Se os méritos e deméritos de um homem são iguais ele renasce imediatamente na Terra; se os seus méritos superam seus deméritos ele primeiro vai ao céu em seu corpo sutil, já se seus deméritos superam seus méritos ele vai primeiro ao inferno. Mas em ambos os casos ele renasce posteriormente na Terra. Tudo isso é descrito nas escrituras, mas na verdade não existe nem nascimento nem morte; cada um simplesmente permanece como realmente é. Apenas isso é a Verdade.(6)

S.: Mas a partir de meu próprio nível de entendimento eu vejo a mim mesma e ao meu filho como reais.

B.: Você pensava sobre o seu filho antes dele nascer? O pensamento veio depois dele nascer, e continua após sua morte. Ele só é o seu filho na medida em que você pensa nele. Para onde ele foi? Para a fonte de onde ele surgiu. Enquanto você continuar existindo ele continua também. Mas se você deixar de se identificar com o corpo e realizar o Eu Real essa confusão desaparecerá. Você é eterna, e verá que os outros também o são. Enquanto isso não for realizado haverá sempre a tristeza e o desgosto, fruto dos falsos valores que são produzidos pelo conhecimento errôneo e pela identificação errônea.(7)

B.: Que felicidade você pode obter das coisas exteriores a você mesmo? Quando você a obtém, quanto tempo ela dura? Se você negar o ego e ignorá-lo, você estará livre. Se você o aceitar, ele irá lhe impor limitações e levá-lo a lutar em vão para superá-las. Foi assim que o “ladrão” arruinou o Rei Janaka. Ser o Eu que você realmente é, é o único meio de realizar a Bem-Aventurança que é sempre sua.(8)

B.: [Para um devoto que tinha perdido seu filho] A tristeza só existe enquanto a pessoa pensa que possui uma forma definida, mas se a forma é transcendida a pessoa conhece o Eu Único como eterno. Não existe nascimento nem morte. Apenas o corpo nasce, e o corpo é uma criação do ego. No entanto, o ego não é comumente percebido sem o corpo, e por isso você o identifica com o corpo. O que importa é o pensamento. (...) Se um homem pensa que ele nasceu ele inevitavelmente sentirá medo da morte. Deixe que ele descubra se ele alguma vez nasceu ou se existe nascimento para o Eu Real.(9)

D.: Se alguém que nós amamos morre isso nos faz sofrer. Nós deveríamos, então, para evitar este sofrimento, amar a todos igualmente ou não amar ninguém em absoluto?

B.: Se alguém que amamos morre isso causa sofrimento àquele que continua vivo. A maneira de se livrar do sofrimento é não continuar vivendo. Mate o sofredor – assim quem está lá para sofrer? O ego deve morrer, é o único jeito. As duas alternativas que você sugere dão no mesmo. Quando percebemos que todos são apenas o Eu Único, quem está lá para amar ou odiar?(10)

D.: Estou com dor de dente – isso é apenas um pensamento?

B.: Sim.

D.: Então por que eu não consigo simplesmente pensar que meu dente está normal e assim me curar?

B.: Não se sente a dor de dente quando se está absorto em outros pensamentos ou quando se está dormindo.

D.: Mas ela ainda sim continua.

B.: A convicção humana de que o mundo é real é tão forte que é difícil se libertar dela. Mas o mundo não é mais real do que o sujeito que o vê.

D.: No momento está acontecendo a guerra Sino-Japonesa. Se ela é apenas imaginação, pode o Bhagavan imaginar que ela não está acontecendo e assim acabar com ela?

B.: (Rindo) O Bhagavan que você vê (como um ser exterior) é tanto um pensamento seu quanto a própria guerra Sino-Japonesa.(11)

B.: A Bem-Aventurança do Eu Real só pode se manifestar numa mente que se torna sutil e estável por meio da meditação. Aquele que experimenta essa Bem-Aventurança alcança a libertação ainda neste corpo.(12)

(Por óbvio, ele insistia na necessidade da pureza mental. Quando alguém reclamava que era muito fraco para resistir às tendências inferiores, Bhagavan simplesmente lhe dizia para se esforçar mais. Porém, dependendo do temperamento do buscador ele dizia para este descobrir quem tem tendências inferiores, ou simplesmente para confiar em Deus.)

B.: O livre arbítrio é o presente surgindo para uma faculdade limitada de visão e vontade. Este mesmo ego, quando olha para suas atividades passadas, percebe que elas se desenvolveram segundo certas “leis” ou regras – sendo o seu próprio livre arbítrio um dos elos dessa corrente causal. Então o ego percebe que a Onipotência e Onisciência Divinas agiram através do seu aparente livre arbítrio. Então a pessoa chega à conclusão de que o ego é guiado pelas aparências.(13)

D.: Os deuses, Ishvara e Vishnu, e seus céus, Kailas e Vaikuntha, são reais?

B.: Tão reais quanto você no seu corpo.

D.: O que eu quero saber é se eles possuem uma existência fenomenal, tal como o meu corpo, ou se são meras ficções, tais como os chifres de uma lebre?

B.: Eles de fato existem.

D.: Sendo assim, eles devem estar em algum lugar. Onde eles estão?

B.: Em você.


Arunachala está dentro e não fora. O Eu Real é Arunachala.(14)

Por que se preocupar com Deus? Nós não sabemos se Deus existe mas sabemos que existimos, então primeiro concentre-se em si mesmo. Descubra quem você é.(15)


Todo o Vedanta está contido nas duas declarações bíblicas “Eu sou o que Eu sou” e “Permaneça imóvel e saiba que Eu sou Deus.

D.: Então o que me impede de conhecer a mim mesmo ou Deus?

B.: A sua mente que divaga e seus caminhos desvirtuados.(16)

B.: Entregar-se completamente significa que você deve aceitar a vontade de Deus, e não reclamar do que não lhe agrada. As coisas podem se revelar diferentes do que pareciam. O sofrimento e a aflição muitas vezes levam a pessoa a ter fé em Deus.(17)

B.: Eles rezam a Deus e no final da oração dizem: “Seja feita a Vossa vontade”. Se a vontade Dele vai ser feita, então por que eles oram? (...) Não é necessário dizer a Ele o que você precisa. Ele conhece muito bem suas verdadeiras necessidades, e cuidará de atende-las. (18)

D.: As nossas preces são atendidas?

B.: Sim, elas são atendidas. Nenhum pensamento é emitido em vão. Cada pensamento produzirá o seu efeito em um ponto ou em outro. A força do pensamento nunca será em vão.(19)

B.: O homem é pecado. Não existe o sentimento de ser um ser humano durante o sono profundo. O pensamento-corpo faz nascer a idéia do pecado. O nascimento do pensamento em si é o pecado.(20)

Q.: Mas qual é o método?

B.: Volte para o lugar de onde você veio.

Q.: De onde eu vim?

B.: É exatamente isso que você precisa descobrir.

(...)

Q.: Qual é a prova que tenho?

B.: Alguém precisa de alguma prova de sua própria existência? Apenas esteja consciente de si mesmo e todo o resto será conhecido.

Q.: Então por que os dualistas e não-dualistas discutem tanto?

B.: Se cada um deles se ocupasse apenas da sua tarefa (de buscar a Realização) não haveria discussões.(21)

2- DA TEORIA À PRÁTICA

B.: É verdade que não estamos aprisionados. Quer dizer, para o Eu Real não há prisão. E também é verdade que cedo ou tarde você retornará à sua Fonte. Mas enquanto isso, se você cometer más ações, como você as chama, você terá que enfrentar as suas conseqüências. Você não pode escapar disso. Se um homem lhe bate, você pode dizer: “Eu sou livre. Eu não sou afetado pela surra e a dor não existe para mim. Deixa ele continuar batendo”? Se você realmente chegou a esse ponto então você pode fazer o que quiser; caso contrário, qual é a utilidade de apenas dizer em palavras que você é livre [enquanto ainda não é]?(22)

Todas as atividades que o corpo deve passar foram determinadas no momento em que ele veio à existência. Não cabe a você aceitá-las ou rejeitá-las. A única liberdade que você tem é voltar-se para dentro e aí renunciar às atividades.(23)

B.: Por que este corpo surgiu? Ele foi feito para passar pelas várias experiências que foram determinadas para a pessoa nesta vida... Quanto à liberdade, o homem é sempre livre para não se identificar com o corpo e para não se deixar afetar pelos prazeres e dores resultantes das atividades do corpo.(24)

D.: O ser humano tem algum livre arbítrio ou tudo na sua vida é predeterminado?

B.: O livre arbítrio existe junto com a individualidade. Enquanto houver individualidade haverá livre arbítrio. As escrituras todas se baseiam nesse ponto e aconselham direcionar o livre arbítrio na direção certa.

Predestinação na teoria mas o livre arbítrio na prática.


B.: Assim, a consciência natural e não discriminativa só é alcançada depois do esforço da meditação. A forma da meditação vai depender do que lhe atrai mais. Veja o que lhe ajuda a afastar todos os outros pensamentos e adote isso para sua meditação.

B.: Se você consegue apenas permanecer quieto sem se envolver em nenhuma outra atividade, isso é ótimo. Mas se isso não for possível, qual é a utilidade de permanecer inativo apenas em relação à busca pela Realização [e ativo em relação ao resto]? Enquanto você

Enquanto houver ego o esforço é necessário. Quando o ego cessa as ações se tornam espontâneas.(25)

Ninguém tem sucesso sem esforço. O controle da mente não é seu direito de nascença – os poucos que dominam a mente alcançaram isso graças ao seu esforço perseverante.(26)

O esforço é necessário até o momento da Realização.(27)

B.: Você pensar que deve fazer um esforço para se libertar desse sonho da vigília, e os esforços que você faz para alcançar a Realização, são tudo partes do sonho.(28)

B.: Entregue-se de uma vez por todas e acabe com o desejo. Enquanto houver a noção de que você é o agente, o desejo vai continuar, e assim o ego também.(29)


3 - A VIDA NO MUNDO


B.: Por que os seus deveres ou ocupações na vida deveriam atrapalhar o seu esforço espiritual? Por exemplo, há uma diferença entre suas atividades em casa e no trabalho. No trabalho você está desapegado: você apenas cumpre o seu dever e não se importa com o que vai acontecer, não está preocupado com o ganho ou perda do seu chefe ou empregador. Os seus deveres com a família, por outro lado, são desempenhados com apego: você está sempre preocupado se as suas ações vão trazer benefício a você e sua família. Mas é possível desempenhar todas as atividades da vida com desapego e ver apenas o Eu Superior como real. É errado pensar que se você permanecer fixado interiormente no Eu Real os seus deveres na vida não serão bem desempenhados. É como um ator no palco: ele se veste do personagem, age como ele e até sente que é parte da peça, mas na verdade sabe que na vida real não é o personagem, mas outra pessoa. Da mesma maneira, por que deveria a consciência do corpo ou o sentimento “eu-sou-o-corpo” lhe perturbar, uma vez que você saiba que na verdade você não é o corpo mas sim o Eu Real? Nada que o corpo faça deveria afastá-lo da permanência como Eu real. Permanecer fixado no Eu Real não irá interferir com o desempenho adequado e efetivo de quaisquer deveres que o corpo tenha, assim como o fato de o ator saber a sua verdadeira identidade não interfere no personagem que ele representa no palco.(30)

B.: Não há nenhuma lei que diga que as ações só podem ser feitas com base no sentimento “eu-sou-o-agente”, então não há motivo para perguntar se elas podem ser feitas e os deveres serem cumpridos sem essa noção. Pegue como exemplo o caso de um contador que trabalha o dia inteiro no escritório e cumpre suas tarefas diligentemente.

Pode parecer aos olhos dos outros que ele está carregando nas costas todas as responsabilidades financeiras da instituição; porém, se ele estiver consciente que não é pessoalmente afetado pelas entradas e saídas de capital ele conseguirá permanecer desapegado e livre da noção “eu-sou-o-agente”, embora desempenhe suas tarefas perfeitamente bem. Da mesma forma, é possível a um sábio pai de família que busque ardorosamente a Libertação cumprir seus deveres sem nenhum apego, considerando a si mesmo apenas como um mero instrumento para isso. Uma atividade assim não é um obstáculo ao Caminho do Conhecimento (jnana-marga), e nem é o Conhecimento um fator que impeça o cumprimento dos deveres da vida. A Compreensão e a atividade nunca são mutuamente excludentes – uma não atrapalha a outra.(31)

B.: Se os objetos tivessem uma existência independente, ou seja, se existissem fora e separados de você, então seria possível você se afastar deles. Mas eles não existem assim – a sua existência depende de você, do seu pensamento. Então onde você pode ir para fugir deles?(32)

B.: A ação feita abnegadamente purifica a mente e a ajuda a concentrar-se na meditação.

D.: Mas e se eu fosse apenas meditar constantemente sem fazer mais nada?

B.: Tente e veja. As suas tendências mentais inerentes não lhe deixarão em paz. A meditação só acontece passo a passo, através do enfraquecimento dessas tendências por meio da graça do Guru.(33)

D.: Eu não sinto mais nenhum prazer em minha vida familiar. Não me resta mais nada para fazer lá; eu fiz tudo o que deveria ser feito e agora já tem netos e netas na casa. Eu deveria continuar lá ou deveria abandonar a casa e ir embora?

B.: Você deve ficar onde você está agora. Mas onde está você? Você está na casa ou a casa está em você? Existe alguma casa separada de você? Se você se estabilizar na sua própria morada você verá que todas as coisas desaparecerão em você e perguntas como essas se tornarão desnecessárias.

D.: Então eu devo continuar em casa?

B.: Você deve continuar no seu verdadeiro estado.(34)

B.: O mundo está apenas na mente. (...) Renúncia é a não-identificação do Eu com o não-Eu. Quando a ignorância desaparece, o não-Eu cessa de existir. Essa é a verdadeira renúncia.

B.: Os esforços sinceros nunca falham – com certeza eles resultarão em sucesso.(35)

B.: No entanto, é mil vezes mais tolo querer carregar o seu próprio fardo uma vez que se tenha iniciado a busca espiritual, quer seja pelo caminho do conhecimento (jnana) quer pelo da devoção (bhakti).

B.: O Senhor do universo carrega todo o fardo – você apenas imagina fazê-lo. Você pode seguramente entregar todos os seus fardos e problemas a Ele. Então o que quer que você precise fazer acontecerá no momento certo, e você será apenas um instrumento para isso. Não imagine que você não possa agir a não ser que tenha o desejo de fazê-lo. Não é o desejo que lhe dá a força necessária [para agir] – a força é a de Deus.(36)

B.: Por que se preocupar com o futuro? Você nem conhece o presente direito. Cuide do presente e o futuro cuidará de si próprio.

B.: Como você é, assim é o mundo. Qual é a utilidade de tentar entender o mundo sem entender a si mesmo? Os buscadores da Verdade não precisam se preocupar com isso. As pessoas desperdiçam sua energia com essas perguntas desnecessárias.(37)

B.: Durante o seu trabalho a pessoa deve se render ao Poder Maior e nunca perder de vista que é este Poder que faz tudo. Então como ficar orgulhoso? A pessoa não deveria nem se preocupar com o resultado de suas ações. Só assim o karma será altruísta.(38)

E.W.: Se existissem cem pessoas que realizaram o Eu Real, isso não seria um benefício maior ao mundo?

B.: Quando você diz “Eu Real” você está se referindo ao ilimitado, mas quando você fala em “pessoas” você limita o significado. Há apenas um Eu Infinito.

(...)

E.W.: Na Europa as pessoas não entendem que um homem pode ajudar a humanidade mesmo vivendo isolado. As pessoas imaginam que apenas aqueles que trabalham no mundo podem ser úteis. Quando essa confusão vai terminar? A mente dos europeus vai continuar patinando na lama ou vai compreender a Verdade?

B.: Esqueça-se de “Europa” ou “América”. Onde eles estão senão na sua própria mente? Compreenda o seu verdadeiro Eu e então tudo mais é compreendido. Se você vê inúmeras pessoas em um sonho e depois acorda e se lembra do sonho, você vai tentar descobrir se essas pessoas que você criou no sonho também estão acordadas?(39)



Sri Ramana Maharshi (Sri Bhagavan)


4 - O GURU

B.: Isso depende do que você chama de Guru. Um Guru não precisa necessariamente ter uma forma física. Dattatreya disse que teve vinte e quatro Gurus – os cinco elementos, etc. Isso quer dizer que tudo no mundo era seu Guru. O Guru é absolutamente necessário.

Os Upanishads dizem que ninguém além do Guru pode tirar o homem da selva das percepções sensoriais e formações mentais; logo, o Guru é indispensável.(40)

B.: É verdade que o Ser do Guru é idêntico ao do discípulo. No entanto, apenas muito raramente uma pessoa pode compreender seu verdadeiro Ser sem a graça do Guru.(41)

B.: O mestre está no interior. Se ele fosse um ser estranho pelo qual você espera, ele também estaria fadado a desaparecer. De que adianta um ser transitório como esse?

(...)

D.: Então, o que o devoto deve fazer?

B.: Ele só precisa viver de acordo com as palavras do Mestre e trabalhar no seu interior.
Com o tempo você perceberá que a Felicidade só surge quando você deixa de existir. A fim de alcançar esse estado você deve entregar-se. Então o mestre perceberá que você está em um estado propício para receber o ensinamento, e assim Ele irá guiá-lo.(42)

B.: Se o eu individual for buscado ele não será encontrado em lugar algum. Isso é o Guru. Assim era Dakshinamurti.(43)

D.: Então Bhagavan tem discípulos?

B.: Como eu disse, do ponto de vista do discípulo a Graça do Guru é como um oceano: se ele vier com um copo ele sairá com um copo cheio. Não faz sentido dizer que o oceano é mesquinho; quanto maior for o recipiente mais água ele poderá carregar. Depende tudo do discípulo.(44)

Eles dizem que estou morrendo, mas eu não vou embora. Onde eu poderia ir? Eu estou aqui.(45)


5 - AUTO-INQUIRIÇÃO

D.: Mas pedir para a mente voltar-se para dentro e buscar sua Fonte não é empregá-la?

B.: É claro, estamos usando a mente. É de conhecimento comum que a mente só pode ser extinta com a ajuda da mente. Mas a diferença é que ao invés de começar dizendo que a mente existe e que eu quero destruí-la, você começa buscando sua fonte, e quando você encontra a Fonte você vê que a mente não existe. A mente voltada para fora resulta em pensamentos e objetos; voltada para o interior ela se torna ela mesma o Eu Real.(46)

B.: Eu não disse que você deve ficar rejeitando pensamentos. Se você agarrar a si mesmo – ou seja, se você agarrar o pensamento-eu (ou ego) – e mantiver-se interessado apenas nesse único pensamento, então os outros pensamentos serão rejeitados e desaparecerão automaticamente.(47)

B.: A investigação “Quem sou eu?” significa tentar encontrar a fonte do ego ou pensamento-eu. Então você não deve ocupar a mente com outros pensamentos, tais como “Eu não sou o corpo”, etc. Buscar a fonte do “eu” é um meio de se livrar dos outros pensamentos.(48)

B.: A individualidade [o pensamento “eu”] é aquilo que está consciente da existência dos pensamentos e da sua seqüência. Essa individualidade é o ego ou, como as pessoas dizem, é o “eu”.

B.: Você não precisa eliminar nenhum falso “eu”. Como pode o “eu” eliminar a si mesmo? Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”, e permanecer lá. O seu esforço só pode levá-la até este ponto. A partir daí o Transcendental vai tomar conta de si mesmo. Você não pode fazer mais nada então. Nenhum esforço pode chegar até Ele.(49)

B.: As noções de prisão e libertação são meras modificações mentais (vrittis). (...) Se, portanto, a pessoa investigar [em busca dessa] fonte: “Para quem existe a prisão e libertação?”, será descoberto que é “Para mim”, isto é, para a própria pessoa. Se então ela investigar “Quem sou eu?” sinceramente, descobrirá que não existe o “eu” e “meu”.

Aquilo que “sobra”, uma vez que o “eu” desaparece – ou melhor, é visto como não existente –, é realizado de forma vívida e direta como o Eu que ilumina a si mesmo e que é como é. Essa Realização viva, que é a experiência direta e imediata da Verdade Suprema, vem naturalmente, sem nada de especial sobre ela, a todos aqueles que, permanecendo assim como são, mergulham interiormente sem permitir que a mente se exteriorize nem por um momento, e nem desperdiçam seu tempo em conversas vãs.(50)

V.: Imagine que eu tenha o pensamento “cavalo”, e procure saber de onde ele veio. Fazendo isso eu vejo que ele vem da memória, e que esta surgiu da percepção passada de um “cavalo”, mas isso é tudo.

B.: Quem lhe pediu para pensar tudo isso? Esses também são pensamentos... Qual é o bem que você espera ganhar pensando assim sobre a memória e a percepção? O “eu” que tem essa percepção e memória, de onde ele vem? Descubra. A percepção, a memória e qualquer outra experiência surgem sempre para este “eu”. Você não tem essas experiências durante o sono e mesmo assim você existe enquanto dorme, assim como existe agora. Isso apenas mostra que o EU continua enquanto as outras coisas vão e vem. (...)

B.: Você veio da mesma Fonte em que estava durante o sono.

V.: Os Upanishads dizem: Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman.

B.: Não se trata de “tornar-se” mas sim de Ser.(51)


(“Não existe ‘realizar o Eu Superior’” – o Bhagavan costumava assim lembrar, aos que perguntavam, que apenas o Eu Real é, agora e sempre, e que não é algo novo a ser descoberto. Esse paradoxo é a essência do não-dualismo.)

B.: Tudo o que você precisa fazer é abandonar a sua identificação com esse corpo e abandonar todos os pensamentos de coisas externas, isto é, de coisas que não são o Eu Real. Por mais que a mente se exteriorize em direção aos objetos dos sentidos, detenha-a e fixe-a no Eu. Esse é todo esforço que você precisa fazer.(52)

B.: Todos buscam apenas aquilo que lhes trará felicidade. A sua mente divaga em direção aos objetos exteriores pois você acredita que encontrará felicidade neles; mas descubra de onde a felicidade realmente vem, mesmo a felicidade que você acredita originar-se dos objetos dos sentidos. Então você perceberá que toda felicidade vem apenas do Eu e, com isso, será capaz de permanecer no Eu [devido à força do seu desejo natural por felicidade].(53)

B.: Concentração não é pensar sobre algo. Pelo contrário, é excluir todos os pensamentos, já que todos os pensamentos obstruem a experiência do verdadeiro ser da pessoa.(54)

D.: Se o “eu” é uma ilusão, quem é que afasta este “eu”?

B.: O “Eu” afasta a ilusão do “eu” e mesmo assim continua sendo “Eu” – tal é o paradoxo da Auto-Realização. Mas os seres Realizados não vêem nenhum paradoxo nisto.

(...)

Você pode abandonar esta ou aquela das “minhas” posses; mas se, ao invés disso, você abandonar o “eu” e “meu”, tudo é abandonado de uma vez só, e a própria semente da posse é destruída. Com isso corta-se o mal pela raiz. Mas a força do desapego deve ser grande para que isso seja possível. A ânsia de fazer isso deve ser igual à ânsia de alguém que está sendo afogado e tem que subir à superfície para respirar.(55)

B.: O que é necessário é manter-se sempre fixo no Eu Real. Os obstáculos a isso são, por um lado, as distrações causadas pelas coisas do mundo (incluindo objetos dos sentidos, desejos e tendências) e, por outro, o sono. (...) Mas outro método é simplesmente não se preocupar com o sono. Quando quer que ele venha, você não pode evitá-lo, então simplesmente mantenha-se fixo no Eu Real, ou na sua meditação, em cada momento da sua vida desperta, e retorne à meditação no momento em que você acordar. Isso será suficiente.

Assim, mesmo durante o sono a mesma corrente de consciência estará trabalhando.(56)

B.: Você nunca deve ficar satisfeito com qualquer experiência que tenha. Quer você sinta prazer ou medo, pergunte-se quem sente isso e continue seus esforços até que prazer e medo sejam ambos transcendidos e que a dualidade cesse, permanecendo assim apenas a Realidade. Não há nada de errado em experimentar essas coisas, desde que você não pare por aí.(57)

B.: Não se importe se há visões, sons, vazio, ou qualquer outra coisa. Você está presente nessas experiências ou não? Você deve ter estado lá para poder dizer que experimentou um vazio. Permanecer fixo neste “você” do início ao fim é a busca. (...) É a mente que vê objetos e tem experiências que se depara com o vazio quando pára de ver e experimentar, mas essa mente não é você. Você é a iluminação constante que dá vida tanto à experiência quanto ao vazio.

(...) Nos versos 212 e 213 do Vivekachudamani, depois de o discípulo dizer: “Agora que eliminei os cinco revestimentos como sendo não-Eu, percebo que nada permanece”, o Guru responde que o Eu Real, ou ISTO, pelo qual todas as modificações – inclusive o ego e suas criações e a ausência delas (o vazio) – são percebidas, está sempre lá.(58)

B.: A mente é pura por natureza, mas se contamina quando se envolve com os objetos. O ideal é mantê-la ativa em sua busca sem abrir as portas para as impressões sensoriais e sem pensar em outras coisas.(59)

B.: .Para aqueles que seguem jnana marga (o caminho do Conhecimento) a auto-inquirição é suficiente para desenvolver todas as qualidades divinas – eles não precisam se preocupar em fazer mais nada.(60)

B.: A Consciência que percebe o vazio é o Eu Real.

B.: Permaneça sem pensar. Enquanto houver pensamento haverá medo.(61)


6 - OUTROS MÉTODOS

B.: Todo mundo está consciente de que existe. No entanto as pessoas se esquecem dessa consciência e vão buscar Deus. Qual é a utilidade de fixar a atenção entre as sobrancelhas? O objetivo de tal conselho é ajudar a mente a se concentrar. É um método poderoso de controlar a mente e evitar sua disperção.

B.: Você se considera o sujeito, o observador, e o ponto no qual você fixa a sua atenção se torna o objeto visto. Isto é apenas bhavana. Quando, ao contrário, você vê o próprio observador, você mergulha no Eu Real e torna-se um com ele – isso é o Coração.

D.: Não é útil fazer um voto de silêncio?

B.: Um voto é apenas um voto. Ele pode ajudar a meditação até certo ponto; mas qual é a utilidade de meramente manter a boca fechada se você permite à sua mente mover-se desenfreadamente? Por outro lado, se a mente está envolvida na meditação qual a necessidade da fala? Nada é tão bom quanto a própria meditação. Qual é a utilidade de um voto de silêncio se a pessoa está absorta na atividade [mental]?(62)

D.: O que ajuda a (1) concentração e (2) a superação das distrações?

B.: Fisicamente, o sistema digestivo e demais órgãos devem estar livres de irritação.

Para isso a alimentação deve ser regulada em qualidade e quantidade. (...) Mentalmente, tenha interesse em apenas uma coisa e fixe sua mente nisso. Deixe esse interesse absorve-lo completamente excluindo todo o resto. Isso é desapego (vairagya) e concentração.(63)

B.: Tudo o que se fala sobre a entrega é como roubar açúcar de uma imagem de açúcar de Ganesha e depois oferecê-lo ao mesmo Ganesha. Você diz que oferece seu corpo e alma e todas as suas posses a Deus – mas eles são seus para você poder oferecer? No máximo você pode dizer: “Eu erroneamente imaginei até agora que essas coisas, que na verdade são Vossas, eram minhas. Agora percebo que elas pertencem a Vós, e não mais agirei como se minhas fossem”. E esse conhecimento de que não existe nada além de Deus (Brahman) ou Eu Real (Atman), de que “eu” e “meu” são meras ficções, e que apenas o Eu Real existe, é Jnana.(64)

Dr. Syed: Gostaria de saber quais são os passos por meio dos quais eu posso atingir a entrega?

B.: Há dois caminhos. Um é buscar a fonte do “eu” e mergulhar nessa Fonte; o outro é sentir “eu sou impotente sozinho; apenas Deus é todo-poderoso, e a única maneira de eu estar seguro é me atirando completamente Nele”, assim desenvolvendo gradualmente a convicção de que apenas Deus existe, e de que o ego é irrelevante. Ambos os métodos levam ao mesmo objetivo. A entrega completa é apenas outro nome para Jnana ou Libertação.(65)

B.: “Semelhante ao sono”, está correto. É o estado natural. Como você agora se identifica com o ego, você olha para o estado natural como se fosse algo que interrompesse seu trabalho ou prática. Então você deve ter essa experiência repetida até que você perceba que esse estado é seu estado natural.(66)

D.: Swami, como pode o domínio do ego ser afrouxado?

B.: Não se acrescentando novas vasanas (tendências mentais) a ele.(67)

B.: O exame da natureza transitória das coisas exteriores leva ao desapego (vairagya). Assim, a investigação ou inquirição é o primeiro e mais importante passo. Quando ela se torna automática resulta em indiferença à riqueza, fama, conforto, prazeres, etc. Então o pensamento-“eu” é investigado até chegar-se à fonte do “eu”, o Coração, que é a meta final.(68)


7 - A META


B.: “Não se preocupe com a Libertação. Primeiro descubra se há aprisionamento. Investigue a você mesmo primeiro”.(69)

D.: Pode a Auto-Realização uma vez alcançada ser perdida?

B.: A Realização leva tempo para se estabilizar. O Eu Real certamente está dentro da experiência direta de todos, mas não da forma como eles imaginam. Só se pode dizer que ele é como é. (...) Devido à flutuação das vasanas, a Realização demora a se estabilizar. A Realização súbita não é suficiente para acabar com o ciclo de renascimentos, e ela não pode se tornar permanente enquanto houver vasanas. Na presença de um grande mestre as vasanas deixam de ser ativas e a mente se torna quieta, de forma que o samadhi (absorção no Real) resulta, assim como na presença de vários meios [mágicos] o fogo não queima.

Assim, na presença do mestre o discípulo ganha conhecimento verdadeiro e uma experiência correta. Mas para isso ser estabilizado é necessário um esforço adicional.

Então o discípulo saberá que isso é seu verdadeiro Ser, e assim será libertado mesmo enquanto no corpo.(70)

D.: Esse método parece ser mais rápido que o método comum de desenvolver as virtudes postas como necessárias à Realização.

B.: Sim. Todos os erros e defeitos estão centrados no ego. Quando o ego desaparece a Realização resulta naturalmente.(71)

B.: A paz só pode reinar quando não há perturbação, e a perturbação existe por causa dos pensamentos que surgem na mente. Quando a mente está ausente, há paz perfeita. A menos que a pessoa tenha aniquilado a mente, ela não pode ter paz e ser feliz. E se a própria pessoa não for feliz ela não poderá dar felicidade aos “outros”.(72)

Então, “EU-SOU” é Deus.(73)

D.: O que é samadhi?

B.: No yoga o termo é usado para indicar um certo tipo de transe (ou absorção meditativa), e há vários tipos de samadhi. Mas o samadhi sobre o qual estou falando é diferente; é sahaja samadhi. Nesse estado você permanece calmo e sereno durante a atividade. Você percebe que é movido pelo Eu Real dentro de você, e permanece não afetado por qualquer coisa que você faça, diga, ou pense.(74)

B.: Tanto o homem Realizado quanto o não Realizado tem sensações. A diferença é que o não realizado se identifica com o corpo que tem sensações, enquanto que o Iluminado sabe que tudo isso é o Eu Real, que tudo é Brahman (O Absoluto). Se há dor deixe-a ser; ela também faz parte do Eu, e o Eu é perfeito.(75)

D.: Podemos pensar sem a mente?

B.: Os pensamentos podem continuar, assim como as outras atividades. Eles não perturbam a Consciência Suprema.(76)

B.: Se você agarrar-se ao Eu Real, o surgimento das imagens não irá enganá-lo. Também não vai mais importar se as imagens aparecem ou desaparecem.(77)

Notas:


1 T., 446

2 S.I., Capítulo II, § 5

3 Exodus III, 14

4 T., 196

5 T., 20

6 T., 573

7 T., 276

8 M.G., pp 38-39

9 T., 80

10 T., 252

11 T., 451

12 S.E., § 11

13 T., 28

14T., 273

15T., 63

16 M.G., pp.42-43

17 T., 43

18 T., 594

19 D.D., p. 266-267

20 T., 164

21 T., 479

22 D.D., pp. 288-289

23 D.D., p. 245

24 D.D., pp. 91-92

25 T., 467

26 T., 398

27 T., 78

28 D.D., p. 16

29 T., 354

30 D.D., p. 232

31 S.I., Capítulo II, § 23-25

32 D.D., p. 1

33 T., 634

34 T., 634

35 T., 251

36 S.D.B., p. XXVI e XXVII

37 R.M., p. 184-185

38T., 502

39 T., 20

40 R.M., p. 169-170

41 S.I., capítulo I, § 1-4

42 M.G., pp. 26-27

43T., 398

44 R.M., pp. 167-168

45 R.M., p. 222

46 D.D., p. 37

47S.D.B., p. IV

48 D.D., p. 80

49 T., 197

50 S.I., capítulo IV, § 15

51 D.D., pp. 268-269

52 D.D., p. 332

53 D.D., p. 298

54 T., 398

55 T., 28

56 D.D., pp. 279-280

57 D.D., p. 224

58 D.D., pp. 277-279

59 T., 61.

60 D.D., p. 276

61 T., 202

62 T., 371

63 T., 28

64 D.D., p. 49

65 D.D., pp. 162-163

66 M.G., p. 17-18

67 T., 173

68 T., 27

69 T., 578

70 T., 141

71 T., 146

72 M.G., p. 30

73 T., 503

74 S.D.B., p. X

75 T., 383

76 T., 43

77 M.G., p., 47.





Fonte: http://www.advaita.com.br/Ramana/Textos%20em%20Portugu%C3%AAs/Os%20Ensinamentos%20de%20Ramana%20Maharshi%20-%20resumo.pdf

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Morte e ilusão: o ensinamento de Sri Ramana Maharshi



O pequeno texto abaixo descreve a morte da mãe de Sri Ramana Maharshi (chamado aqui de Sri Bhagavan) e as sensações por ela experimentadas. Foi extraído da obra "Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento", de Arthur Osborne (Ed.Pensamento) :




Em 1920 a saúde da mãe começou a falhar. Ela viu-se obrigada a trabalhar menos no serviço do Ashram e a descan­sar mais. Durante a doença Sri Bhagavan cuidou dela com constância, freqüentemente passando a noite em claro ao seu lado. Em silêncio e meditação a compreensão da mulher ama­dureceu.

O fim sobreveio em 1922, no festival de Bahula Navami, que aquele ano caiu em 19 de maio. Sri Bhagavan e outros cuidaram dela todo aquele dia, sem comer. Nas proximidades do por do sol serviu-se uma refeição e Sri Bhagavan pediu aos demais que fossem comer, mas ele próprio não o fez. À noite um grupo de devotos cantou os Vedas à cabeceira dela, ao passo que outros invocavam o nome de Ram. Durante mais de duas horas esteve ela arquejante, a respiração saindo-lhe com dificul­dade, e durante todo o tempo Sri Bhagavan manteve-se ao seu lado, sua mão direita sobre o coração da mãe e sua esquerda sobre a cabeça. Desta vez não havia como prolongar a vida, ape­nas como apaziguar a mente de modo que a morte fosse como Mahasamadhi, absorção no Si.

Às oito horas da noite ela foi afinal liberada do corpo. Sri Bhagavan ergueu-se de pronto, bastante alegre. - Agora pode­mos comer - disse ele. - Venham, não há poluição.

Isto tinha um significado profundo. Uma morte hindu envolve poluição ritualística e exige ritos purificadores, mas ali não se tratava de morte e sim reabsorção. Não havia alma desencarnada mas uma perfeita União com o Si e por isso não se faziam necessários quaisquer ritos purificadores. Alguns dias mais tarde Sri Bhagavan confirmou-o: quando alguém fez uma breve alusão ao passamento de sua mãe, ele corrigiu-o incisi­vamente, - ela não morreu, foi absorvida.

Descrevendo posteriormente o processo ele disse: - Ten­dências inatas e a sutil recordação de experiências passadas le­vando a possibilidades futuras tornaram-se muito ativas. As cenas se desdobravam diante dela em seqüência, havendo já desaparecido os sentidos exteriores. A alma passava por uma série de experiências, evitando destarte a necessidade de um renascimento e tornando possível a União com o Espírito. A alma foi por fim despojada de sua sutil vestimenta antes de atin­gir o seu Destino final, a Paz Suprema da Liberação da qual não se volta à ignorância.

Embora fosse potente a ajuda dada por Sri Bhagavan, foi a santidade de Alagammal, sua prévia renúncia ao orgulho, que lhe permitiram beneficiar-se dela. Ele disse mais tarde: - Sim, no caso dela foi um sucesso; numa ocasião anterior fiz o mesmo a Palaniswami quando o fim se aproximava, mas foi um fracasso. Ele abriu os olhos e morreu. - Bhagavan acrescentou, porém, que o insucesso não foi total no caso de Palaniswami, pois embora o ego não tenha sido reabsorvido no Si, a maneira pela qual se deu a partida deu indicações de um bom renascimento.

Frequentemente quando os devotos padeciam de aflições, Sri Bhagavan recordava-lhes que apenas o corpo morre e apenas a ilusão do "eu sou o corpo" faz a morte parecer uma tragédia.

(in Arthur Osborne, Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento - Ed. Pensamento - pags.87-88)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ramana Maharshi

Bhagavan Sri Râmana Mahârshi


"Como um exemplo de percepção direta todos vão fazer a avaliação da nellikai (fruta similar a groselha) colocada na palma da mão. O Ser é ainda mais diretamente perceptível do que a fruta na palma da mão. Para perceber a fruta, precisa existir a fruta, a palma da mão onde colocá-la, e os olhos para vê-la. A mente, também, deve estar em condições apropriadas [para processar a informação]. Sem nenhuma dessas quatro coisas, mesmo aqueles com muito pouco conhecimento, podem dizer, fora da experiência direta, "eu sou". Por que o Ser existe, assim como o sentimento de "eu sou", atma vidya, é facilmente interiorizado. O caminho mais fácil é ver aquele que está indo alcançar o atma (Ser).”



Questionador: “ Porque o Ser não pode ser percebido diretamente?"



Bhagavan: “Somente o Ser pode ser percebido diretamente [pratyaksha]. Nada mais é pratyaksha. Embora sejamos pratyaksha, o pensamento 'Eu sou esse corpo' está ocultando-o. Se abandonamos esse pensamento, o Atma (Ser), que está sempre presente com a experiência de todos, irá brilhar." Um verso do Kaivalya Navanitam explica a gênesis desse pensamento. "Por que sua natureza não é determinável, maia é inexprimível. Estão em suas garras os que pensam: 'Isto é meu, eu sou o corpo, o mundo é real.' Oh, filho, ninguém pode determinar como essa ilusão acontece. E ela surge porque falta na pessoa o discernimento para inquirir. "
Se vemos o Ser, o objeto que está sendo visto, não irá aparecer como separado de nós. Tendo visto todas as letras no papel, falhamos em ver esse papel como a base. Da mesma maneira, o sofrimento somente surge porque vemos o que está superposto à base, sem olharmos para a própria base. O que está superposto não deveria ser visto, sem que o substrato fosse visto, também. Como ficamos quando estamos dormindo? Quando estamos dormindo, os vários pensamentos como: "este corpo", "este mundo" não estão aí. Deve ser difícil se identificar com esses estados [acordado e sonhando]que aparecem e desaparecem, [mas todos fazem isso]. Todos têm a experiência ,"eu sou sempre ". Ao invés de dizer, "eu dormi bem", "eu acordei", "eu sonhei", "quando inconsciente não sabia nada", é necessário que a pessoa exista, e que saiba que existe, em todos esses três estados. Se a pessoa procura o Ser dizendo: "Não me vejo" , como poderá encontrá-lo? Para sabermos que tudo o que vemos é o Ser, é suficiente que o pensamento eu-sou-o-corpo deixe de existir.