terça-feira, 13 de outubro de 2009

Morte e ilusão: o ensinamento de Sri Ramana Maharshi



O pequeno texto abaixo descreve a morte da mãe de Sri Ramana Maharshi (chamado aqui de Sri Bhagavan) e as sensações por ela experimentadas. Foi extraído da obra "Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento", de Arthur Osborne (Ed.Pensamento) :




Em 1920 a saúde da mãe começou a falhar. Ela viu-se obrigada a trabalhar menos no serviço do Ashram e a descan­sar mais. Durante a doença Sri Bhagavan cuidou dela com constância, freqüentemente passando a noite em claro ao seu lado. Em silêncio e meditação a compreensão da mulher ama­dureceu.

O fim sobreveio em 1922, no festival de Bahula Navami, que aquele ano caiu em 19 de maio. Sri Bhagavan e outros cuidaram dela todo aquele dia, sem comer. Nas proximidades do por do sol serviu-se uma refeição e Sri Bhagavan pediu aos demais que fossem comer, mas ele próprio não o fez. À noite um grupo de devotos cantou os Vedas à cabeceira dela, ao passo que outros invocavam o nome de Ram. Durante mais de duas horas esteve ela arquejante, a respiração saindo-lhe com dificul­dade, e durante todo o tempo Sri Bhagavan manteve-se ao seu lado, sua mão direita sobre o coração da mãe e sua esquerda sobre a cabeça. Desta vez não havia como prolongar a vida, ape­nas como apaziguar a mente de modo que a morte fosse como Mahasamadhi, absorção no Si.

Às oito horas da noite ela foi afinal liberada do corpo. Sri Bhagavan ergueu-se de pronto, bastante alegre. - Agora pode­mos comer - disse ele. - Venham, não há poluição.

Isto tinha um significado profundo. Uma morte hindu envolve poluição ritualística e exige ritos purificadores, mas ali não se tratava de morte e sim reabsorção. Não havia alma desencarnada mas uma perfeita União com o Si e por isso não se faziam necessários quaisquer ritos purificadores. Alguns dias mais tarde Sri Bhagavan confirmou-o: quando alguém fez uma breve alusão ao passamento de sua mãe, ele corrigiu-o incisi­vamente, - ela não morreu, foi absorvida.

Descrevendo posteriormente o processo ele disse: - Ten­dências inatas e a sutil recordação de experiências passadas le­vando a possibilidades futuras tornaram-se muito ativas. As cenas se desdobravam diante dela em seqüência, havendo já desaparecido os sentidos exteriores. A alma passava por uma série de experiências, evitando destarte a necessidade de um renascimento e tornando possível a União com o Espírito. A alma foi por fim despojada de sua sutil vestimenta antes de atin­gir o seu Destino final, a Paz Suprema da Liberação da qual não se volta à ignorância.

Embora fosse potente a ajuda dada por Sri Bhagavan, foi a santidade de Alagammal, sua prévia renúncia ao orgulho, que lhe permitiram beneficiar-se dela. Ele disse mais tarde: - Sim, no caso dela foi um sucesso; numa ocasião anterior fiz o mesmo a Palaniswami quando o fim se aproximava, mas foi um fracasso. Ele abriu os olhos e morreu. - Bhagavan acrescentou, porém, que o insucesso não foi total no caso de Palaniswami, pois embora o ego não tenha sido reabsorvido no Si, a maneira pela qual se deu a partida deu indicações de um bom renascimento.

Frequentemente quando os devotos padeciam de aflições, Sri Bhagavan recordava-lhes que apenas o corpo morre e apenas a ilusão do "eu sou o corpo" faz a morte parecer uma tragédia.

(in Arthur Osborne, Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento - Ed. Pensamento - pags.87-88)

Um comentário:

Domingos disse...

Livro Evangelho de Maharshi, em português, sriramanamaharshi.org, Digital Library.