domingo, 21 de março de 2010

As estranhas experiências de Robert Monroe (3)


INFINITO, ETERNIDADE

Por: Robert Monroe



A melhor apresentação do Local II é sugerir uma sala com um cartaz acima da porta dizendo: "por favor, verifique todos os conceitos sobre o físico aqui". Se acostumar-se à idéia de um Segundo Corpo foi experiência árdua, o Local II poderá ser mais difícil de aceitar. Certamente produzirá efeitos emocionais à medida que avulte diante daquilo que sempre aceitamos como realidade. E o que é mais: muitas de nossas doutrinas religiosas e suas interpretações tornam-se abertas ao questionamento.



Basta dizer que apenas pequena porção das visitas ao Local II através do Segundo Corpo forneceu dados evidenciais, já que essas visitas por si mesmas não levam facilmente a comprovações. Sendo assim, muito do material sobre o Local II é cautelosa extrapolação. No entanto, várias centenas de experimentos nessa área específica apresentaram consistência decisiva. Se A mais B é igual a C sessenta e três vezes, existe alto índice de probabilidade de que A mais B será igual a C a sexagésima quarta vez.



Postulado: o Local II é um ambiente não-material com leis de movimento e matéria apenas remotamente relacionadas com o mundo físico. É imensidade cujas fronteiras são desconhecidas (ao experimentador), e tem profundidade e dimensão incompreensíveis para a mente finita, consciente. Nessa vastidão jazem todos os aspectos que atribuímos a céu e inferno (veja capítulo 8), que não passam de parte do Local lI. É habitado, se é esse o termo, por entidades com vários graus de inteligência, e com quem é possível a comunicação.



Como se viu em análise porcentual num dos últimos capítulos, as regras fundamentais são alteradas no Local lI: o tempo não existe pelos padrões do mundo físico. Existe, sim, uma seqüência de acontecimentos, um passado e um futuro, mas nenhuma divisão cíclica. Ambos continuam a existir coincidentemente com o "agora". Medidas, desde microssegundos até milênios, são inúteis. Outras medidas podem representar esses fatores em cálculos abstratos, mas sem uma garantia. Leis de conservação da energia, teorias de campos de força, mecânica ondulatória, gravidade, estrutura da matéria, todas aguardam comprovação pelos mais versados no assunto.



Suplantando tudo surge uma lei principal. É o Local II um estado, um modo de ser onde aquilo que rotulamos de pensamento é a mola-mestra da existência. É a força criativa vital que produz energia, agrupa "matéria" num formato, e fornece canais de percepção e comunicação. Suspeito que o próprio eu ou alma, no Local II nada mais é do que um vórtice ou uma deformação organizada nessa regra fundamental. O que você pensa é o que você é.



Em tal ambiente não se encontram aparatos mecânicos, nenhum automóvel, barco, avião ou foguete é necessário para o transporte. Você pensa em movimento e ele existe. Nada de telefone, rádio, televisão e outros recursos de comunicação têm valor. A comunicação é instantânea. Nenhuma fazenda, jardim, rancho de criação, fábrica de beneficiamento ou mercado de varejo estão em evidência. Em todas as visitas experimentais não houve indicação da necessidade de energia alimentar. Como é substituída a energia, se for verdadeiramente despendida, não se sabe.



O "mero" pensamento é a força que supre qualquer necessidade ou desejo, e o que você pensa é a matriz de sua ação, situação e posição nessa realidade maior. Esta é essencialmente a mensagem que a religião e a filosofia têm procurado transmitir através dos séculos, embora talvez menos nebulosa e freqüentemente deturpada.

Um aspecto aprendido nessa atmosfera de pensamento explica muito; é o seguinte: Igual atrai igual.

Eu não sabia que existia essa regra funcionando tão especificamente. Até então fora para mim nada mais nada menos que uma abstração. Projete isso para fora e você começará a gozar das infinitas variações encontradas no Local II. Seu destino parece fixado completamente inserido na moldura das mais íntimas e constantes motivações, emoções e desejos. Você pode não querer "ir" até lá, mas não tem escolha. Sua "supermente" (alma?) é mais forte e geralmente toma as decisões por você. Igual atrai igual.



O aspecto interessante desse mundo (ou mundos) de pensamentos do Local II é que se percebe o que parece matéria sólida, bem como artefatos comuns ao mundo físico. São trazidos à "existência", logicamente, por três fontes. Primeira: são produto do pensamento daqueles que certa vez viveram no mundo físico, cujos padrões persistem: Isso se efetua quase automaticamente, sem intenção proposital. Segunda fonte: são aqueles que gostaram de certas coisas materiais no mundo físico, as quais recriaram aparentemente para valorizar seu meio-ambiente no Local II. A terceira fonte presumo seja uma ordem mais elevada de seres inteligentes mais cônscia do meio-ambiente do Local II do que a maioria dos habitantes .. Seu objetivo parece o de simular o ambiente físico temporariamente, pelo menos para benefício dos que emergem naquele momento do mundo físico, após a "morte". Isso é feito para reduzir o trauma e o choque dos "recém-chegados" pela apresentação de figuras e ambientes, a eles familiares, nos primeiros estágios de entendimento.



A esta altura pode-se começar a entender o relacionamento do Segundo Corpo com o Local II. Este é o meio-ambiente natural do Segundo Corpo. Os princípios envolvidos em sua ação, composição, percepção e em seu controle correspondem todos aos do Local II. Foi por isso, então, que a maioria das tentativas de viagens experimentais me levou involuntariamente a algum ponto no Local II. Basicamente, o Segundo Corpo não é deste mundo físico. Aplicá-lo para visitar a casa de fulano ou outra destinação física é como pedir a um mergulhador para descer até o fundo do oceano sem aparelhagem ou traje de mergulho. Ele poderá fazê-lo, mas não durante muito tempo, e não por muitas vezes. Por outro lado, ele pode caminhar um quilômetro diariamente até o trabalho sem efeitos secundários. Logo, viajar para certos lugares do mundo físico é um: processo "forçado" no estado do Segundo Corpo. Recebendo a oportunidade para a mais leve relaxação mental, a supermente o guiará, no seu Segundo Corpo, até o Local II. Este é o ato "natural".



Nosso conceito tradicional de lugar sofre duramente quando aplicado ao Local II. Parece interpenetrar em nosso mundo físico, porém estende fronteiras sem limites além da compreensão. Têm surgido muitas teorias na literatura, através dos tempos, quanto ao "onde", mas poucas inspiram a moderna mente científica.



Todas as visitas experimentais a essa área pouco ajudaram na formulação de teoria mais aceitável. A melhor é o conceito de vibrações de ondas, que presume a existência de uma infinidade de mundos, todos operando em seqüências diferentes, uma das quais é este mundo físico. Assim como diversas freqüências de ondas no espectro eletromagnético podem simultaneamente ocupar espaço com um mínimo de interação, também o mundo ou mundos do Local II se podem dispersar pelo nosso mundo de matéria física. A não ser por condições raras ou invulgares, nossos sentidos "naturais" e nossos instrumentos, que são extensões deles, são totalmente incapazes de assimilar e relatar esse potencial. Se aceitarmos essa premissa, o "onde" é explicado minuciosamente. "Onde" é "aqui".



A história das ciências humanas reforça essa premissa. Não tínhamos sequer a idéia de que existiam sons além do alcance do ouvido humano até inventarmos instrumentos para detectá-los, medi-los e criá-los. Até época relativamente recente, aqueles que afirmavam poder escutar o que outros não conseguiam eram considerados loucos ou perseguidos como bruxas e feiticeiros. Entendíamos o espectro eletromagnético apenas em termos de calor e luz até o último século. Desconhecemos ainda a capacidade do cérebro humano, organismo eletroquímico, em termos de transmissão e recepção de radiação eletromagnética. Com esse vácuo não preenchido é fácil compreender por que a ciência moderna não começou a levar a sério a capacidade da mente humana em penetrar numa área onde nenhuma teoria séria já foi promulgada.



Há tanta coisa para relatar acerca do Local II que seria impraticável repetir citações diretamente das centenas de páginas de anotações. Visitas próximas ou longínquas ao Local II resumem a maior parte dos relatórios no decorrer dos capítulos subseqüentes. É a soma de experiências consistentes que pode deixar o padrão em evidência e apresentar perguntas a exigir respostas. Para cada fator conhecido pode haver um milhão de desconhecidos, mas pelo menos aqui existe um ponto de partida.



No Local II a realidade é composta dos mais profundos desejos e dos medos mais desvairados. Pensamento é ação, e nenhuma camada secreta de condicionamento ou inibição protegerá o seu âmago contra os outros, onde a honestidade é a melhor política, porque não pode ser de outra forma.



Pelos padrões básicos descritos acima, a existência é com certeza diferente. É essa diferença que gera os maiores problemas de adaptação, mesmo quando tentando visitar lá enquanto no Segundo Corpo. A tosca emoção tão cuidadosamente reprimida em nossa civilização física é desencadeada a plena força. Dizer que no princípio é esmagador seria gigantesca atenuação da verdade. Na vida consciente física tal estado seria considerado psicótico.



Minhas primeiras visitas ao Local II trouxeram à tona todos os padrões emocionais reprimidos que eu nem mesmo remotamente supunha ter, mais outros tantos que eu não sabia existirem. E dominaram de tal forma minhas ações que reagi completamente confuso e envergonhado diante de sua enormidade e de minha incapacidade para controlá-los. Medo era o tema dominante, medo do desconhecido, de seres estranhos (não físicos), da "morte", de Deus, do rompimento dos preconceitos, da descoberta, e da dor, para citar apenas alguns. Tais receios eram mais fortes do que o impulso sexual para a união, o qual, conforme relatado em algum outro ponto da obra, era por si só um tremendo obstáculo.



Um a um, dolorosa e laboriosamente, os incontroláveis padrões emocionais em explosão tiveram de ser "domados". Até se conseguir isso não foi possível nenhum pensamento racional. Sem consistência rigorosa, eles começam a retornar. A operação se assemelha a um lento aprendizado, desde a irracionalidade até o calmo e objetivo raciocínio. Uma criança aprende a ser "civilizada" durante seu crescimento na infância até o estado adulto. Desconfio que o mesmo acorra integralmente, de novo, na adaptação ao Local II. Se não acontece na vida física, torna-se fator primordial na morte.



Isso significa que as áreas do Local II "mais pr6ximas" do mundo físico (em freqüência vibratória?) são povoadas, na maior parte, por loucos ou quase loucos, seres impulsionados emocionalmente. Isso parece aplicar-se à maioria dos casos. Eles incluem os vivos, mas dormindo ou drogados, e usando seu Segundo Corpo; e muito provavelmente os "mortos", mas ainda impulsionados emocionalmente. Há provas em favor do primeiro caso, e o último parece provável.



Muito compreensivelmente, essa área próxima não é lugar de permanência agradável. É um nível ou plano ao qual você "pertence" até aprender mais. Não sei o que acontece àqueles que não aprendem. Talvez fiquem por ali eternamente. No instante em que você se dissocia do físico por meio do Segundo Corpo, coloca-se às margens dessa seção próxima do Local II. Aqui se encontram todas as espécies de personalidades desajustadas e seres animados. Se existe algum mecanismo protetor do neófito, para mim não ficou aparente. Somente através de experimentos cautelosos e às vezes aterradores fui capaz de aprender a arte ou truque de atravessar essa área. Ainda não estou precisamente seguro acerca de todos os itens desse processo de aprendizado, pois somente presenciei o óbvio. Seja qual for o processo, felizmente não tenho encontrado problemas nessas paragens há vários anos.



A parte os atormentadores e os diversos conflitos totais inseridos nos relatórios seguintes, a principal motivação desses habitantes vizinhos é a liberdade sexual sob todas as formas. Se considerados como produto de civilizações recentes, incluindo tanto os "vivos, porém dormindo" e os "mortos", é muito simples entender a necessidade de libertação da repressão dessa função básica. A chave da coisa está em que todos nessa seção próxima tentam praticar sexualidade em termos de corpo físico. Não há conscientização ou conhecimento do impulso sexual como ele se manifesta em partes mais distantes do Local II. Com o prolongado condicionamento de nossa própria sociedade, foi difícil evitar participação, às vezes, já que a reação era automática. Promissoramente, aprende-se a controlar tal fator.



Igual atrai igual.



Até hoje não observei o processo da morte em quaisquer experimentos. Contudo, a conclusão de que certa forma de existência no Local II imita atividade vital no mundo físico conhecido ultrapassa a conjectura.



Experiências semelhantes à seguinte, consistentes no seu conteúdo pelos últimos doze anos, podem ser explicadas por algum outro conceito. A esta altura nada mais se encaixa tão detalhadamente.



Certa ocasião eu acabara de deixar o físico quando senti necessidade urgente de ir 'a "algum lugar". Obedecendo à insistência, desloquei-me pelo que me pareceu distância curta e parei subitamente num quarto de dormir. Um menino estava deitado sozinho. Parecia ter dez ou doze anos, e aquela percepção íntima de identidade, agora familiar para mim, funcionava, ao invés de apenas "ver". O garoto, solitário e amedrontado, parecia doente. Fiquei perto dele algum tempo, tentando confortá-lo; finalmente parti quando se acalmou, prometendo voltar. Foi rotineira a viagem de retorno ao físico, e não tive noção de onde estivera.



Várias semanas depois deixei o físico e estava a ponto de concentrar-me num destino definido quando o mesmo garoto entrou em cena. Viu-me e se aproximou de mim. Espantado, mas não com medo.



Olhou-me e perguntou:



- Que é que faço agora?



Não consegui pensar numa resposta de imediato, por isso passei meu braço pelo seu ombro e dei-lhe um apertão carinhoso. Pensei: quem sou eu para instruir ou dar conselhos no que parecia um momento vital? O menino sentiu-se seguro com minha presença e descontraiu-se.



- Para onde irei? - perguntou, automaticamente.



Dei-lhe a única resposta que pareceu lógica para o momento.



Disse-lhe que aguardasse exatamente onde estava: que alguns amigos seus logo chegariam e o levariam para onde deveria ir.



Isso pareceu satisfazê-lo, e mantive meu braço em torno dele por algum tempo. Depois fiquei nervoso diante de um sinal do corpo físico, dei-lhe um tapinha no ombro e parti. Regressando ao físico descobri meu pescoço enrijecido devido a uma posição incômoda. Após endireitá-lo, tive êxito em reentrar no Segundo Corpo e procurar o garoto: ele se fora, pelo menos não consegui achá-lo.



Esclarecimento interessante: no dia seguinte os jornais traziam a história da morte de um menino de dez anos de idade após doença prolongada. Morrera à tarde, logo após o início de meu experimento. Tentei pensar em algum pretexto aceitável para abordar seus pais e obter uma confirmação, e talvez aliviar-lhes a dor, porém não achei saída.



Só quando você passou do estágio da "emoção irracional” é que penetra nos inúmeros, mas evidentemente organizados grupos de atividades do Local II. Impossível transmitir a outra pessoa a "realidade” dessa eternidade não física. Como muitos já declararam em séculos passados: deve-se fazer a experiência.



Mais importante ainda: em diversos lugares visitados, os habitantes "ainda" são humanos. Diferentes, num ambiente diverso, porém ainda com atributos humanos (compreensível).



Em certa visita fui parar num local parecido com um parque, onde havia flores, árvores e grama Cuidadosamente tratadas, lembrando muito uma alameda com trilhas cortando a área. Havia bancos ao longo dos caminhos, e centenas de homens e mulheres passeando ou sentados nos bancos. Alguns, bastante calmos, outros um tanto apreensivos, e muitos apresentavam um olhar desorientado, aturdido, chocado. Pareciam inseguros, não sabendo o que fazer ou o que iria acontecer em seguida.



De certa forma eu sabia ser um ponto de encontro, onde recém chegados esperavam por amigos ou parentes. Dessa Praça de Encontros tais amigos levariam cada novato ao devido lugar a que "pertencia". Não consegui achar outro motivo para demorar mais, não havia ali ninguém que eu conhecesse, por isso regressei ao físico sem incidentes.



Em outra oportunidade, deliberadamente saí em exploração, na esperança de encontrar uma resposta para trazer de volta. Após dissociar-me e entrar no Segundo Corpo, comecei a deslocar-me velozmente à medida que me concentrava no pensamento "desejo ir onde existam inteligências mais elevadas". Permaneci concentrado enquanto percorria rapidamente um vácuo parecendo interminável. Finalmente parei. Estava num vale estreito de aparência normal. Havia homens e mulheres usando túnicas escuras até a altura dos tornozelos. Dessa vez resolvi, por alguma razão, mudar de estratégia. Aproximei-me de várias mulheres, perguntando-lhes se sabiam quem eu era. Foram todas muito delicadas, tratando-me com grande respeito, mas suas respostas foram negativas. Afastei-me e fiz a mesma pergunta a um homem que usava bata de monge, o qual me pareceu assustadoramente conhecido:



- Sim, eu o conheço - replicou o homem.



Havia forte senso de compreensão e amizade na sua atitude. Perguntei-lhe se realmente sabia quem eu era. Olhou-me como se visse um velho amigo querido que agora sofresse de amnésia:

- Saberá - sorria gentilmente ao dizer isso.



Perguntei-lhe se sabia quem eu fora ultimamente. Tentava forçá-lo a dizer meu nome.



- Ultimamente foi um monge em Coshocton, Pensilvânia respondeu.



Comecei a ficar inquieto e saí me desculpando, regressando ao físico.



Recentemente um amigo meu, padre católico, teve o trabalho de investigar essa possibilidade de um monasticismo de vida pregressa. Para minha surpresa e contentamento existe um obscuro mosteiro perto de Coshocton. Ofereceu-se para levar-me até lá numa visita, mas não houve tempo (coragem?) ... Talvez algum dia ...



Poderia descrever muitas outras dessas experiências sem detalhar completamente os objetivos e dimensões do Local II. Houve visitas a um grupo aparentemente usando uniformes, e operando equipamento altamente técnico; identificava-se como "Exército do Alvo" (interpretação mental do que foi dito). Havia centenas deles, cada qual aguardando "missões". Seus objetivos não foram revelados.



Outra visita levou-me a uma bem organizada cidade, onde minha presença foi imediatamente interpretada como hostil. Só adotando ação evasiva, correndo, escondendo-me, e finalmente subindo direto, fui capaz de evitar a "captura". Não sei que ameaça eu significava para eles.



Com característica mais direta, o surgimento de ações muito agressivas tendeu a confirmar novamente que o Local II não é tão somente um lugar de serenidade e não conflito. Em mais uma viagem fui abordado por um homem vestido convencionalmente. Com cautela, aguardei para ver o que faria.



- Conhece ou lembra-se de Arrosio Le Franco? – perguntou-me abruptamente.



Respondi que não, ainda cuidadoso.



- Tenho certeza de que se recordará, se pensar no passado - disse o homem, com firmeza.



Havia nele uma atitude dominadora que me tornou nervoso.



Repliquei ter certeza de não me lembrar de ninguém com esse nome.

- Conhece alguém lá embaixo? - perguntou.



Eu acabara de explicar que não quando de súbito me senti vacilante, e então o homem segurou-me. Pegou um dos meus braços enquanto eu sentia mais alguém pegar o outro, e começaram a arrastar-me em direção ao que pareceram três fortes focos de luz. Lutei até desvencilhar-me, quando me lembrei do sinal de "ir-para-o-físico·. Mexi-me velozmente e, após curto prazo, achei-me de volta ao escritório e ao físico. Evidentemente, esperava, eu fora confundido com outrem.



Outra viagem, ainda, teve atributos "humanos". Eu chegara a um lugar em nada específico, apenas tudo cinza, e tentava resolver o que fazer, quando uma mulher se aproximou de mim.



- Sou da igreja... e estou aqui para ajudá-lo - falou calmamente.



Chegou mais perto, e imediatamente senti a sexualidade latente porém me detive, pois achava que a igreja. .. não pensava nesse tipo de ajuda. Enganei-me.



Após um instante agradeci-lhe e me virei para ver um homem de pé ali perto, vigiando.



"Falou" com voz forte, pesada de sarcasmo:



- Então, agora já está pronto para aprender os segredos do universo?



Disfarcei minha vergonha perguntando quem era.



- Albert Mather! - quase berrou. Também tive a impressão de que me chamava por esse nome.

- Espero que esteja preparado - prosseguiu, elevando a voz com raiva - porque ninguém se deu ao trabalho de me contar quando eu estava lá.



Não ouvi o resto. Foi como se houvesse interferência estática de um rugido. Afastei-me, sem saber ao certo como sua raiva iria desabafar, e retornei ao físico rotineiramente. Verificando depois, não descobri registro histórico significativo a respeito de Albert Mather (com "a" longo), que parece não ter relação com o sacerdote Cotton Mather, do século dezoito.



Outras experiências no Local II foram mais amistosas, conforme indicamos em outros pontos desta obra. Na maioria não há padrão discernível para o que me atraiu até algumas das estranhas situações. Talvez isto surja eventualmente.



Duas invulgares ocorrências repetidas devem ser acrescentadas aos acontecimentos nessa área. Certo número de vezes o movimento de viagem, geralmente rápido e suave, foi interrompido pelo que se assemelhava a uma forte rajada de vento, parecida com um furacão, no espaço através do qual nos deslocamos. É como se fôssemos empurrados para longe por essa força incontrolável, jogados pelos cantos à revelia, como uma folha num temporal. Impossível alguém mover-se contra essa torrente ou fazer qualquer coisa além de deixar-se carregar. Finalmente se é cuspido para a margem da corrente, depois se cai fora, ileso. Não há nada que identifique isso, mas parece de criação natural, ao invés de artificial.



A segunda ocorrência é o sinal no céu. Observei isso em cinco ou seis ocasiões quando escoltado pelos "auxiliadores". É uma série inacreditável de símbolos toscos pendurados em arco diretamente através de uma seção do Local II. Quando em movimento pela área, todo mundo tem de rodear essa barreira, pois é sólida, irremovível, imutável.



Os símbolos, pelo melhor que minha "visão" pôde estabelecer, eram toscos, ilustrações semelhantes a colagens de um homem, uma mulher idosa, uma casa, e o que pareciam equações algébricas. Foi com um dos "auxiliadores" que aprendi a história do sinal. Contou-me com certo humor, quase apologeticamente.



Parece que há um tempo atrás quase infinito uma mulher muito rica (por que padrões não se sabe) e poderosa quis certificar-se de que seu filho iria para o céu. Uma igreja ofereceu-lhe essa garantia desde que a mulher lhe desse enorme soma de dinheiro (sic). Ela pagou à igreja, mas o filho não entrou no céu. De raiva e por vingança a mãe empregou tudo que lhe sobrara em dinheiro e poder para mandar colocar o sinal nos céus para que, por toda a eternidade, todos soubessem da desonestidade e patifaria da igreja.



Foi um trabalho bem feito. Os nomes da mulher, de seu filho e da igreja perderam-se no tempo. Mas o sinal permanece, intocável aos esforços dos cientistas, através dos tempos, para reduzi-lo ou destruí-lo. A origem da desculpa e do ligeiro constrangimento não é a perfídia de alguma seita obscura, mas a incapacidade de todos em retirar o sinal! Como resultado, todos os estudos científicos nesta parte do Local II devem necessariamente incluí-lo. Seria quase a mesma coisa se alguém criasse artificialmente um elemento entre cobalto e cobre. Se você estudasse química teria, por necessidade, de incluir esse elemento "esquisito". Ou se uma gigantesca lua artificial fosse criada, e estivesse além de nossa ciência o trazê-la para baixo, estudantes de astronomia incluiriam isso em suas aulas como fato corriqueiro.



Essa é a história conforme me foi contada.



A maior dificuldade é a incapacidade da mente consciente, treinada e condicionada num mundo físico, aceitar a existência desse infinito Local lI. Nossas jovens ciências mentais ocidentais tendem a negar sua existência. Nossas religiões o afirmam numa abstração ampla, distorcida. As ciências aceitas contradizem tal possibilidade) mas não encontram provas confirmatórias através de seus instrumentos de pesquisa e mensuração.



Acima de tudo há a Barreira. Por que existe, não é do real conhecimento de alguém, pelo menos no mundo ocidental. É a mesma tela que se abaixa quando você acorda do sono, apagando seu último sonho, ou a lembrança de sua visita ao Local II. Não quero dizer que obrigatoriamente todo sonho é produto de uma visita ao Local lI. Mas alguns deles bem podem ser a configuração de experiências nesse terreno.



A configuração, simbolização da experiência no Local lI, não faz necessariamente parte da Barreira. Ao contrário, parece ser o esforço do consciente para interpretar eventos superconscientes no Local II que estão acima de sua capacidade de compreender ou definir. A observação por meio do Segundo Corpo no· Local II (aqui-agora) provou que as funções e ações mais comuns eram sujeitas a má interpretação, especialmente quando observadas fora do contexto. O Local lI, ambiente totalmente desconhecido do consciente, oferece essa margem tão maior de erro interpretativo.



Como se pode deduzir, desconfio que muitos, a maioria, ou todos os seres humanos visitam o Local II em algum momento durante o sono. Por que tais visitas são necessárias, não sei. Talvez um dia nossas ciências vitais desvendem esses conhecimentos, e nova era nascerá para a humanidade. Com ela virá uma ciência inteiramente inédita, baseada nos dados sobre o· Local II e nosso relacionamento com esse mundo maravilhoso.



Algum dia. Se a humanidade conseguir agüentar até lá.





(Extraído do livro de Robert Monroe, "Viagens Fora do Corpo" - cap. V.)


2 comentários:

vkitsis disse...

Local II me pareceu muito semelhante aos bardos, vc não acha?

jholland disse...

Sim, trata-se daquilo que em algumas correntes da ioga chamam de corpo sutil.

No caso do Bardo, a travessia do corpo sutil constitui apenas uma das fases, já que, no processo de morte, atravessamos todos os corpos para então retornarmos para o corpo físico, fechando-se o ciclo.

A maioria das tradições ióguicas tem por prática a travessia de todos os "corpos-consciências", desde o mais grosseiro até o mais sutil, o que somente é obtido por meio de uma espécie de supra-consciência - é o processo de auto-realização.