domingo, 7 de março de 2010

O Caminho para a Aceitação


Duas chaves muito simples, porém difíceis de serem colocadas em prática, constituem os fundamentos da não-dualidade:

1. esforçar-se para estar aqui e agora, do jeito que é; e
2. ser uno com o que está sendo, do jeito que é.

Lembrem-se que as impressões negativas e dolorosas do passado ganham força justamente porque não conseguimos dizer sim a elas, aceitá-las e, portanto, os acontecimentos são reprimidos e rejeitados. Por esses mesmos motivos, é o passado que nos impede de estar aqui e agora, de nos desapegar.

Encontramo-nos então na presença da palavra-mestra de nossas vidas, verdadeiro pilar de nossas vidas: a aceitação. Dizer sim ao que está sendo, aceitando até o inaceitável ou o inevitável, é algo que se encontra em todas as tradições. Os mestres zen dizem ‘parem de se opor’. O que corresponde a ver e reconhecer. Para poder dizer sim ao que é, é necessário dizer sim ao que foi. Aceitando retrospectivamente os acontecimentos negativos do passado, os conflitos e as dualidades se dissipam, os vestígios do carma se apagam.

Para muitos de nós e conforme a gravidade dos acontecimentos, a aceitação é insuportável, chocante, e pode ter uma conotação moralista, sendo assimilada à fatalidade ou à resignação. Não se preocupem, esse principio da aceitação é uma ciência, a ciência da não-dualidade. A aceitação, a adesão, a não-dualidade em relação ao inevitável (do dois nasce o sofrimento) acontecem aqui e agora, sem nenhuma consideração em relação ao futuro: ISSO É. O que está sendo, é; o que não está sendo, não é. Isso sendo, isso é; isso acabando, isso acaba.

Mas a aceitação não implica em nenhum compromisso para o futuro, nem bloqueia a ação. O futuro fica aberto, a ação permanece. Vocês poderão notar que a adesão ao que é faz desaparecer a emoção, porque quando nos situamos no aqui e agora, nos situamos na realidade. Essa atitude de não-conflito que tende para a supressão das emoções leva a uma ação lúcida, não viciada por uma revolta ou recusa. A emoção não é criada pelo fato em si, por mais penoso que seja, mas pela recusa do fato, a coexistência do sim e do não. Essa emoção que não existia antes é fadada inevitavelmente a desaparecer. Visto que houve um começo, deve ter um fim. Nenhuma alegria, nenhum sofrimento, podem durar eternamente. A emoção nasce, se desenvolve e morre, salvo se impedirmos seu curso natural. É isso que fazemos quando não aceitamos as coisas tais como elas são.”

Venerável Tawalama Dhammika



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