Entrevista com John Searle
(realizada em 2006)
John Searle (Denver, 1932), considerado uma das eminências da filosofia contemporânea, é também um dos pensadores mais críticos à noção da inteligência artificial. Professor da Universidade de Berkeley, ele sustenta que os computadores nunca chegarão a substituir a mente humana.
O jornal El País, 3-10-2006, publicou a seguinte entrevista com ele.
Você mantém hoje, 25 anos depois, as mesmas teses que propôs com sua imagem da habitação chinesa?
Sem dúvida. O principal erro da inteligência artificial é pensar que o ser humano pode funcionar sem cérebro, como um computador. No computador se podem fazer muitas simulações (meteriológicas, por exemplo), mas não são reais. O cérebro é uma máquina cujo funcionamento não conhecemos; logo, é impossível reproduzi-lo. É muito mais complexo, uma vez que se rege por um sistema bioquímico. O crucial do pensamento é que ele funciona mediante transferências de energia, com um complexo sistema aleatório, o que não é possível com os computadores.
Porém, no ritmo em que avançam as tecnologias, é possível que nós humanos acabemos sendo prisioneiros dos computadores?
Não. A única possibilidade que isso ocorra é que as máquinas acabem tendo consciência. Nesse momento haveria uma rivalidade entre a consciência humana e a artificial, porém atualmente não sabemos como se cria a segunda. Se todos os computadores do mundo desenvolvessem uma consciência, haveria, sim, motivos para preocupar-se. Mas não há perigo: o pensamento não é apenas um programa informático. Podemos estar preocupados por muitas questões que se passam no mundo, porém não pelo fato de que os computadores cheguem a suplantar-nos.
Está se configurando um novo ser humano a partir da revolução tecnológica?
Não, mas estamos entrando numa nova era da filosofia. Este século, diversamente do anterior, que foi o da física, será o das neurociências. Hoje é muito necessária uma concepção filosófica que aglutine todas as ciências que estudam o ser humano, como a neurobiologia, a química, a física, as ciências naturais... A neurobiologia está indo mais longe que a filosofia e está projetando alguma luz sobre o conceito de consciência sob o ponto de vista filosófico.
Quais são as últimas averiguações sobre a linguagem?
No terreno da reflexão lingüística é preciso estudar de que forma a linguagem constitui a sociedade. Os animais têm grupos sociais, porém não têm nada parecido com a civilização humana. Por quê? Porque esta é a conseqüência da linguagem. A linguagem não só facilita a civilização, mas também a cria. O dinheiro, as férias, o governo, o matrimônio... tudo está constituído pela linguagem. A linguagem é o fundamental nas relações humanas.
Qual sua opinião sobre a gramática generativa de Chomsky?
Mudou tanto que já não sabemos o que é. Sofreu quatro revoluções e hoje não se sabe onde está Chomsky em gramática. Está no ar, sem definir. Porém Chomsky é o lingüista mais importante do mundo.
(realizada em 2006)
John Searle (Denver, 1932), considerado uma das eminências da filosofia contemporânea, é também um dos pensadores mais críticos à noção da inteligência artificial. Professor da Universidade de Berkeley, ele sustenta que os computadores nunca chegarão a substituir a mente humana.
O jornal El País, 3-10-2006, publicou a seguinte entrevista com ele.
Você mantém hoje, 25 anos depois, as mesmas teses que propôs com sua imagem da habitação chinesa?
Sem dúvida. O principal erro da inteligência artificial é pensar que o ser humano pode funcionar sem cérebro, como um computador. No computador se podem fazer muitas simulações (meteriológicas, por exemplo), mas não são reais. O cérebro é uma máquina cujo funcionamento não conhecemos; logo, é impossível reproduzi-lo. É muito mais complexo, uma vez que se rege por um sistema bioquímico. O crucial do pensamento é que ele funciona mediante transferências de energia, com um complexo sistema aleatório, o que não é possível com os computadores.
Porém, no ritmo em que avançam as tecnologias, é possível que nós humanos acabemos sendo prisioneiros dos computadores?
Não. A única possibilidade que isso ocorra é que as máquinas acabem tendo consciência. Nesse momento haveria uma rivalidade entre a consciência humana e a artificial, porém atualmente não sabemos como se cria a segunda. Se todos os computadores do mundo desenvolvessem uma consciência, haveria, sim, motivos para preocupar-se. Mas não há perigo: o pensamento não é apenas um programa informático. Podemos estar preocupados por muitas questões que se passam no mundo, porém não pelo fato de que os computadores cheguem a suplantar-nos.
Está se configurando um novo ser humano a partir da revolução tecnológica?
Não, mas estamos entrando numa nova era da filosofia. Este século, diversamente do anterior, que foi o da física, será o das neurociências. Hoje é muito necessária uma concepção filosófica que aglutine todas as ciências que estudam o ser humano, como a neurobiologia, a química, a física, as ciências naturais... A neurobiologia está indo mais longe que a filosofia e está projetando alguma luz sobre o conceito de consciência sob o ponto de vista filosófico.
Quais são as últimas averiguações sobre a linguagem?
No terreno da reflexão lingüística é preciso estudar de que forma a linguagem constitui a sociedade. Os animais têm grupos sociais, porém não têm nada parecido com a civilização humana. Por quê? Porque esta é a conseqüência da linguagem. A linguagem não só facilita a civilização, mas também a cria. O dinheiro, as férias, o governo, o matrimônio... tudo está constituído pela linguagem. A linguagem é o fundamental nas relações humanas.
Qual sua opinião sobre a gramática generativa de Chomsky?
Mudou tanto que já não sabemos o que é. Sofreu quatro revoluções e hoje não se sabe onde está Chomsky em gramática. Está no ar, sem definir. Porém Chomsky é o lingüista mais importante do mundo.
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