segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Não percamos tempo



Certo dia, durante uma tempestade, um asceta chamado Utia veio visitar o Buda. Ananda condizui-o até a choupana e apresentou-o a Sidarta. O homem foi convidado a sentar-se, e Ananda ofereceu-lhe uma toalha para que pudesse se secar.




Utia perguntou: " Monge Gautama, o mundo é eterno ou irá perecer algum dia ?"




O Buda sorriu e disse: "Asceta Utia, com sua licença, não vou responder a esta questão."




Utia, então, perguntou: "O mundo é finito ou infinito ?"




"Declino de responder a esta questão também."




"Bem, então o corpo e o espírito são um ou dois?"




"Também não responderei a esta questão."




"Após sua morte, voce continuará a existir ou não?"




"Esta questão também não vou responder."




"Ou talvez voce sustente que, após sua morte, nem continuará a existir, nem cessará de existir."




"Asceta Uscita, não responderei a tal questão igualmente."




Utia olhou perplexo. Ele disse: "Monge Gautama, voce se recusou a responder a todas as minhas perguntas. Qual questão responderia ?"




O Buda asseverou: "Só respondo questões diretamente ligadas à prática de alcançar a maestria em relação à mente e corpo, a fim de superar todas as preocupações e ansiedades."




"Quantas pessoas neste mundo voce imagina que seu ensinamento pode ajudar?"




O Buda ficou sentado em silêncio. Utia não disse mais nada.






(...)






Poucos dias mais tarde, um outro asceta, chamado Vachagota, veio vê-lo e fez questionamentos de natureza similar. Por exemplo, ele perguntou: "Monge Gautama, voce poderia, por favor, dizer-me se há ou não um eu?"




O Buda sentou em silêncio e não disse uma palavra. Depois de várias indagações sem receber retorno, Vachagota levantou e saiu. Após ter partido, Venerável Ananda agüiu: "O Senhor fala acerca do não-eu em suas palestras-Dharma. Por que não respondeu às questões de Vachagota acerca do eu?"




O Buda respondeu: "Ananda, o ensinamento sobre a vacuidade do eu faz sentido enquanto guia para nossa meditação. Ele não deve ser tomado como uma doutrina. Se as pessoas o tomarem como doutrina, acabarão enredadas por ela. Tenho dito, com freqüência, que o ensinamento deveria ser considerado como uma canoa que é útil para atravessar até a outra margem, ou como o dedo que aponta para a lua.



Não devemos nos deixar aprisionar pelo ensinamento. O asceta Vachagota desejava que eu lhe dissesse a ele que há um eu, isso contradiria meu ensinamento. Se dissesse a ele, porém, que não há um eu, e ele se fixasse nisso como sendo uma doutrina, tal não lhe traria qualquer benefício. É melhor permanecer em silêncio do que responder essas perguntas. É melhor que as pessoas pensem que não sei a resposta para tais questões do que serem apanhadas nas armadilhas da visão estreita."








(Extraído do livro de Thich Nhat Hanh, "Velho Caminho, Nuvens Brancas - Seguindo as Pegadas do Buda, trad. Enio Burgos)




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