quarta-feira, 3 de setembro de 2008

MEDITAÇÃO NOS OBJETOS SENSORIAIS


Por: Tenzin Wangyal Rinpoche

Do livro "Yogas Tibétains du Revê et du Sommeil"
Traduzido do inglês por Tancrède Montmartel
Traduzido ao português por Karma Tenpa Dargye

(Extraído de: http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1163)



Cada respiração pode ser uma prática. Inspirando, imaginemos absorver energias puras, purificadoras, repousantes. A cada expiração, imaginemos que expulsamos todos os obstáculos, as tensões e as emoções negativas. Não é necessário para isso sentar-se em um lugar especial. Podemos fazê-lo no carro indo trabalhar, esperando o sinal abrir, sentado diante do computador, durante a preparação do almoço, limpando a casa, ou caminhando.

Uma prática poderosa, ainda que simples, consiste em tentar manter continuamente a presença no corpo durante o dia. Sintamos o corpo em sua totalidade. A mente é pior que um macaco louco, saltando de uma coisa para outra, incapaz de se concentrar sobre uma delas. Mas o corpo é uma fonte estável e constante de experiências das quais podemos nos servir para ancorar a mente e ajuda-la a ficar mais calma e mais concentrada. Do mesmo modo que a participação da mente é essencial à organização e à alimentação materiais da vida, o corpo serve para estabilizar a mente em uma presença calma, cuja importância é fundamental para todas as práticas.

Quando caminhamos em um parque, por exemplo, pode ser que o corpo se encontre aí e a mente esteja longe, no escritório, ou em casa, ou conversando com um amigo afastado, ou fazendo uma lista de comissões. Isso quer dizer que a mente está desconectada do corpo. Em lugar disso, quando olhamos uma flor, a olhamos verdadeiramente. Estejamos inteiramente presentes. Com a ajuda da flor, reconduzamos a mente para o parque. Apreciar a experiência sensorial reconecta a mente e o corpo. Quando a experiência da flor é feita através de todo o corpo, uma cura tem lugar. É a mesma coisa se olharmos uma árvore, aspirarmos um odor, sentirmos o tecido de nossa camisa, ouvirmos um canto de pássaro, ou degustarmos uma maçã. Treinemo-nos em perceber claramente os objetos sensoriais, sem julgamento. Tentemos ser totalmente o olho diante de uma forma, o nariz com um odor, o ouvido com um som, e assim por diante. Tentemos realizar a experiência profundamente permanecendo na pura consciência do objeto sensorial.

Quando esta capacidade é adquirida, as reações não diminuem. A visão de uma flor fará surgir um julgamento sobre sua beleza, ou um odor será julgado fétido. Entretanto, a prática permite agora manter a conexão com a pureza da experiência sensorial e evita à mente perder-se na distração. Deixar-se distrair por uma massa de conceitos é um hábito que podemos substituir por um hábito novo: utilizar as sensações do corpo para ficar diante da presença, para abrir-se à beleza do mundo, à experiência resplandecente e nutriente da vida, que se encontram sob nossas distrações. {...}

O primeiro instante da percepção é sempre claro e brilhante. É somente a distração da mente que nos impede de reconhecer e apreciar cada momento da vida. Manter a presença na experiência apóia-se na estabilidade da forma e da percepção viva do mundo sensorial para manter as qualidades da mente mais aptas a tornarem frutuosas as práticas. {...}

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