terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Você é a Presença consciente


Um dos visitantes que chegou antes da hora a uma sessão era um membro de certo grau da Sociedade Vedântica Européia. Maharaj foi diretamente ao ponto e lhe perguntou se ele tinha alguma pergunta a fazer ou qualquer assunto a ser esclarecido. Quando o visitante disse que gostaria de escutar por um tempo o que Maharaj tinha a dizer antes de perguntar, Maharaj sugeriu que, desde que ele era um representante de uma das Sociedades Vedânticas ativas com um grande número de sócios, ele poderia começar o diálogo contando-nos como elas explicam este tema um tanto ambíguo para um novo e interessado membro da sociedade.

Sri Nisargadatta Maharaj




Visitante: Bem, nós, em primeiro lugar, falamos para ele sobre os exercícios de Ioga física, pois um ocidental está interessado basicamente no bem-estar de seu corpo. A Ioga para ele significa ser capaz de realizar atos de resistência física e, também, de atingir um alto grau de concentração mental. Depois de um curso de Asanas Ióguicas, nós prosseguimos falando para ele que ‘ele’ não é o corpo, mas algo separado do corpo.


Maharaj: Isto levanta duas questões: A primeira, qual é o ponto de partida para conhecer inclusive o próprio corpo? Em outras palavras, existe algo dentro do corpo na ausência do qual você não seria capaz de conhecer seu corpo ou o de algum outro? A segunda: Teria o mestre uma idéia clara sobre sua própria ‘identidade’ na medida em que ele mesmo está implicado? Se ele não é o corpo, quem, ou o que, ele é?

V: Não estou certo sobre o que você quer dizer exatamente?

M: O corpo é apenas um instrumento, um aparato que seria totalmente inútil se não fosse pela energia interior, a alma, o sentido ‘eu sou’, o conhecimento de estar vivo, a consciência que concede o sentido de estar presente. De fato, esta presença consciente (não ABC ou XYZ estando presente, mas o sentido de presença consciente como tal) é o que se é, e não a aparência fenomênica que o corpo é. É quando esta consciência, sentindo a necessidade de algum apoio, identifica-se erroneamente com o corpo e abre mão de seu potencial ilimitado pela limitação de um simples corpo particular, que o indivíduo ‘nasce’. Este é o primeiro ponto sobre o qual o próprio mestre deve ter uma firme convicção intuitiva.

Outro ponto básico é que o mestre deve também ter uma compreensão muito clara de como a união entre o corpo e a consciência aconteceu. Em outras palavras, o mestre não deve ter dúvidas de forma alguma sobre sua própria natureza verdadeira. Por isto, deve entender a natureza do corpo e da consciência (ou da condição do ser, ou o estado de eu sou) e, também, a natureza do mundo fenomênico. De outro modo, tudo o que ele ensina será apenas conhecimento emprestado, obtido pela audição, conceitos de algum outro.

V: (Sorrindo) Esta é exatamente a razão pela qual estou aqui. Deverei permanecer por cerca de uma semana e assistirei às sessões da manhã e do anoitecer.

M: Você está seguro que está fazendo a coisa certa? Você veio aqui com uma certa quantidade de conhecimento. Se você persistir em escutar-me, você poderá chegar à conclusão de que todo conhecimento não é mais que um punhado de conceitos inúteis e, inclusive, que você mesmo é um conceito. Você será como uma pessoa que compreende repentinamente que suas riquezas acumuladas se transformaram em cinzas durante a noite. O que você pensará, então? Não seria melhor, mais seguro, retornar para casa com sua ‘riqueza’ intacta?


V: (Respondendo com humor) Eu me arriscarei. De certa forma, iria conhecer o valor real da riqueza que penso possuir. Tenho um sentimento, embora, que o tipo de riqueza que alcançarei depois que a riqueza inútil tiver sido jogada fora seria sem preço e além dos riscos de roubo ou perda.


M: Assim seja. Agora, diga-me, quem você pensa que é?


V: Duvido que eu possa realmente expressar meu pensamento em palavras. Parece-me que não sou o corpo, mas o sentido de presença consciente.


M: Permita-me explicar isto de maneira concisa: Seu corpo é o desenvolvimento da uma emissão resultante da união de seus pais, concebido no útero de sua mãe. Esta emissão era a essência do alimento consumido por seus pais. Seu corpo é, portanto, feito desta essência do alimento e também é sustentado pelo alimento em si. E o sentido de presença consciente que você mencionou é o sabor, ‘a natureza’ da essência do alimento que constitui o corpo, como a doçura é a natureza do açúcar, a qual é, ela mesma, a essência da cana-de-açúcar. Entenda que seu corpo pode existir apenas por um período limitado de tempo e, quando o material do qual ele é feito finalmente deteriorar-se a ponto de ‘morrer’, a força vital (respiração) e a consciência também desaparecerão dele. Assim, o que acontecerá para você?


V: Mas a consciência desapareceria? Devo dizer que estou um pouco assustado ao ouvir isto.


M: Na ausência do corpo, poderia a consciência ser consciente de si mesma? A consciência, na ausência do corpo, não se manifestará mais. Então, você está novamente de volta para o ponto de partida: Quem, ou que, você é?


V: Como disse antes, não posso realmente expressar o que penso.


M: Certamente, não pode ser expresso, mas você o conhece? Uma vez que o expresse, torna-se um conceito. Mas, embora criador de um conceito, não é você mesmo um conceito? Você realmente não nasceu do próprio útero da concepção? Quem você é realmente? Ou se você preferir, como eu, que você é?


V: Penso que sou a presença consciente.


M: Você disse que ‘pensa’! Quem é este que pensa isto? Não é sua própria consciência na qual os pensamentos aparecem? E, como você tem visto, a consciência, ou presença, está limitada pelo tempo da mesma forma que o corpo. Esta é a razão pela qual falei a você anteriormente que é necessário entender a natureza deste corpo dotado de força vital (Prana) e de consciência.
Você é ‘presença’ apenas enquanto o corpo, um fenômeno manifesto, existir. O que você era antes que o corpo e a consciência aparecessem espontaneamente para você? Digo ‘espontaneamente’, pois você não foi consultado sobre ser presenteado com um corpo nem seus pais esperavam ter você, especificamente, como filho. Não era você, então, relativamente, ‘ausência’ em vez de ‘presença’, antes que o estado de consciência-corpo surgisse sobre o que quer que fosse isto que era ‘você’?


V: Não estou certo de ter entendido isto.


M: Então, escute. Para que algo apareça, para existir, tem que haver uma base de ausência absoluta – ausência absoluta de presença assim como de ausência. Sei que não é fácil compreender. Mas tente. Qualquer presença pode ‘aparecer’ apenas como resultado da total ausência. Se houver presença inclusive da ausência, não poderá haver nem fenômeno nem conhecimento. Portanto, a ausência total, absoluta, implica total ausência de concepção. Este é seu estado original verdadeiro. Eu repito: O ‘você’ nasceu no útero da concepção. Sobre o estado original de total ausência, espontaneamente, surge uma semente de consciência – o pensamento ‘eu sou’ – e, através disto, sobre o estado original de unicidade e totalidade, surge a dualidade; a dualidade de sujeito e objeto, certo e errado, puro e impuro – raciocinando, julgando, comparando, etc. Pondere sobre isto. Temo que esta sessão deva terminar agora.


V: Isto foi, certamente, uma revelação para mim, embora tenha estudado Vedanta por bastante tempo.


M: Está claro para você que você é anterior a toda concepção? O que você parece ser como um fenômeno é apenas conceitual.O que você é realmente não pode ser compreendido pela simples razão de que, no estado de não-concepção, não pode existir alguém para compreender o que se é!


V: Mestre, eu desejo vir ao anoitecer em busca de mais iluminação, e sentar-me a seus pés todos os dias, enquanto estiver em Bombaim.


M: Você será bem-vindo."


De "Sinais do Absoluto" - Pointers from Nisargadatta Maharaj - o 1° livro de Ramesh Balsekar sobre os ensinamentos do grande jnani.

Futura publicação da Editora Advaita.


Fonte: Editora Advaita Blog

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