"Bhikkhus (monges), sejam diligentes em sua prática de olhar profundamente a fim de que o fruto da Compreensão possa surgir e vocês não permaneçam mais aderidos à dor. Nascimento, doença, velhice e morte também deixarão de importunar vocês.
"Quando um bikkhu estiver por realizar seu passamento, ele deveria manter a contemplação do corpo, dos sentimentos, da mente e dos objetos da mente. Cada posição e cada ato do corpo deveriam ser postos sob a mente atenta. O bikkhu comtempla a natureza da impermanência e a natureza da interdependência do corpo e dos sentimentos, de modo que não fique ligado ao corpo e aos sentimentos, ainda que prazerosos.
"Se precisa de todas as suas forças para suportar a dor, ele deveria apenas observar:
Este é um tipo de dor que necessita de toda as minhas forças para ser tolerada. Esta dor não sou eu. Eu não sou esta dor. Não estou preso a esta dor. O corpo e os sentimentos são, neste momento, como uma lamparina cujo óleo e pavio estão se extingüindo. É por meio de condições que a luz se manifesta ou cessa de se manifestar. Eu não estou ligado às condições.
Se um monge praticar desse modo, calma e alívio surgirão"
***
Quando as primeiras chuvas começaram a aliviar o calor do verão, ele voltou a Jetavana para a estação do retiro. Ensinou mais aos bhikkus e bhikkunis (monges e monjas) sobre a lei da originação interdependente. Um deles levantou-se e disse:
"Senhor, você tem ensinado que a consciência é a base para nome e forma. Isto quer dizer que a existência de todos os darmas emerge da consciência ?"
O Buda respondeu: "Isto está correto. A forma é um objeto da consciência. O sujeito e o objeto são as duas faces da realidade. Não pode haver consciência sem o objeto da consciência. A consciência e o objeto da consciência não podem ser separados, ambos são ditos surgidos da mente."
"Senhor, se a forma surge da consciência, ela pode ser considerada a fonte do universo. É possível saber como a consciência ou a mente surgem ? Quando a mente surgiu ? É possível alguém falar em início da mente ?"
"Bhikkus, os conceitos de início e fim são meras construções mentais criadas pela mente. Na verdade, não há início ou fim. Nós só pensamos em termos de princípio e fim quando somos capturados pela ignorância. É devido à ignorância que as pessoas são apanhadas em um ciclo intermínável de nascimento e morte."
"Se o ciclo de nascimento e morte não tem início nem fim, como alguém pode escapar dele?"
"Nascimento e morte são meros conceitos fabricados pela ignorância. Transcender os pensamentos de nascimento-e-morte e começo-e-final é transcender o ciclo infindável. Bhikkus, isto é tudo o que desejava dizer por hoje. Pratiquem olhar profundamente para dentro das coisas. Falaremos novamente sobre este assunto um outro dia."
Extraído do livro do Mestre Thich Nhat Hanh, "Velho Caminho, Nuvens Brancas - Seguindo as Pegadas do Buda", pag. 341-342 ( Trad. Enio Burgos)
Um comentário:
A negatividade e o sofrimento têm as suas raízes no tempo. Interessante é tentar perceber o porquê da mente criar tempo...
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