Sri Nisargadatta Maharaj
Milhares de milhas longe de Mumbai, em um pequeno monastério na remota vila de Gretz-Armainvilliers, na França, um mestre espiritual de nome René Joly soube do falecimento de Nisargadatta Maharaj.
Ele anunciou essa triste notícia a seus seguidores e falou brevemente sobre Maharaj.
É verdadeiramente notável que, mesmo naqueles dias, a vida e os ensinamentos de Maharaj tivessem se espalhado para além dos limites da Índia e estavam sendo compartilhados entre seguidores espirituais em recantos distante no mundo.
Vinte e cinco anos mais tarde, em Mumbai, um dos discípulos de René Joly que estava presente naquele encontro relembra o impacto que aquele evento teve sobre ele...
***
Logo após Maharaj ter falecido em Setembro de 1981, eu estava em Gretz-Armainvilliers, uma pequena vila situada em Seine e Marne, no sudeste de Paris, França.
Eu estava passando alguns dias com alguns amigos no monastério Zen construído por meu guru, René Joly. René encontrou seu guru em 1946 na França: Swãmi Siddheswarãnanda, um monge indiano da Ordem de Ramakrishna, que havia passado um longo período com Ramana Maharshi e era muito próximo a ele, antes de vir para a França em 1936 para ensinar filosofia indiana.
Nós estávamos almoçando quando René, vindo de sua casa, próxima ao monastério, entrou no refeitório e sentou-se. A primeira coisa que ele disse foi:
"Ontem, um grande sábio, Nisargadatta Maharaj, faleceu em Mumbai. O que aconteceu com Nisargadatta ? Seu guru disse a ele, "Você é AQUILO, o Supremo além de todos os fenômenos..." Isso é tudo o que ele disse ! Com fervor, fé total e confiança nas palavras de seu guru, Nisargadatta, no devido tempo, realizou/percebeu que ele nem era o corpo, nem a psiqué, nem a mente... Ele descobriu tudo o que ele não era... Ele não passou por uma longa sadhana..."
Até aquele momento, eu não sabia nada sobre Maharaj.
René Joly ensinou-me o núcleo do Dharma Budista, não do "Budismo" e chamava a si mesmo e a nós: dharmãcarins, não de "Budistas". Para dar somente um exemplo de seu ensinamento: eu aprendi o significado da palavra sâncrita "Pratinisarga"(1) : Prati = em direção, sem possibilidade de volta atrás; ni = nis = nir = sem (além); sarga = coisas, fenômenos. NISARGA = além dos fenômenos, "sem" coisas; Pratinisarga = entrega total pelo abandono de "todas as coisas"= Nirvãna.
Por outro lado, e muito frequentemente, meu guru costumava dizer-me:
"Não se esqueça disso: Eu ensinei a você um Caminho que eu conheço bem...mas não é nada mais que um Caminho...uma medida. Estudar as escrituras, ler um monte de livros, pode ser útil para muitos. Lembre-se que, para Nisargadatta, isso NÃO foi necessário...ele entendeu muito rapidamente. Mas, o que é necessário para todos os buscadores é lembrar as palavras do guru com total diligência, atenção... a todo momento. Não se esqueça !"
Até hoje, eu me lembro o que meu guru me disse e meu interesse nos Ensinamentos de Maharaj tem somente crescido com o tempo...
Prajñátapa
Patrick Sicard
Nota
(1) Cerca de 150 anos após a morte do Buda e devido à fome, muitos monges morreram. Consequentemente, os discípulos decidiram escrever as palavras de seu Mestre a fim de os Ensinamentos não se perderem. O resultado foi o Canon Pãli Budista (a linguagem Pali é uma prakrit da linguagem Sânscrita) composto de três partes (Tipipaka). O Majhima Nikãya pertence à primeira parte. Ãnãpãnasati é o 118 Sutra do Majihima Nikaya. Ãnãpãnasati significa "a prática de plena atenção aplicada à inspiração e à exalação" e é nada mais do que o estado de não-mente. As escrituras dizem que o Buda costumava praticá-la e a recomendava a seus discípulos e alcançou a meta pela Ãnãpãnasati. Por que ? Muito provavelmente, porque este ponto principal e último (o décimo sexto) do treinamento é o final da prática: PATINISSAGA, em Sânscrito: PRATINISARGA é sinônimo de NIRVÃNA.
(tradução livre realizada por mim a partir de um capítulo do livro "The Last Days of Nisargadatta Maharaj - A tribute By de S.K. Mullarpattan", publicado por ocasião dos 25 anos do Mahasamadhi do grande Mestre)
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