terça-feira, 13 de julho de 2010

Nota do Editor sobre o livro Sinais do Absoluto




"Descobrir um novo autor de mérito genuíno é como descobrir um novo planeta ou estrela no espaço infinito do céu. Enquanto escrevo estas linhas, posso imaginar como William Herschel se sentiu quando descobriu Urano.

Ramesh Balsekar, o autor desta obra, é uma nova luz de cintilante esplendor que adornou o firmamento misterioso da literatura esotérica de grande significação, embora totalmente indiferente a seu próprio brilho. Quando, depois de um rápido olhar para uns poucos capítulos de seu manuscrito, o qual me chegou às mãos através de um amigo comum, eu o encontrei e lhe falei sobre quão gratamente impressionado eu estava, ele me fixou um olhar vazio. Eu não sou o autor, ele disse, e o que escrevi não é para publicação, mas para minha clara compreensão dos ensinamentos do meu mestre, para minha orientação e para minha própria satisfação. Foi difícil convencê-lo de que o que ele havia escrito para sua satisfação poderia ser proveitoso para milhares de outros se fosse publicado como um livro. Ele escutou-me sem responder – um enigmático sorriso nos lábios, com atitude afável, mas totalmente neutra.

Aparentando sessenta anos e muito bem conservado para sua idade, Balsekar tem tez branca, sendo bastante gentil e amigável, mas taciturno por natureza. Quando decide falar, fala com uma circunspecção e distanciamento próprio de um presidente de banco conversando com um solicitante de crédito. Mais tarde, senti-me muito intrigado ao saber que ele realmente tinha sido um banqueiro e que tinha se aposentado como o mais alto executivo de um dos principais bancos da Índia.

Evidentemente, como um solicitante de crédito, fui uma pessoa bastante tenaz, pois fui bem sucedido em tomar emprestado de Balsekar o seu manuscrito por uns poucos dias, para minha iluminação pessoal como um admirador dos ensinamentos de Maharaj. E, quando eu o li, achei-o muito além de minhas melhores expectativas. Não perdi tempo em chamá-lo e a lhe oferecer a publicação da obra. Depois de um breve silêncio, e despreocupadamente, ele abanou a cabeça, expressando seu consentimento.

Li novamente todo o manuscrito, muito cuidadosamente, como um leitor profundamente interessando, mantendo à margem minhas inclinações editoriais. E, enquanto o lia, experimentei em um flash, momentaneamente, minha verdadeira identidade como algo distinto do que penso ser, ou do que pareço ser. Nunca havia tido tal experiência antes. Uns poucos anos atrás, quando tive a boa sorte de editar e publicar as conversações de Nisargadatta Maharaj, Eu Sou Aquilo, senti o impacto de sua originalidade criativa e raciocínio socrático, mas não tive sequer um fugaz lampejo da Verdade ou Realidade ou de minha verdadeira entidade, como agora. E isto porque Balsekar em seus escritos não repete meramente as palavras de Maharaj, mas as interpreta com grande discernimento e lucidez, e um profundo entendimento. Ele escreve com um poder e uma autoridade intrínseca oriunda do próprio Maharaj, por assim dizer. Ele não argumenta; ele anuncia. Suas afirmações são da natureza dos pronunciamentos em nome do Mestre.

Eu nunca fui um visitante regular de Maharaj, mas ouvi suas conversas com bastante freqüência, sempre que minhas ocupações me permitiam um tempo livre. Um dedicado devoto de Maharaj, chamado Saumitra Mullarpattan, que é igualmente bem versado em Marathi e inglês, atuava como intérprete. Em um par de ocasiões, contudo, encontrei uma pessoa desconhecida traduzindo, e fiquei impressionado pelo tom competente com que comunicava as respostas de Maharaj a seus inquiridores. Ele sentava com os olhos fechados e transmitia as sábias palavras de Maharaj com a determinação característica do Mestre. Era como se o próprio Maharaj estivesse falando em inglês, para variar.

Quando perguntei, disseram-me que o tradutor era um devoto novo de Maharaj, chamado Balsekar. No fim da sessão, quando os presentes se dispersavam, apresentei-me a ele e o elogiei por sua excelente tradução das palavras do Mestre. Mas ele mostrou-se impassível, como se nada tivesse ouvido. Surpreendido por sua atitude intratável, afastei-me e nunca voltei a pensar nele até que o encontrei recentemente tendo como motivo este livro. E, agora, compreendi quão deploravelmente errado estava ao formar minha opinião sobre ele. Devia ter-me ocorrido que ele vivia em um diferente nível de existência, o qual estava fora do alcance de elogio ou crítica. Eu devia ter entendido que ele estava em união com o Mestre e nada mais o interessava. E isto é provado por seu presente trabalho no qual encontrei a presença de Maharaj em cada página – sua agilidade mental excepcional, suas conclusões rigorosamente lógicas, seu pensamento total, sua completa identidade com a unidade que aparece na diversidade.



Sri Nisargadatta Maharaj e Ramesh Balsekar



É interessante notar que em seu Prefácio ao livro, Balsekar quase negou sua autoria. Ele disse que o material que apareceu neste volume surgiu espontaneamente, ditado, em um frenesi que sobrecarregou seu ser, por um poder compulsivo que não podia ser negado. Eu acredito no que ele falou. E estou inclinado a pensar que o leitor estará de acordo comigo, conforme avançar na leitura. Não há nada neste trabalho que possa ser tomado como projeção do próprio autor, nenhuma improvisação, nenhuma citação erudita das escrituras; não há nenhum adorno de qualquer tipo tomado emprestado. Os pensamentos apresentados por Balsekar levam a assinatura silenciosa do Mestre. Eles parecem vir de um conhecimento luminoso, de uma exaltação da glória da Verdade que preenche seu interior.

Esta obra, intitulada SINAIS DO ABSOLUTO, é o próprio Maharaj, de modo completo. É, sem dúvida, um tipo de curso de pós-graduação para o leitor que já absorveu o que é oferecido em EU SOU AQUILO. Ela compreende os ensinamentos finais e mais sublimes do Mestre e vai muito além do que ele havia ensinado nos anos anteriores. Eu arriscaria dizer que não pode existir nenhum conhecimento mais elevado do que o que este livro contém. Também arrisco dizer que ninguém, exceto Balsekar, poderia ter exposto este conhecimento, pois nenhum daqueles que estiveram próximos do Maharaj entenderam seu ensinamento tão profundamente como ele.

Alguns dos devotos de Maharaj que conheço assistiram a suas conversas por vinte anos ou mais e, no entanto, suas mentes não mudaram, e eles continuam as mesmas entidades que eram duas décadas atrás. A associação pessoal de Balsekar com Maharaj, por outro lado, estendeu-se por apenas três anos. Mas, tais associações não devem ser medidas no tempo, se pudessem ser medidas de alguma forma. O que é mais importante que a duração da associação é o tipo especial de receptividade que é o forte de Balsekar. Não tenho dúvidas de que o manto de Maharaj tenha caído sobre seus ombros. Na falta de uma expressão melhor, eu diria que Balsekar é o alter ego vivo de Maharaj, embora ele não tenha nenhuma inclinação para desempenhar o papel de um mestre. Que ele está saturado com a Jnana passada pelo Mestre é mais do que evidente por este livro. Todavia, quero atrair a atenção particular do leitor para este artigo especial, “A Essência do Ensinamento”, o qual expõe, em todas as suas facetas, a filosofia única de Maharaj (Apêndice 1) assim como sua nota sobre o desconcertantemente difícil tema da consciência (Apêndice 2). Nenhum leitor deve deixar de ler.

Antes de terminar, posso também relatar um divertido incidente no qual o editor em mim teve um choque com o autor em Balsekar. Sua distância e indiferença sempre me irritaram. Ele obteve a graduação da Universidade de Londres e tinha um bom domínio da língua inglesa. Dificilmente poderia encontrar alguma falha em sua linguagem. Ainda assim eu tentei melhorar sua dicção e expressão aqui e lá, como um editor deve fazer! Ele reparou nos melhoramentos não solicitados e permaneceu quieto, com sua habitual indiferença. Então ficou claro que ele tinha feito de seu silêncio uma virtude, exatamente como eu havia feito com minha verbosidade. Éramos antípodas, senti. Ansiando por um entendimento com ele, queria retirá-lo de sua casca, de qualquer modo. E achei por acaso um artifício. Ataquei sua exposição de um dos aspectos do ensinamento de Maharaj (embora realmente concordasse com ele), e ele explodiu repentinamente. Seu contra-ataque foi devastador e eu me alegrei com a quebra da casca, finalmente. Ele, contudo, rapidamente acalmou-se quando concordei com ele sem muita discussão. E seus olhos irradiavam amizade. As habituais circunspecção e distância desapareceram, dando lugar a uma nova intimidade entre nós. Depois daquilo, nós trabalhamos juntos no livro; de fato, ele me permitiu todas as liberdades com seu manuscrito e nunca se incomodou em olhar os acréscimos e alterações que escolhi fazer. Desenvolvemos um necessário entendimento entre nós, o qual, sem dúvida, apreciei muito. Ele passou os olhos casualmente na cópia final, antes que fosse para a gráfica, e parecia estar totalmente feliz com isto.

Perguntei a ele se iria escrever para nós outro livro sobre os ensinamentos do Mestre. Ele sorriu levemente e talvez houvesse um imperceptível abanar de sua cabeça."

Sudhakar S. Dikshit - Editor

Mumbai
Março, 1982


"Sinais do Absoluto"



Fonte:

http://editoraadvaita.blogspot.com/

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