Sri Nisargadatta Maharaj
(ao fundo, foto de Sri Ramana Maharshi)
Pergunta: Alguns dizem que o universo foi criado; outros, que sempre existiu e que está sempre passando por contínuas transformações. Alguns dizem que está sujeito a leis eternas. Outros negam inclusive a causalidade. Alguns dizem que o mundo é real, outros que não tem nenhuma existência, seja qual for.
Maharaj: De que mundo está falando?
P: Do mundo de minhas percepções, certamente.
M: O mundo que você pode perceber é, sem duvida, um mundo muito pequeno. É um mundo inteiramente privado. Tome-o por um sonho e deixe-o de lado.
P: Como posso considerá-lo um sonho? Um sonho não dura.
M: Quanto durará seu pequeno mundo?
P: Depois de tudo, meu pequeno mundo é apenas uma parte do total.
M: Não é a idéia de um mundo total uma parte de seu mundo pessoal? O universo não vem dizer para você que você é uma parte dele. É você que inventou uma totalidade que o contenha como parte. De fato, tudo o que você conhece é seu próprio mundo privado, por mais que o tenha mobiliado com imaginações e esperanças.
P: Certamente, a percepção não é imaginação!
M: Que outra coisa é? A percepção é reconhecimento, não é assim? Algo inteiramente desconhecido pode ser sentido mas não pode ser percebido. A percepção implica memória.
P: Tudo bem, mas a memória não o converte em ilusão.
M: A percepção, a imaginação, a esperança, a antecipação, a ilusão, todas estão baseadas na memória. Dificilmente existem quaisquer linhas fronteiriças entre elas. Simplesmente se fundem umas com as outras. Todas são respostas da memória.
P: Não obstante, a memória existe para provar a realidade do meu mundo.
M: Quanto recorda você? Trate de escrever de memória o que esteve pensando, dizendo e fazendo no dia 30 do mês passado.
P: Sim, não me lembro.
M: Não está tão mal. Você se lembra de muita coisa; a memória inconsciente faz o mundo em que vive tão familiar.
P: Admito que o mundo em que vivo é subjetivo e parcial. E você? Em que tipo de mundo você vive?
M: Meu mundo é igual ao seu. Vejo, ouço, sinto, penso, falo e atuo em um mundo que percebo como você o percebe. Mas para você isto é tudo, enquanto que para mim é quase nada. Sabendo que o mundo é uma parte de mim mesmo, não lhe dou mais atenção que a que você dá aos alimentos que comeu. Enquanto o prepara e o come, o alimento está separado de você, e sua mente está nele; uma vez que tenha comido, você chega a ser totalmente inconsciente dele. Eu comi o mundo e não necessito mais pensar nele.
P: Não se torna completamente irresponsável?
M: Como poderia? Como poderia causar mal a algo que é um comigo mesmo? Pelo contrário, sem pensar no mundo, qualquer coisa que fizer o beneficiará. Assim como o corpo se põe bem inconscientemente, assim eu estou incessantemente ativo pondo em ordem o mundo.
P: No entanto, você está consciente do imenso sofrimento do mundo?
M: Certamente que estou, muito mais que você.
P: Então, o que você faz?
M: Olho-o através dos olhos de Deus e percebo que tudo está bem.
P: Como pode dizer que tudo está bem? Olhe para as guerras, a exploração, a luta cruel entre o cidadão e o estado.
M: Todos estes sofrimentos foram fabricados pelo homem e está dentro de seu poder acabar com eles. Deus ajuda antepondo ao homem os resultados de seus atos e pedindo que o equilíbrio seja restaurado. O karma é a lei que trabalha pela retidão, é a mão curativa de Deus.
(Extraído do livro: "Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj"- Editora Advaita)
3 comentários:
Isso realmente alimentou minha consciência... Com absoluta certeza.
"O universo não vem dizer para você que você é uma parte dele. É você que inventou uma totalidade que o contenha como parte."
Outra grande frase, de um grande Mestre, que faz com que a nossa consciencia desperte automaticamente.
Richard, depois de er seu comentário fui reler a própria postagem, do Maharaj.
Pegue esse trecho:
"A percepção, a imaginação, a esperança, a antecipação, a ilusão, todas estão baseadas na memória. Dificilmente existem quaisquer linhas fronteiriças entre elas. Simplesmente se fundem umas com as outras. Todas são respostas da memória."
Voce já notou como nos sonhos a mente é obrigada a criar uma outra memória, totalmente onírica a fim de dar verossimilhança ao cenário e ao enredo todo?
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