domingo, 20 de junho de 2010

Não há "você"


P - Existem algumas áreas onde minha atenção fica presa, por exemplo no relacionamento com minha família.

Mooji - O que quer que envolva a sua atenção se torna a sua experiência. Existe certa comodidade em se envolver, e o resultado é que você se sente sendo "alguém".

P - Por que isso acontece?

Mooji - A atenção vai por causa do hábito. Eu acredito que todas as questões acerca da espiritualidade se resumem neste ponto. Algo do passado atrai sua atenção e isso leva a um estado de agitação; então, você faz algum esforço para manipular a agitação ou suprimi-la, a fim de mudá-la.

P - Quando se vê que é o passado se manifestando, pode-se simplesmente deixa-lo ir?

Mooji - Isto parece uma pergunta muito boa. Se eu seguir pela linha desta pergunta em particular, estarei cooperando com uma ideia que não é verdadeira, a ideia de que há um "você" que vive a sua vida. Se você pensa que é um “alguém" agindo a partir do seu passado, você está reforçando esta identidade errônea.

Descubra quem é este que vê as coisas dessa maneira. Quem é que está agindo e reagindo? Existe realmente um "eu" que tem esse condicionamento?

Não questione meramente para se livrar do condicionamento ou do desconforto, mas para ver realmente se é isso que você é. Veja aquilo que não tem familia, não é uma mulher ou um homem, e não tem passado. Vá além de todas as associações até que você permaneça sozinho, sem você.
O problema não é o papel em si, mas a crença nele.

P - Sim. Mas ... Por exemplo, em minha família, eles me veem como uma
pessoa.

Mooji - Você não tem controle sobre o que os outros pensam e fazem. Você apenas criará um fardo tentando consertar isso. Apenas seja honesto e verdadeiro no momento.
Veja: o “eu” tem algumas associações do passado, projeções para o futuro, um papel ou comportamento, e por causa da crença no papel a consciência é mantida prisioneira em uma certa identidade.

Quem é "eu"e precisamente onde está o "eu" agora mesmo? Posso eu ser alguma coisa? O que seria isso? Tais questionamentos guiam a consciência de volta para a vacuidade, sua fonte.

O Satsang apresenta a oportunidade de reconhecer o seu Ser diretamente, de descobrir aquilo que é atemporal e imutavelmente presente.

P - Por que esquecemos nossa natureza?

Mooji - Aquilo que nós realmente somos não se esquece. Aquilo não é capaz de lembrar ou esquecer.

***

P - Eu fiz um movimento errado.

Mooji - Eu não conheço nada como "um movimento errado". Tudo é simplesmente perfeito! Essa ideia o está mantenda prisioneiro, e ela é uma completa construção da sua mente!

Pare de pensar que você produz a você mesmo. Na verdade não existe nenhum você de fato, nada ali em absoluto, a não ser enquanto conceito. O observador disso é a realidade única que nós somos.
A mente percebe o vazio como ausência de atividade, impotência, não-existência pessoal; e não percebe que o vazio é pureza, paz e completa satisfação de ser. Isso já é assim mesmo agora. Mesmo agora, que você apresenta estas questões. Aquele que fala é aquele que ouve.
Existe uma fase nesta investigação que pode parecer um pouco paranóica, quando mesmo a mais sutil das sensações é investigada.
Gradualmente, esse tipo de entusiasmo se dissolve e apenas a investigação permanece, sem um inquiridor. Quem está investigando? Ninguém está investigando.
Isso não pode ser compreendido racionalmente. Na verdade, isso não pode ser explicado e você não pode encontrar a você mesmo, porque você nunca esteve separado.
Paradoxo e charadas existem apenas para a mente. Você é aquilo que contém todos os paradoxos.

***

P - Você me disse: "não olhe com a mente, olhe com o coração". Eu não sei como olhar com o coração.


Mooji - Quem é este "eu" que diz: "eu não sei como olhar com o coração?"
Esqueça de tudo o que você ouviu ou leu. Esqueça de tudo isso. Eu não presumo que exista algum "você" que compreenderá e se lembrará disso.
É como um novelo de lã que se emaranhou e cada vez que vem aqui ao Satsang se sente: "ah,como foi que eu me tornei emaranhado desta forma?"
Uma explicação parece ser dada a isso, mas a explicação é apenas outra forma de lançá-lo contra a parede, e ele se desemaranha sozinho. O novelo não pode receber o conselho de como desenredar-se. O que deve acontecer é que aquele eu, enquanto Silêncio em si, receba o conselho (5), e ele então corre até que é desemaranhado - mas ele próprio não é capaz de por em pratica esse conselho!
Isso deve ser bastante libertador para você. Você não tem que fazer nada em absoluto. Estes diálogos são um tipo de brincadeira; não é realmente o que está acontecendo. O cozimento de certa forma está acontecendo por baixo. O que quer que precise acontecer está acontecendo por si só. Apenas olhe.

P - A única coisa que eu posso descrever é aquilo que eu posso ver. Portanto, o que eu posso ver está acontecendo comigo.


Mooji - O que está consciente deste acontecimento?
Cada vez que você segue essa pergunta é como um espelho, refletindo você olhando para esta atividade e o próprio espelho. Quão próximo está esse reflexo? Por mais perto que seja, o reflexo nunca se tornará você, porque você está vendo o reflexo.
Tudo é somente agora. A sua existência é somente agora. Apenas o Agora atemporal. Todo o resto é um sonho devido ao condicionamento e à memória.


Memória de quem? De ninguem. É um misterio! Um mistério não pode ser decifrado.

"Para quem é o misterio?" É a pergunta mais importante. Descubra.



(5) NT: "Receba o conselho" ou, em outras palavras, "aceite o conselho" ou "dê espaço a este conselho".



Extraído do livro "Antes do Eu Sou - Diálogos com Mooji - O Reconhecimento direto do nosso Ser original" - Ed. Qualitymark.

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Assista a um trecho do Satsang de Mooji no Brasil (com tradução para o português):








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