O físico e filósofo francês Bernard d'Espagnat venceu o Prêmio Templeton 2009, considerado o maior prêmio do mundo concedido a uma única pessoa, pelo seu trabalho ao afirmar a dimensão espiritual da vida.
A Fundação Templeton anunciou o prêmio de US$ 1,42 milhões na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Paris, no dia 16.
A reportagem é de Tom Heneghan, publicado pela agência Reuters, 16-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os organizadores do prêmio disseram que trabalho de d'Espagnat, 87 anos, com física quântica revelou uma realidade além da ciência que a espiritualidade e a arte podem ajudar a compreender.
John Templeton Jr., presidente da Fundação criada por seu pai, falecido no ano passado, disse, durante a cerimônia, que d'Espagnat "explorou o ilimitado, as aberturas que as novas descobertas científicas oferecem de puro conhecimento e de questões que chegam ao verdadeiro coração da nossa existência e da nossa humanidade".
Entre os vencedores anteriores, estão o escritor russo Alexander Solzhenitsyn, o evangelista norte-americano Billy Graham e a irmã albanesa Madre Teresa.
D'Espagnat, um ex-físico sênior do laboratório de partículas físicas do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, e professor em universidades francesas e norte-americanas, afirma em seu livro que a física quântica moderna mostra que as realidades últimas não podem ser descritas.
A física clássica desenvolvida por Isaac Newton acredita que pode descrever o mundo por meio de leis da natureza que ela conhece ou irá descobrir. Mas a física quântica mostra que as minúsculas partículas contestam essa lógica e podem agir de formas indeterminadas.
D'Espagnat afirma isso com relação a uma realidade além do alcance da ciência empírica. As intuições humanas na arte, na música e na espiritualidade podem nos levar mais perto dessa realidade última, mas ela é tão misteriosa que não podemos concebê-la ou mesmo imaginá-la.
"O mistério não é algo negativo que deva ser eliminado", disse. "Pelo contrário, é um dos elementos constitutivos do ser".
Sobre física e filosofia
Em uma entrevista, d'Espagnat afirmou à Reuters que cresceu como católico, mas não praticou nenhuma religião e se considera um espiritualista.
Algumas descobertas desconcertantes da física quântica o levaram a acreditar que toda a criação tem uma totalidade e uma inter-relação que muitos cientistas deixam de lado ao tentar dividir os problemas em suas partes componentes em vez de entendê-los em contextos mais amplos.
Um deles é o entrelaçamento, a forma em que duas partículas subatômicas permanecem unidas mesmo que se afastem para muito longe uma da outra, de forma que os experimentos com uma irão automaticamente afetar a outra, sem qualquer comunicação aparente entre elas.
Essa visão colide com o ponto de vista materialista largamente difundido entre os cientistas.
"Os materialistas consideram que somos explicados inteiramente pela combinação de pequenas coisas pouco interessantes como os átomos e os quarks", disse d'Espagnat, cujo último livro em inglês – "On Physics and Philosophy" – foi publicado em 2006 [Em português, seu único livro publicado é "Olhares sobre a matéria" (Editora Instituto Piaget, 1994)].
"Eu acredito que nós, enfim, viemos de uma entidade superior à qual devemos reverência e respeito e à qual não deveríamos tentar nos aproximar tentando conceitualizá-la muito", disse. "É mais uma questão de sentimento".
Mesmo que não possam ser testadas, as intuições que as pessoas têm quando são movidas pela grande arte ou por crenças espirituais ajudam-nas a compreender um pouco mais das realidades últimas, disse d'Espagnat.
"Quando ouvem uma boa música, as pessoas que gostam de música clássica têm a impressão de que chegam a alguma realidade dessa forma. Por que não?", questionou.
2 comentários:
Efectivamente, a Física Quântica afirma um conjunto de ideias em tudo parecidas com os Antigos Ensinamentos, entre elas a ideia de que tudo está ligado e é apenas Um.
Será que, com o surgimento da Física Quântica, virá um período de união de todo o conhecimento (Científico, Filosófico, Religioso)? Não serão estes três caminhos apenas um?
Concordo com voce. Os caminhos são apenas um. Creio que para que haja esse reconhecimento pela cultura, para que toda a coletividade viva nessa lucidez, as transformações deverão operar nesses três níveis, simultaneamente (pois ainda nos encontramos cindidos, sem esse reconhecimento). Vivemos numa época de transição - que pode durar 10, 20 ou 50 anos...Como toda fase de "liminaridade", essa transição é sobretudo uma oportunidade para realizarmos essa unificação, esse reconhecimento, que voce mencionou.
Abraços !
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