sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Situacionismo - questões introdutórias

Guy Debord, Michelle Bernstein, Asger Jorn


Sobre Guy Debord e o Situacionismo.


Questões introdutórias.

O Situacionismo abre duas chaves de discussão, que estão relacionadas.
A primeira delas, de cunho sociológico, refere-se à prevalência da dimensão cultural no mundo contemporâneo. Tendo constatado que as existências são vivenciadas de modo cada vez mais simbólico, a contestação também opera cada vez mais dentro da esfera cultural (artística etc.) A ação contestatória é uma persistente tentativa de quebra do código vigente e, portanto, tem por alvo a própria linguagem (resignificação de obras artísticas, escândalos etc). Abre-se aqui toda um leque de discussões: é possível produzir uma contestação dentro do universo simbólico vigente ? Até onde a quebra do código pode operar e até que ponto isso realmente produz uma ruptura no sistema (descondicionamento) ?
A segunda chave – de natureza mais filosófica - diz respeito ao caráter transitório, fugidio, fugaz das intervenções situacionistas. Isso se refere diretamente à necessidade de não-formalização, não-institucionalização, manter aberto o canal da criatividade – é a criação permanente. Se, por um lado, isso é uma tática para escapar à reação do sistema, que se move e se nutre pela (e para) a reabsorção dos signos produzidos pela ação contestatória, por outro, isso permite ao contestador manter viva dentro de si a criatividade, não permitindo que ele próprio caia na repetição burocrática e perca o contato com seu íntimo-criativo.
É impossível existir uma pintura ou uma música situacionista. O que pode ocorrer é uma utilização situacionista destes meios. Numa acepção mais básica, o ‘detournement’ no interior das antigas esferas culturais constitui um método de propaganda, testemunhando o desgaste e a perda de importância destas esferas”. (Revista da IS, n.1)
As duas chaves acima se encontram relacionadas, pois a questão de fundo diz respeito à vivência condicionada e o modo como se produz esse condicionamento: somente por meio da quebra do código que rege as interpretações é que podemos abrir caminho para a ruptura das relações de dominação e da alienação, dentre outros efeitos.

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