“QUANDO SUA MENTE ESTÁ MAIS DESEQUILIBRADA É QUE VOCÊ MAIS PRECISA MEDITAR”: MEDITANDO COM ALAN WALLACE
Durante um retiro realizado em Viamão (RS) na segunda metade de janeiro deste ano, o professor budista americano Alan Wallace deu instruções preciosas sobre a prática da meditação shamatha,
um dos tipos de meditação budista para o apaziguamento da mente
(geralmente através da atenção na respiração), e parte dele foi
traduzido e transcrito porJeanne Pilli, que esteve no retiro e mantém o site Equilibrando.Me –
ela gentilmente permitiu a reprodução do trecho aqui. PhD em Estudos
Religiosos na Stanford University (EUA), fundador da Santa Barbara
Institute for Consciousness Studies (EUA) e autor de livros como “A Revolução da Atenção” e “Hidden Dimensions: The Unification of Physics and Consciousness”,
Alan Wallace traz uma abordagem sempre muito clara e detalhada sobre o
contato e o trabalho sobre a mente, e esse trecho transmite isso. Na
essência da mensagem, a importância de meditar quando mais a mente
precisa, ou seja, no desequilíbrio.
Segue abaixo o trecho das instruções, com agradecimentos ao professor Alan Wallace e à Jeanne Pilli.
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“Para avaliarmos se estamos fazendo a prática de shamatha corretamente, há sempre duas coisas a serem consideradas: o que a sua mente está trazendo para você e o que você está trazendo para a sua mente. São duas coisas bem diferentes.
Algumas
vezes durante a prática surgirão muitos pensamentos, não há como
controlar, não há como escolher que isso seja diferente. Então você
simplesmente repousa: muitos pensamentos vêm, muitos pensamentos vão.
Você não está fazendo nada de errado; é assim que as coisas são. Mas se
quando surgirem muitos pensamentos você for carregado por eles, aí sim:
isso é distração, agitação.
Outras
vezes, sua mente estará bem quieta, com poucos pensamentos. E isso
também não quer dizer que você esteja fazendo a prática corretamente.
Sua mente está simplesmente quieta. Neste caso, a mente está trazendo
pouco pra você.
O
que nós devemos trazer para a prática, seja lá como estiver a nossa
mente, é a habilidade de não sermos carregados pelos pensamentos, de
permitir que a nossa consciência permaneça em repouso, iluminando o
nosso objeto de meditação, seja a respiração, seja o espaço da mente e
eventos mentais, seja a própria consciência.
Portanto,
é importante avaliar a sua prática em termos do que você está trazendo
para a prática e não com base no que a mente está trazendo pra você.
Essa
distinção é muito importante. Na nossa vida, alguns dias serão piores
que outros. Haverá dias muito conturbados, com muito trabalho, muitas
preocupações, dias ruins. A mente estará bastante irritada, toda a nossa
energia estará perturbada. Pode
ser que você se sente para praticar e dois minutos depois desista:
“Esqueça! Hoje não vai dar pra meditar!” E então se levante, vá ver TV,
ou vá para a internet. Isso é como estar muito doente e pensar: “Ah…
estou tão doente! Estou muito doente pra tomar remédio! Vou deixar pra
quando estiver me sentindo melhor!”
Nesses
dias em que a sua mente estiver verdadeiramente uma confusão, você pode
simplesmente se deitar na sua cama, com um travesseiro macio sob a sua
cabeça e soltar completamente a tensão do corpo, a cada expiração,
relaxar completamente, deixar o corpo respirar sem esforço, em seu ritmo
natural. Relaxe até o finalzinho da expiração e nesse momento deixe a
mente bem quieta, sem nenhum blá, blá, blá. E então permita que o ar
entre novamente, sem puxá-lo, em total quietude.
Faça
isso por 24 minutos. A mente que você trouxe para a prática pode estar
completamente perturbada, atirando pensamentos, pedras, lama, tudo o que
é tipo de coisa em você. Não há como controlar isso! É o que a mente
está trazendo para você. Mas o que você está trazendo para a sua mente é
tão doce, tão suave, tão tranquilizador, que após 24 minutos sua mente
estará mais calma, quieta, equilibrada. E aí sim, no final da sessão
avalie: esta foi uma boa sessão ou não? Talvez uma sessão difícil em
termos do que a mente trouxe para você mas uma boa sessão em termos do
que você trouxe para a mente.
É nos momentos em que a sua mente está mais desequilibrada que você mais precisa meditar.”
~ Alan Wallace, Retiro sobre os “Seis Bardos em A Essência Vajra”, Viamão, 23 de janeiro de 2014
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