segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Prana: o segredo da cura pelo Yoga




Do eu nasceu o prana. Assim como pode haver sombra quando ali está um homem, assim o prana está preso ao eu. Ele chega ao corpo devido às ações da mente.


Prasna Upanishad III.3

Meu interesse pela cura prânica deve-se ao meu problema nas costas, hereditário e crônico. Já vinha sofrendo de contínuas dores nas costas há mais de quinze anos quando encontrei meu primeiro mestre de cura. Havia ocasiões em que a crise me obrigava a permanecer vários dias na cama, mas, em geral, tinha de suportar uma dor constante na parte superior das costas.


Aos quinze anos, tomou-se evidente que eu tinha uma deformação na coluna, chamada cifoescoliose idiopática. Durante dois anos, usei um aparelho corretivo feito de aço e couro, para tentar endireitar a curvatura das costas. Isso ajudou um pouco, uma vez que eu podia, com algum esforço, manter a coluna ereta. A dor que me incomodou nos quinze anos seguintes era essencialmente muscular. Os músculos tinham de fazer o trabalho da coluna bem como o deles próprios, e isso gerava cansaço constante.


Músculos trabalhando em demasia, estressados e cansados – isso lhe parece familiar? Todos nós passamos por esse incômodo em algum momento de nossa vida. Para mim isso era uma constante.


Eu procurei inúmeros terapeutas corporais que utilizavam métodos com resultados os mais variados.


Seus métodos me deixavam todo cheio de escoriações. Mesmo um tratamento "leve" me era em geral bastante penoso. Meu alívio jamais durava mais do que um dia ou dois. Eu tentei tratamentos alopáticos (medicina ocidental) e estes apresentaram resultados limitados. Consultei acupunturistas, osteopatas, quiropráticos e psicoterapeutas, sem nenhum resultado.


Seguindo a recomendação de um amigo, fui visitar Ananda, um japonês, especialista em trabalho corporal, que fora originariamente um quiroprático. Ele levara adiante seu treinamento (feito no Japão) com técnicas que usavam o prana. Interessei-me em marcar uma sessão pois soube que seu tratamento costumava ser suave. No entanto, àquela altura, eu já não alimentava nenhuma expectativa de que alguém pudesse me ajudar. Descobri que eu estava redondamente enganado!


O primeiro tratamento me deixou curioso, insatisfeito e, depois de um dia, com mais dores do que antes.


Quando contei-lhe isso na visita seguinte, ele apenas me disse que isso era um bom sinal. Naquele momento, sua lógica não me convenceu: o fato de eu estar com mais dor era um bom sinal? A sessão consistia em ele me tocar delicadamente em determinados pontos e permanecer assim por longo período de tempo. Eu sentia uma estranha corrente elétrica atravessando meu corpo nessas ocasiões.


O segundo tratamento foi bastante parecido com o primeiro, só que então fiquei ainda mais insatisfeito.


Não sei ainda ao certo por que fui à terceira sessão; provavelmente porque já a havia marcado e eu não gosto de faltar a compromissos. E foi o terceiro tratamento que mudou a minha vida.


Trabalhar com o prana acaba se tornando um caso de amor. E de longe uma das coisas mais agradáveis da minha vida. Esse dia foi o começo desse contínuo caso de amor. Há algo tão belo acerca da energia pura, que é impossível descrever. Posteriormente, quando comecei a aprender com Ananda, era freqüente ele emudecer de repente e ficar com lágrimas nos olhos, tamanha é a beleza do prana.


Depois da terceira e da quarta sessão, meu corpo estava livre das dores. Ananda explicou-me que o primeiro e o segundo tratamentos haviam sido necessários para alterar os hábitos energéticos de minhas costas. Ao longo dos anos, nosso corpo desenvolve hábitos, assim como ocorre com nossa mente. Alguns desses hábitos são bons e outros são maus. Minha tensão era fruto de um problema físico, mas o resultado era o mau hábito de segurar a tensão (o que indica, na medicina energética, um prana bloqueado).


Já se passaram oito anos e posso afirmar com franqueza que as mudanças foram permanentes. Tenho dores nas costas quando as ignoro e insisto numa atividade que gera uma tensão excessiva nos músculos; mas a dor constante jamais voltou. Os padrões energéticos mudaram. Basta eu fazer alguns exercícios de yoga simples e a tensão imediatamente desaparece. Ou, na pior das hipóteses, uma boa noite de sono resolve o problema — problema que me aborreceu por mais de quinze anos.


Fiquei tão surpreso com o resultado do tratamento, que perguntei a Ananda o que ele estava fazendo, e se eu podia aprender a cuidar de mim mesmo. Ele respondeu que estava usando o prana (o que quer que aquilo significasse) e que eu podia, sim, aprender a me curar. Ele ia fazer um seminário no mês seguinte, disse, e eu seria bem-vindo.


Trabalhei durante um ano com suas técnicas e orientações. Quanto mais eu trabalhava com o prana, mais aumentava a minha sensibilidade. Minhas mãos começaram a sentir energias sutis fora do corpo físico e meu interesse aumentou. A essa altura, eu praticava meditação várias horas por dia, todos os dias. Eu fazia uma espécie de Vipassana, segundo a tradição budista. Lembrando agora o que houve, suponho que a prática da meditação acelerou minha capacidade de aprendizagem com o prana. Eu já tinha uma boa percepção da minha respiração e do hiato entre a inspiração e a expiração.


Há momentos-chave em nossa vida que podem mudar subitamente o sentido das coisas. Isso ocorreu comigo naquela ocasião: o começo do caso de amor interminável com aquela força desconhecida, o prana.


Durante muitos anos continuei meu aprendizado com outro professor, Swami Chidvilas, que trabalhava principalmente nos corpos sutis. Foi sob sua orientação que aprendi a arte da medicina energética.


Depois de alguns anos, comecei a ficar incomodado com questões que nenhum de meus professores sabia responder. Eu estava certo de que, enquanto não soubesse essas respostas, a cura, no sentido mais verdadeiro da palavra, não ocorreria. Certa ocasião, desiludido, parei o trabalho por quatro meses.


A vida veio em meu auxílio projetando-me um mestre espiritual, H.W.L. Poonja, discípulo direto de Ramana Maharishi.

Sri H.W.L. Poonja (Papaji)


Sri Ramana Maharshi


No decorrer do ano seguinte, ele respondeu a todas as minhas perguntas. Sob sua orientação, passei a pesquisar inúmeros textos dos antigos videntes da Índia. Tendo descoberto muitos dos segredos da cura yogue, mudei-me para a França e comecei a praticar a cura prânica.


Foi na França que uma senhora veio à minha procura com um cisto no ovário do tamanho de uma laranja. Ela estava sob cuidados médicos e submetera-se a uma série completa de exames. Estava determinada a se curar sem cirurgia. Essa não era uma decisão leviana; ela fora enfermeira num hospital por cerca de vinte anos. Seu médico apoiava sua decisão de tentar tratar-se usando métodos naturais; se eles não funcionassem, a única alternativa seria a cirurgia.


Enquanto eu examinava a região do ovário esquerdo, a minha mão cerca de oito centímetros acima do corpo dela, senti a congestão prânica correspondente a um cisto que parecia prestes a se romper. Comecei o tratamento ajudando o corpo a realizar sua função natural -- expulsar o invasor. Dei início a uma série de exercícios para purificar e revitalizar os chakras apropriados e o próprio ovário, e em seguida equilibrei seu corpo e revigorei-o com prana puro. O tratamento durou cerca de 25 minutos; em seguida, começamos a falar acerca das causas desse desequilíbrio em seu corpo.


Meu diagnóstico era bastante otimista em seu caso, principalmente em função da sua determinação de se curar. Simpatizei logo com essa senhora, que estava convencida de que a cirurgia lhe era desnecessária.


Tamanha convicção e determinação a levariam longe.


Marcamos uma sessão para seu marido, algo crucial em situações dessa natureza, de modo que eles pudessem abordar juntos a raiz do desequilíbrio que provocara a doença. Em seguida, recomendei uma decocção de ervas que ajudaria a dissolver o cisto se fosse tomada na forma de chá, três vezes ao dia.


Pedi que me ligasse dali a poucos dias e que voltasse em uma semana.

A mulher ligou dois dias depois para dizer que estava expelindo sangue misturado com uma substância estranha. Em seu caso, era um bom sinal. O corpo passara a expelir sem dor o cisto, de maneira natural.


Durante os dois meses seguintes, tivemos apenas quatro sessões antes que o cisto desaparecesse por completo e seu médico afirmasse que ela estava completamente curada. Com o apoio do marido, ela seguira as instruções que eu lhe dera e continuara a beber o chá de ervas por mim recomendado. Depois de nossa última sessão, seu corpo estava ainda livre de qualquer bloqueio no fluxo do prana. Todos os circuitos de energia fluíam bem, e sua constituição geral estava tranqüila.


Será a cura prânica uma cura milagrosa para todas as doenças? Não, é apenas um método yogue conhecido há milhares de anos, que usa a energia vital do corpo, o prana, para ajudar e equilibrar o organismo como um todo. As vezes a cura é lenta, às vezes é milagrosamente rápida. Vejam o exemplo deste psicólogo de San Francisco. Antes de nos encontrarmos, ele já sofria de enxaqueca há vários meses. Elas o deixavam prostrado, impedindo-o de dormir bem ou de trabalhar. As enxaquecas eram acompanhadas de fortes dores ciáticas na parte superior da perna direita. Eu iria me ausentar da cidade por dois meses e estava já de partida, mas dei um jeito de atendê-lo antes de viajar. Ao voltar, fiquei agradavelmente surpreso ao saber que a dor de cabeça cedera 24 horas depois da sessão e não aparecera mais. O problema da ciática também desaparecera depois de um dia. Fiz uma sessão de reforço para o nervo ciático, alguns dias depois de minha volta, para ajudar a manter o fluxo das correntes prânicas do corpo. Quatro anos depois, seus problemas não haviam voltado nas mesmas proporções.





Ou tomemos o caso desta senhora, que vivia às voltas com uma dor na nuca tão forte, que há um ano não conseguia dormir nem ter atividades normais. Ela já tentara todos os métodos disponíveis e vivia desesperada. Depois de uma sessão, sua dor desapareceu. No dia seguinte, um amigo seu lhe fez uma massagem e a dor voltou. Fiz uma outra sessão com ela e a dor desapareceu. Ao longo dos últimos três anos, a dor tem voltado esporadicamente, mas jamais resistiu a uma boa noite de sono. Pensem nisso: um ano inteiro de dor, e ela desapareceu em trinta minutos!


O que é a força misteriosa chamada prana? E como ela pode realizar milagres como esses que acabo de descrever? Se ela existe há milhares de anos, por que só agora ouvimos falar dela? Seráesse um método científico? Existem perigos ou efeitos colaterais relacionados com esse método? Será preciso alguma capacidade especial ou talento para aprender o método? Quanto tempo leva para aprender? Quais as doenças que ele pode ajudar a curar?


Essas e muitas outras perguntas serão respondidas nas páginas seguintes. Escrevi este livro porque, nos meus estudos, jamais encontrei uma obra que mostrasse a origem da cura energética. As raízes acham-se na tradição da yoga. O dr. David Frawley, em seu ótimo livro Gods, Sages and Kings,1 apresenta evidências de que provavelmente a cultura da Índia é a mais antiga da Terra. Existem inúmeros textos indianos antigos ─ alguns datando de antes de 5000 a.C. ─ que descrevem como usar o prana, a energia vital, para guerra,

meditação ou cura.


Procurei apresentar minhas descobertas de forma clara, fácil de ler e extremamente prática. Os três primeiros capítulos não são fundamentais para o método de cura, e servem mais para compreender as origens do prana e da medicina energética.


Nenhum dos livros atuais acerca da cura energética baseia-se nos métodos científicos da yoga ou os seguem. Essas novas técnicas foram desenvolvidas neste século, ao passo que os métodos da yoga existem há mais de 7000 anos. Este livro procura desfazer muitos dos mal-entendidos que existem acerca da medicina energética mal-entendidos criados nas novas escolas de cura. O método que este livro apresenta foi testado por milhões de pessoas ao longo de milhares de anos. Ele ainda existe porque funciona.


Ainda que haja inúmeros métodos de medicina energética, estes são alguns dos benefícios exclusivos

da cura prânica yogue:


1. Se você é capaz de respirar, você é capaz de curar com prana.

2. Não existe um sistema preestabelecido ao qual as pessoas devam se ajustar.

3. É possível eliminar as substâncias impuras antes de se energizar com prana.

4. Você pode acumular uma quantia maior de prana para energizar os outros, em vez de usar o seu próprio prana.

5. Você pode purificar o seu próprio corpo eliminando as substâncias indesejadas ou impuras acumuladas em virtude de tratamentos ou de outras pessoas.

6. 0 prana é projetado do Coração através das mãos; dessa forma, o prana assume a qualidade do amor.

7. Não há necessidade de nenhuma iniciação ou ritual religioso.

8. A cura prânica complementa todas as outras formas de cura.

9. A cura prânica, parte do primeiro sistema de medicina holística, o Ayurveda, foi desenvolvida por sábios que viam o ser humano como uma totalidade.


A cura prânica proporcionou não apenas saúde, mas também uma vida melhor a centenas de pessoas que conheço.


Quero agora partilhar essa beleza com um número maior de pessoas.


Este livro é dedicado a todos os que sofrem, que podem e irão se beneficiar desse método de cura.





(Extraído do livro: "PRANA - O Segredo da Cura pela Yoga", Atreya - Editora Pensamento)


domingo, 16 de janeiro de 2011

Se voce vê escuridão...


Quando Papaji estava em Nova Iorque, em 1986, um homem que tinha muitos problemas psicológicos veio visitar o mestre. Depois de uma longa ladainha de reclamações de parte do visitante, Papaji disse:

Se você vê escuridão, você mesmo deve ser a luz. A escuridão não pode existir sem luz. O sujeito que vê deve ser diferente do objeto que é visto. Se escuridão é o objeto, então você mesmo deve ser a luz.

Ao ouvir essas palavras, o visitante foi tomado por uma tremenda experiência.


[Retirado da biografia do Papaji Nothing Ever Happened, Vol. III, p. 76-8]


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No mesmo sentido é o seguinte techo do livro The Truth Is:

Você deve ser luz para ver a escuridão. Você não pode ver escuridão sendo escuridão. Você é o observador da escuridão e a escuridão é o objeto – você é o sujeito. Quando você dá as costas à luz você vê apenas sua sombra, a escuridão. Volte-se para a luz e você verá apenas a luz, e não a sua sombra. Dê as costas à escuridão e volte-se para a luz. A escolha é sua.

Se você vê a ilusão, você é Iluminado; mas se você pensa que é iluminado, você está na ilusão! [Risos]. Então descubra que é que vê a escuridão. Quem vê a escuridão? Para quem a escuridão é um objeto sendo visto? Descubra agora.

Você deve permanecer em Silêncio para descobrir isso; e não fazer esforços.Mantenha-se imóvel. Então não existirá mais escuridão. Nem mesmo movimento um pensamento acerca da escuridão, na sua mente.




(Fonte: http://Advaita.com.br)

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Caminho da entrega

Sri Nisargadatta Maharaj



Milhares de milhas longe de Mumbai, em um pequeno monastério na remota vila de Gretz-Armainvilliers, na França, um mestre espiritual de nome René Joly soube do falecimento de Nisargadatta Maharaj.

Ele anunciou essa triste notícia a seus seguidores e falou brevemente sobre Maharaj.

É verdadeiramente notável que, mesmo naqueles dias, a vida e os ensinamentos de Maharaj tivessem se espalhado para além dos limites da Índia e estavam sendo compartilhados entre seguidores espirituais em recantos distante no mundo.

Vinte e cinco anos mais tarde, em Mumbai, um dos discípulos de René Joly que estava presente naquele encontro relembra o impacto que aquele evento teve sobre ele...

***

Logo após Maharaj ter falecido em Setembro de 1981, eu estava em Gretz-Armainvilliers, uma pequena vila situada em Seine e Marne, no sudeste de Paris, França.

Eu estava passando alguns dias com alguns amigos no monastério Zen construído por meu guru, René Joly. René encontrou seu guru em 1946 na França: Swãmi Siddheswarãnanda, um monge indiano da Ordem de Ramakrishna, que havia passado um longo período com Ramana Maharshi e era muito próximo a ele, antes de vir para a França em 1936 para ensinar filosofia indiana.


Ramana Maharshi


Nós estávamos almoçando quando René, vindo de sua casa, próxima ao monastério, entrou no refeitório e sentou-se. A primeira coisa que ele disse foi:

"Ontem, um grande sábio, Nisargadatta Maharaj, faleceu em Mumbai. O que aconteceu com Nisargadatta ? Seu guru disse a ele, "Você é AQUILO, o Supremo além de todos os fenômenos..." Isso é tudo o que ele disse ! Com fervor, fé total e confiança nas palavras de seu guru, Nisargadatta, no devido tempo, realizou/percebeu que ele nem era o corpo, nem a psiqué, nem a mente... Ele descobriu tudo o que ele não era... Ele não passou por uma longa sadhana..."

Até aquele momento, eu não sabia nada sobre Maharaj.

René Joly ensinou-me o núcleo do Dharma Budista, não do "Budismo" e chamava a si mesmo e a nós: dharmãcarins, não de "Budistas". Para dar somente um exemplo de seu ensinamento: eu aprendi o significado da palavra sâncrita "Pratinisarga"(1) : Prati = em direção, sem possibilidade de volta atrás; ni = nis = nir = sem (além); sarga = coisas, fenômenos. NISARGA = além dos fenômenos, "sem" coisas; Pratinisarga = entrega total pelo abandono de "todas as coisas"= Nirvãna.

Por outro lado, e muito frequentemente, meu guru costumava dizer-me:
"Não se esqueça disso: Eu ensinei a você um Caminho que eu conheço bem...mas não é nada mais que um Caminho...uma medida. Estudar as escrituras, ler um monte de livros, pode ser útil para muitos. Lembre-se que, para Nisargadatta, isso NÃO foi necessário...ele entendeu muito rapidamente. Mas, o que é necessário para todos os buscadores é lembrar as palavras do guru com total diligência, atenção... a todo momento. Não se esqueça !"

Até hoje, eu me lembro o que meu guru me disse e meu interesse nos Ensinamentos de Maharaj tem somente crescido com o tempo...

Prajñátapa

Patrick Sicard


Nota

(1) Cerca de 150 anos após a morte do Buda e devido à fome, muitos monges morreram. Consequentemente, os discípulos decidiram escrever as palavras de seu Mestre a fim de os Ensinamentos não se perderem. O resultado foi o Canon Pãli Budista (a linguagem Pali é uma prakrit da linguagem Sânscrita) composto de três partes (Tipipaka). O Majhima Nikãya pertence à primeira parte. Ãnãpãnasati é o 118 Sutra do Majihima Nikaya. Ãnãpãnasati significa "a prática de plena atenção aplicada à inspiração e à exalação" e é nada mais do que o estado de não-mente. As escrituras dizem que o Buda costumava praticá-la e a recomendava a seus discípulos e alcançou a meta pela Ãnãpãnasati. Por que ? Muito provavelmente, porque este ponto principal e último (o décimo sexto) do treinamento é o final da prática: PATINISSAGA, em Sânscrito: PRATINISARGA é sinônimo de NIRVÃNA.




(tradução livre realizada por mim a partir de um capítulo do livro "The Last Days of Nisargadatta Maharaj - A tribute By de S.K. Mullarpattan", publicado por ocasião dos 25 anos do Mahasamadhi do grande Mestre)



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sem Mais Questões


Ao encontrar um mestre Zen em um evento social, um psiquiatra decidiu colocar-lhe uma questão que sempre esteve em sua mente:

"Exatamente como você ajuda as pessoas?" ele perguntou.

"Eu as alcanço naquele momento mais difícil, quando elas não tem mais nenhuma questão para perguntar," o mestre respondeu.



Extraído de http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=108

e

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Jean Klein: A simplicidade de Ser




Quando falamos da observação silenciosa, referimo-nos a um modo de escutar, uma forma de ver, a qual permite o observar em sua expressão direta e não qualificada. No processo da escuta, você pode descobrir que o observador está sempre julgando, criticando, comparando e avaliando. Este discernimento o leva por si só a uma posição na qual você não está envolvido no percebido. Então, uma sensação de espaço se abre entre sua observação e o observado, suscitando a compreensão de que o percebido surge em você, mas você não está limitado a qualquer coisa perceptível. O silêncio é nossa verdadeira natureza.

Então, o próprio pensamento é a raiz do problema?

Geralmente, conhecemos a nós mesmos nas percepções, nos estados. Nós apenas conhecemos a consciência de alguma coisa, a escuta de algo, etc. Nós não conhecemos a consciência pura sem um objeto.
Pensamentos, sentimentos e sensações são objetos da consciência, e não tem existência sem um sujeito que os observa. Visto que o que percebe nunca pode ser percebido, no momento em que um pensamento ou uma percepção aponta para ele, leva-o ao silêncio, ao ser puro, à consciência sem um objeto.

Então, o que é o que percebe?

O que percebe é uma faculdade, uma qualificação, a qual existe no momento em que há uma percepção no espaço-tempo. Sem a percepção, não há tampouco o que percebe. Ambos são movimentos de energia no espaço-tempo, e ambos surgem e se dissolvem novamente na consciência, a única que é atemporal.
O que percebe e o percebido são como ferramentas, instrumentos da consciência.
Tudo o que aparece é uma expressão da consciência.

Encontro realmente, se vir de mais perto, que, ao desejar realização, estou buscando a unidade fundamental ou a segurança, a paz se assim você quiser, euforia, se tiver sorte.... A consciência pura da qual você fala tem alguma destas qualidades?

Não. O que você busca é apenas memória, algo que já conhece e avalia como desejável. Todas estas coisas que você nomeia são atributos, sobreposições sobre a consciência pura. Há um entendimento profundo a ser ganho quando vê que, no momento da obtenção da qualidade desejada, não há nem uma qualidade-objeto nem um sujeito que a experimenta. Neste momento, há apenas unidade não-qualificada. É apenas depois de abandonar esta unidade que você procura uma causa e diz: “A causa desta alegria foi esta qualidade que alcancei”. Mas, no momento da vivência da unidade, não há lugar para qualquer qualidade, para qualquer objeto, seja qual for.

Esta unidade é nosso desejo verdadeiro?

É nosso desejo verdadeiro. Todos os outros desejos aparecem mais ou menos através da falta de discernimento. O desejo é um esforço para obter compensação, a busca de um modo de preencher um sentimento de vacuidade em você mesmo. Assim, quando, por um momento, o esforço termina e o objeto desejado é obtido, há um instante em que você vive em unidade, na satisfação final, mas esta satisfação não tem causa. E este instante nem mesmo pode ser chamado de um instante, pois é atemporal.

O que então é o Karma, o qual é produzido pela relação de causa e efeito?

No momento em que você vive sem qualquer programação, sem uma imagem ou uma idéia de ser alguém, não há Karma. A quem pertenceria o Karma? Remova o problema do Karma. Abandone-o completamente. A idéia lhe dá um apoio à existência de alguém que não existe. Quando você está completamente silencioso, onde está a imagem de ser alguém? Quando o reflexo de identificação com uma imagem desaparece, há a certeza de que a entidade pessoal não existe. Há apenas unidade. Então você está livre do Karma, pois o Karma pertence a alguém. Mas, quando você adiciona uma imagem de uma personalidade, de um homem, ou de ser isto ou aquilo, neste momento, você está ligado ao Karma.

Você poderia dar-me um exemplo concreto do que significa identificar-se com uma imagem?

Observe que desde a manhã até à noite você busca constantemente localizar-se. Você tem uma necessidade de localizar-se em algum lugar, seja na sensação corporal, na emoção, ou em uma idéia. Mas, quando você aceita que não pode encontrar a si mesmo, seu Eu verdadeiro, dentro de nenhuma percepção, o processo de produção cessa. Você deixa de criar idéis, imagens e situações.
Você deve viver na abertura sem qualquer memória. Isto significa que você está aberto completamente à vida, a tudo o que vier. E, desde que nesta abertura não há memória, nem reação, você está alerta completamente a cada momento para o frescor e para a novidade da vida. Não há mais repetição.

A mais próxima experiência do silêncio de que você fala é o sentimento e a satisfação do amor?

O silêncio é o plano de fundo de tudo o que acontece, de tudo o que aparece e desaparece. É o amor não-qualificado, o amor que não tem necessidade de qualquer estímulo. Estimula-se a si mesmo por si mesmo.
No momento em que você vive conscientemente na unidade, não há “outros”. Há apenas Eu. Isto é amor. Mas, quando você se toma por alguém, todas as relaçãoes são de objeto para objeto, de homem para mulher, de mão para filho, de personalidade a personalidade. E, aí, não há comunhão, não há possibilidade de amor.

Você diz que devemos aceitar a nós mesmos, a nossos corpos, capacidades, personalidades, e assim por diante. O que acontece depois disto?
Quando realmente você aceitou a si mesmo – e quero dizer que você aceitou de forma funcional, não psicológica – você sentirá um espaço entre sua posição de aceitação e tudo o que você aceitar. Esta sensação de espaço entre sua natureza real e sua imagem projetada é muito importante. Na aceitação de tudo o que aparece, você está livre dele. No começo, você se sente livre do que aceita, mas, mais tarde, você se verá a si mesmo na própria aceitação.

Na aceitação, há alguma noção de bem e de mal?

Bem e mal são projeções de idéias pré-concebidas, da memória. Cesse de projetar seus desejos e medos sobre o que você vê. Toma as coisas como são. Você deve aceitar algo para, realmente, conhecê-lo. Ao aceitar, a ênfase não é sobre o que aceitou, mas sobre a atitude de aceitação. Você descobrirá que você é um com a aceitação.
O que aceita não é um objeto. É uma realidade interior. A aceitação dá liberdade a tudo o que é aceito. O que você verdadeiramente aceita torna-se vivo e tem sua própria história para lhe contar. Mas o problema aqui não é simplesmente aceitar sua personalidade, sua “paisagem”. Esta é simplesmente uma condição preliminar para passar à experiência essencial, a atitude de aceitação em si mesma.

Mas, na vida, é necessário tomar decisões. Como podemos fazer isto se não discernimos?

Você apenas pode realmente tomar decisões quando aceita a situação. Na aceitação, a situação pertence à totalidade, à sua perfeição, e a decisão resulta desta perspectiva global. Não há nada passivo nesta aceitação. É a vigilância suprema. E a decisão resultante é uma ação, não na reação.
Quando vive na abertura e permite que cada situação venha você, você vlui com a verdadeira corrente da vida. Se você impõe o ego sobre cada acontecimento para de alguma forma controlá-lo, você percebe que não está de acordo com esta corrente de vida. A reação e a luta começam; você diz: “Tenho isto e gosta daquilo”. Este é um estado de conflito. Na aceitação, você vive simplesmente aqui onde está.


De: "A Simplicidade de Ser" Dialogos com Jean Klein


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ramesh Balsekar: trechos do livro "Consciousness Speaks"


Pergunta: Existe Consciência no espaço físico entre você e eu?

Ramesh: Tudo o que existe é a Consciência. Você e eu somos meros objetos projetados neste espaço. Tudo o que há é a Consciência. O espaço e o tempo são meros conceitos, um mecanismo para os objetos serem estendidos. Para os objetos tri-dimensionais serem estendidos o espaço é necessário. E o tempo é necessário para os objetos serem observados. A menos que aquele objeto seja observado, ele não existe.
Então o espaço e o tempo são meramente conceitos, um mecanismo, criado para esta manifestação acontecer e ser observada.
É incrível o quanto nos últimos poucos anos, comparativamente, a ciência deslanchou. A ciência diz a mesma coisa. Ela diz que o tempo e o espaço não são reais. Acho que foi o Sr. Fred Hoyle que disse: “Se você pensa que há um passado indo para o futuro ou futuro indo para o passo, você não poderia estar mais errado. Não pode existir tal fluxo. Está tudo aí, agora.”
A metáfora mais próxima que posso sugerir é esta: Se há uma pintura de uma milha de comprimento e dez andares de altura, está tudo lá, mas para você poder vê-la do início até o fim levaria algum tempo. Porque não conseguimos ver a figura toda num relance, a mente humana não é capaz disso, pensamos em termos de tempo. Mas a coisa toda está aí.

P: E como você disse, não vemos a figura toda, estamos vendo apenas uma pequena parte dela.

R: Parte por parte. Então até você chegar ao fim o tempo transcorreu. O conceito de tempo transcorreu.

P: Então, na realidade estamos limitados pelo tempo e o espaço?

R: Correto. Limitados pelo tempo, pelo espaço e pelo intelecto.


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Pergunta: Há um ditado Zen: “Quando você carrega água, carregue água.”

Ramesh: Sim! Assim como um mestre Zen que disse: “Se você quer a iluminação vá lavar os pratos.” O que quer dizer que quando você lavar os pratos, não lave-os com suas mãos enquanto sua mente está vagando por toda parte.

P: Com ressentimento.

R: Isso não é lavar pratos. O sábio, o homem de sabedoria, tem uma atitude básica de trabalho e de vida de uma confiança respeitosa com relação à natureza e à natureza humana, a despeito das guerras, das revoluções, da fome, do aumento da criminalidade e todos os tipos de horrores. Ele não está preocupado com a noção de um pecado original e nem tem o sentimento de que a existência, samsara mesmo, é um desastre. Seu entendimento básico tem a premissa de que se você não pode confiar na natureza e nas outras pessoas, você não pode confiar em você mesmo.
Sem essa confiança como pano de fundo, uma fé no funcionamento da Totalidade, em todo o sistema da natureza, ficamos simplesmente paralisados. Afinal, não é realmente uma questão de você estando de um lado e a confiança na natureza de outro. Na verdade é uma questão de perceber que nós e a natureza somos um e o mesmo processo, não entidades separadas. Você não pode omitir um inteiro sem perturbar o sistema todo.
Em outras palavras, o universo é um processo orgânico e relacional, não um mecanismo. Ele não é de maneira nenhuma análogo a uma hierarquia política ou militar onde há um comandante supremo. Ele é múltiplo, uma rede multi-dimensional de jóias, cada uma contendo o reflexo de todas as outras. É assim que o universo tem sido descrito. Cada jóia é uma coisa-evento e entre uma coisa-evento e outra não há obstrução. A mútua interpenetração e interdependência de tudo no universo. É por isso que o Chinês diz: “Arranque uma folha de grama e você chacoalhará o universo.”
O princípio básico dessa visão orgânica do universo é que o cosmos está implícito em cada membro dele e cada ponto dele pode ser considerado como um centro. A compreensão perfeita é um holofote de luz no universo todo em seu funcionamento, exibindo-o como uma harmonia de padrões intrincados. Enquanto que a visão-lanterna da mente dividida da entidade individual ilusória vê apenas cada padrão por si mesmo, parte por parte, e conclui que o universo é uma massa de conflito. É uma visão-lanterna limitada que daria um senso de horror ao normal fenômeno universal de uma espécie no mundo biológico sendo a comida de outra. A perspectiva mais ampla, a do holofote, é a compreensão perfeita e ela veria as coisas como elas são.
O nascimento e a morte não são nada além de integração e desintegração, o aparecimento e o subsequente desaparecimento dos objetos fenomenais na manifestação. A compreensão verdadeira, a apercepção, inclui a compreensão de que não existe separação entre a compreensão e a ação.
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Pergunta: A utilização do termo “evolução espiritual” pressupõe um envolvimento com o tempo.

Ramesh: De fato, é claro. Todo o processo é na fenomenalidade tempo-espaço.

P: O que é isso que está envolvido com o tempo, é o mecanismo corpo-mente?

R: Não. O que está envolvido no tempo-espaço é a Consciência identificada, a Consciência que deliberadamente identificou-se com um organismo individual.

P: Por que isso ocorreu?

R: Para que esse lila, esse jogo, esse sonho cósmico pudesse acontecer. Esse processo de identificação é contínuo. Novas criaturas, novos seres humanos estão constantemente sendo criados e neles a identificação acontece. Essa identificação prossegue num processo de evolução. Em algum ponto a mente volta-se para dentro e o processo de desidentificação se inicia. Esse processo leva muito tempo e muitos nascimentos. Todo o jogo é identificação, depois a mente volta-se para o interior e então dá-se o processo de desidentificação. Saiba você, tudo isso é um conceito, mas pode ajudar a trazer a compreensão final.

P: Esse voltar-se para dentro é um meio de ignorar o ego?

R: Não. O voltar-se para o interior pode apenas acontecer, você vê. O voltar-se para dentro é esse processo de evolução espiritual. A evolução ocorre em todas as coisas. Há a evolução física, há a evolução na música, na arte, na ciência e há evolução espiritual.
Nessa evolução espiritual, há primeiro a identificação que ocorre através de muitos milhares de organismos corpo-mente. Quero dizer, poderiam ser centenas de milhares ou milhões, esse não é o ponto mas é que ocorre através de diversos organismos corpo-mente. E num certo organismo corpo-mente o voltar-se para dentro irá acontecer. Um pensamento ocorre ou um evento ocorre ou algo acontece, e com isso como uma aparente causa, a mente volta-se para dentro. E em vez da mente ir para fora, querendo mais e mais objetos materiais, a mente volta-se para dentro e quer conhecer sua natureza real: “Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Qual é o sentido da vida?” Então o processo de desidentificação começa. A busca espiritual nessa evolução começa com a mente voltando-se para dentro e o indivíduo começando a buscar. E essa busca, que na verdade é o processo de desidentificação, continua através de vários processos na evolução. De um tipo de busca você vai para outro tipo de busca e passa por muitas frustrações, até que finalmente há uma compreensão repentina de que nenhum “indivíduo” jamais pode ser iluminado. A iluminação, sendo um acontecimento impessoal, pode acontecer apenas através de um objeto. Para qualquer evento poder acontecer um objeto é necessário. Assim, quando a iluminação está para acontecer um organismo corpo-mente que está pronto para receber essa iluminação é criado nesta evolução. Ele tem as características físicas, mentais, temperamentais, que tornam esse organismo corpo-mente capaz de receber a iluminação. E esse próprio organismo corpo-mente é um processo de evolução.
O início dessa compreensão, na duração, é a aceitação de que a iluminação pode não acontecer através deste organismo corpo-mente. Para um buscador é uma coisa muito difícil de aceitar, para um indivíduo buscador, mas esse é um marco importante nesse processo na dualidade. Então um “abrir mão” acontece e há um tremendo sentido de liberdade. “Se eu não posso ter a iluminação e se um objeto não pode ser iluminado, o que estou buscando?”
De modo que esse “abrir mão” acontece e essa identificação com este corpo-mente, esse “eu”, fica mais fraca. Mas um certo salto quântico acontece no processo. E o salto quântico final, que está logo antes da iluminação, é este: “não há mais busca, não há mais preocupação se a iluminação vai acontecer ou não.” Quando essa aceitação surge, o “eu” praticamente já se foi. Porque é o “eu” que é o buscador, não o organismo corpo-mente. O organismo por si mesmo é apenas um objeto inerte, necessário para a iluminação acontecer.

P: O “eu” é o “eu” enquanto houver o buscador, correto?

R: Sim, correto. Então quando a busca desaparece, o “eu” buscador também desaparece.

P: Então, esse é o ponto final, a evolução de “eu”?

R: Sim. O “eu” evolui, mas não esse “eu”.

P: Sei, quero dizer coletivamente.

R: Sim, como disse, um “eu” chamado Albert Einstein foi evoluído para a teoria da relatividade. Mas apenas para a teoria da relatividade. Para uma subsequente evolução na ciência, outros corpos-mentes foram criados. Einstein não estava pronto para aceitar o desenvolvimento ulterior da teoria quântica. Ele não podia aceitar a teoria da incerteza de Heisenberg. Einstein disse que essa teoria da incerteza significava que “Deus estava jogando dados com o universo.” Ele disse que ele não podia aceitar que Deus estava jogando dados com o universo. Niels Bohr respondeu: “Deus não está jogando dados com o universo. Nós pensamos isso porque não temos todas as informações que Deus tem!”
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Pergunta: Você pergunta frequentemente: “quem está aprisionado?” “Quem está buscando?” Eu gostaria de fazer a mesma pergunta para você.

Ramesh: É a consciência individual ou pessoal que está buscando sua fonte. A consciência, tendo identificado a si mesma num “eu” pessoal, está agora tentando recuperar sua impessoalidade. Isso é tudo que está acontecendo. E o processo torna-se mais rápido quando a mente não interfere, quando o “eu” não está presente, apenas o eu, o Eu Subjetivo está presente. O sábio Ashtavakra nos diz o que é o aprisionamento.
Ele diz: “Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. Significa liberação quando a mente não deseja ou se aflige, não aceita ou rejeita, não sente-se feliz ou infeliz.”
Agora, a mente humana treinada e condicionada como é, prontamente diz: “Eu não posso desejar nada, não devo rejeitar nada.” Mas a mente é incapaz de perceber que esse não-desejar algo inclui desejar o conhecimento de sua verdadeira natureza. Desejo não significa apenas desejar algum objeto mas mesmo o desejo pela iluminação. A necessidade de saber, de ter o conhecimento de sua verdadeira natureza, mesmo isso é um desejo e esse desejo acontece através do “eu”.
Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. A mente deseja a iluminação e se aflige pelo fato que ela ainda não se iluminou. “Eu” estou nisso a dez, doze, vinte e cinco anos e ainda assim nada está acontecendo!” A mente se aflige por esse “não acontecer”. A mente deseja ou quer algum acontecimento e se aflige pelo não acontecimento desse evento. Significa liberação quando a mente não deseja, quer ou se aflige, quando a mente está vazia, quando a mente está aberta. A mente vazia não é a mente vazia de um idiota, é uma mente aberta, o mais alerta que a mente possa estar, porque ela não está condicionada. Não está querendo nada, não está preenchida de coisa nenhuma. Não há ninguém em casa. A mente está vazia. Ela não rejeita ou aceita, não sente feliz ou infeliz.
Em seguida, Ashtavakra diz: “ Significa aprisionamento quando a mente está apegada a qualquer experiência sensorial. É liberação quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.” Novamente ele coloca isso de uma maneira tão breve. Ele não forçou-se a explicar. O sábio quer que o suposto buscador descubra isso por si mesmo. Ele não está dizendo que a experiência sensorial não surgirá. Ele não está dizendo que a iluminação impede o surgimento de qualquer experiência sensorial. O surgimento de uma experiência, de um evento, está totalmente fora do controle de qualquer organismo corpo-mente, tenha a iluminação acontecido ou não. Portanto, não é que o sábio recusa toda experiência sensorial, ela está lá. A experiência sensorial é experimentada mas a mente não está apegada àquela experiência sensorial. Ela acontece e termina. E qualquer experiência é sempre no momento presente. Qualquer experiência boa ou ruim, prazerosa ou não-prazerosa, é sempre no momento presente. Toda experiência é uma experiência impessoal. A experiência impessoal perde sua impessoalidade quando a mente-intelecto aceita essa experiência como sendo dela própria, aceita-a ou rejeita-a como boa ou ruim. Se é prazerosa ela quer que essa experiência venha mais frequentemente. Se for ruim ela rejeita-a, ela não quer. Portanto, o apego a uma experiência acontece sempre no tempo, na duração. A experiência impessoal, que é a experiência do sábio, é sempre no momento presente e quando essa experiência se vai a mente não pensa mais sobre ela. A mente está totalmente desapegada. A experiência é vista como uma experiência impessoal e naquele momento ela é terminada. A liberação é quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.
Por último Ashtavakra diz: “Quando o 'eu' está presente é aprisionamento. Quando o 'eu' não está lá é liberação. Sabendo disso o sábio mantém-se aberto para o que quer que a vida possa trazer, sem aceitar e sem rejeitar isso.”
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Pergunta: Esse sentimento íntimo e próximo que tenho de “eu”, ele de fato dissolve?
Ramesh: Ele dissolve, mas quem vai testemunhar essa dissolução? Você vê o que quero dizer? Ele de fato dissolve, portanto o que dissolve é o próprio “eu”. Quem é que sabe que o “eu” dissolveu? É apenas o “eu” que poderia experimentar isso.
P: Então o “eu” vai ir e vir e depois terminará?
R: Sim. E enquanto o “eu” vai e vem, o estado de testemunhar acontece. O “eu” é a mente, portanto, a mente não pode observar a si mesma. Se a mente observar sua própria operação, então sempre haverá comparação e julgamento: “Isso é bom, isso é ruim, isso é tal e tal.” Isso não é testemunhar. Testemunhar é meramente observar um evento ou um pensamento ou uma emoção conforme surjam, sem fazer nenhuma comparação, sem nenhum julgamento, meramente testemunhar. O testemunhar é impessoal e é vertical, portanto ele corta o envolvimento horizontal. Conforme o “eu” diminuir, o testemunhar irá acontecer mais frequentemente e por períodos mais longos. De repente chegará o momento em que as reações não mais acontecerão para um evento ou um pensamento, onde haverá um sentimento de paz, de bem-estar, mas não haverá “alguém” para sentir esse bem-estar. Não é que o “eu” repentinamente dirá: “Ah, eu desapareci!” Quem estará lá para dizer que desapareceu?
P: Mas ele dissolve?
R: Sim, mas não se você quiser que ele dissolva.



(Extraído do Blog Portal do Conhecimento Divino)