sexta-feira, 30 de julho de 2010

Verdade e Hipnose





"O pior cego é aquele que não quer enxergar", ditado popular.

George Gurdjieff é um dos mestres mais importantes de nossa era.

Ele é único sob muitos aspectos: ninguém no mundo contemporâneo se expressa como ele. Ele é quase como um outro Bodhidharma ou Chuang Tzu, aparentemente absurdo, mas na realidade dando excelentes indicações para a libertação da consciência humana. Ele costumava dizer: "Você está numa prisão". Às vezes mergulhava ainda mais fundo na realidade e, em vez de dizer "Você está numa prisão", dizia "Você é a prisão". O que é mais verdadeiro.

Se você quiser sair da prisão - ou, melhor dizendo, se não quiser ser uma prisão -, a primeira coisa a fazer é dar-se conta de que está numa prisão... ou de que é uma prisão. É algo que deve ser sempre lembrado como um dos primeiros princípios de todo aquele que e stiver em busca da verdade.

A tendência da mente humana é negar as coisas feias, esconder o que não quer que os outros saibam - e esconder de tal maneira, em camadas tão profundas do inconsciente, que a própria pessoa deixa de ter consciência dessas coisas! Desse modo, mantém sua personalidade superficial.

Gurdjieff tem uma história a esse respeito...

Havia um mágico que vivia numa floresta densa e tinha muitas ovelhas, que eram seu único alimento. No meio da floresta, ele mantinha todas aquelas ovelhas somente para matá-las diariamente, uma a uma. Naturalmente, as ovelhas tinham muito medo dele e costumavam correr pela floresta, temendo que qualquer dia fosse o seu dia de morrer. As companheiras que eu tinha já se foram, não se pode confiar... Por puro medo, elas costumavam fugir para muito longe, entrando profundamente pela floresta. E todo dia era uma canseira tentar encontrá-las.

Finalmente, o mágico recorreu a u m truque. Ele hipnotizava as ovelhas, dizendo-lhes: "Você é uma exceção; todo mundo pode ser morto, mas não você. Você não é uma ovelha comum; você tem um privilégio divino". Para as outras dizia: "Vocês não são ovelhas; são leões, tigres, lobos. Só as ovelhas são mortas. Não precisam esconder-se na floresta; seria muito embaraçoso um leão se escondendo na floresta com medo de ser morto - só as ovelhas são mortas". Dessa forma, ele conseguia hipnotizar todas as ovelhas.

Chegava inclusive a dizer para algumas delas: "Vocês são homens, seres humanos, e os seres humanos não se matam uns aos outros. Vocês são exatamente como eu (ser humano). Nunca tenham medo nem tentem fugir por medo". Desde esse dia, nenhuma ovelha voltou a fugir para se esconder na floresta, embora todas elas vissem diariamente que uma delas era abatida e morta (como vemos todos os dias, não é mesmo?). Mas é claro que todas pensavam: ela deve ser uma ovelha; eu sou um tigre, um leão, um ser humano. Eu sou especial e excepcional, tenho um privilégio divino... Eram essas as histórias que o mágico botava em suas cabeças.



Gurdjieff


Gurdjieff afirma que, se não nos conscientizarmos da primeira coisa - de que estamos numa prisão, que somos a prisão -, não existe esperança de liberdade. Se você já acredita que é livre, é por ser uma ovelha hipnotizada que pensa ser um leão - excepcional, não é preciso ter medo -, que acredita inclusive que é um ser humano (divino). Você continua vendo outras ovelhas serem mortas, mas ainda está sob efeito da hipnose, sem tomar consciência de sua condição concreta. Ser livre, quando já sabemos que somos livres, não constitui problema.

Todas as religiões juntas, talvez involuntariamente, geraram um tremendo estado hipnótico. As pessoas acre ditam ter almas imortais. Não estou dizendo que você não tem, mas apenas que não sabem em que acreditam. E, como acreditam que têm uma alma imortal, nunca descobrem que já a têm. Disseram-lhes: "Vocês são o reino de Deus"... e é tão cômodo e consolador acreditar nisso. Mas não existe uma maneira de buscar e tentar descobrir se essa crença hipotética tem algum fundo de verdade, ou é apenas um truque hipnótico usado pela sociedade (pelos manipuladores da sociedade) para mantê-lo livre do medo da morte, da doença, da velhice, da solidão (e manter você disponível para ser sacrificado, quando for conveniente).

O seu Deus pode ser apenas uma hipnose psicológica. Não é uma descoberta sua. Isso é verdade: até aqui, é a absoluta verdade. Ele (Deus) foi implantado em sua mente e, como você continua acreditando nele, a sua crença impede qualquer aventura de busca da verdade.

Geralmente, estão sempre lhe dizendo que, se não acreditar, você não encontrará. Mas a verdade é exatamente o contrário. A crença é uma barreira para se encontrar a verdade, não é uma ponte. Os que acreditam nunca encontram, pois sequer se dão ao trabalho de buscar; não há necessidade, "já sabem"...

Você está numa prisão e se julga livre.

Você está preso a grilhões, mas acha que são apenas adornos. É um escravo (numa sociedade escravagista), mas lhe disseram que você é apenas humilde, simples, que é assim que deve ser uma pessoa religiosa como você. Você está cercado de muitas estratégias hipnóticas desenvolvidas pela sociedade ao longo das eras. E essas estratégias hipnóticas sã a causa essencial da sua ignorância, do seu sofrimento, da sua falta de esclarecimento (de suas doenças físicas e mentais).

De modo que a primeira coisa a ter em mente é que você está numa prisão. A partir do momento em que você reconhece que está numa prisão, você já não pode mais tolerá-la. Ninguém a tolera; ela vai contra a sua dignidade humana. Você começará a encontrar maneiras de sair dela. Começará a conhecer pessoas que já se libertaram. Pode começar a buscar ajuda além das muralhas, pois lá fora existem pessoas capazes de oferecer todo tipo de ajuda. Mas elas não serão de ajuda alguma se você acreditar que já está vivendo em absoluta liberdade.

Se você acredita que essa prisão é a sua casa, seria naturalmente absurdo pensar em se livrar dela. Você acredita que o muro que o mantém prisioneiro é uma proteção para você. Estaria portanto fora de questão fazer um buraco na parede para escapar, ou encontrar uma escada, ou ainda buscar ajuda lá fora. Pode até ser lançada uma corda lá de fora, ou providenciada uma escada, mas isso só teria valia se for reconhecido o principal: que você está numa prisão. George Gurdjieff estava constantemente insistindo: "É a principal coisa a entender. Sem isso, não pode haver avanço para o esclarecimento. Se você acha que é livre, você não pode escapar".




Fonte: Osho, Encontros com pessoas notáveis, Editora Academia, São Paulo, 2009.

Histórias Sufi




Um viajante encontrou a casa de um beduíno perdida no meio do deserto. Este não tinha mais do que um pouco de leite de cabra, que não saciou a fome do hóspede.

Nisto, o beduíno disse à esposa:

“Mata a cabra.”

“Marido, é tudo o que temos, sem ela morreremos de fome.”

“Antes morrer de fome que deixar o nosso hóspede faminto. Mata a cabra, mulher!”

A cabra foi morta, cozinhada e servida.

Na hora da partida, o hóspede disse ao seu criado:

“Dá ao nosso anfitrião tudo o que contigo trazes.”

“Mas, Senhor, tamanha riqueza por uma cabra apenas?”, questionou o servo.

“É verdade. No entanto, este bom homem deu-nos tudo o que possuía e nós pouco lhe estamos a dar. A sua generosidade é muito superior à nossa.”


Fonte:

http://www.cienciadasreligioes.eu/wikipedia/index.php?title=Pequenas_Hist%C3%B3rias_Sufi

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Deleuze e o Tarô







Retirei o excelente texto que se segue do Blog: Cosmos e Consciência.
Clique no link para acessar o texto completo, que possui uma interpretação delueziana para as cartas do tarô, aqui não reproduzida.



Deleuze e o Tarô

Rascunho rumo a um pensar em êxtase

Por: Nelson Job

Em magia, como em religião e em linguística,
são as idéias inconscientes que agem.

Marcel Mauss

A filosofia “deleuziana” se presta a quê? Se presta a pensar em limiar, a pensar com, sem amarras, sem limites, em ressonância. Deleuze dialogou com vários filósofos clássicos, com a física, a biologia, a antropologia, a literatura, o cinema, a pintura, a psicanálise, a química etc. Em um artigo anterior, “Ontologia Onírica”, nos dedicamos a evidenciar as ressonâncias entre a filosofia da diferença (tendo Deleuze como atrator), a física “pós-newtoniana”, o hermetismo e a literatura de ficção científica pré-cyberpunk. Tais relações permitem uma ressonância mais específica: a relação entre os principais conceitos de Deleuze (e da filosofia da diferença) com os arcanos maiores do tarô.

Sobre o tarô, pouco desenvolveremos. As imagens devem falar por si. Existem inúmeros livros sobre tarô, mas nenhum deles vai fornecer o mais relevante: a relação intensiva e intuitiva com as imagens.

Uma filosofia como a de Deleuze ser relacionada com um saber pagão como o hermetismo, e, por conseqüência, com o tarô, não nos surpreende. Deleuze, em seu texto “Nietzsche e São Paulo, D. H. Lawrence e João de Patmos” faz um belo elogio ao paganismo (simbólico), que possui conexões vivas, em detrimento do judaísmo e cristianismo (alegóricos) com seu amor abstrato (dar sem nada tomar) e o Apocalipse já industrial (que, com o seu “Juízo” - pré kantiano - Final, nos desconecta com o cosmos).

O paganismo é uma relação de êxtase com o cosmos, onde a vida é celebrada. Não nos surpreende que um antropólogo como Eduardo Viveiros de Castro, dado a reviravoltas deleuzianas, relacione o seu trabalho etnográfico (que envolve o xamanismo Yawalapíti e Araweté) com o filósofo neo-platônico Plotino, em seu texto “A Floresta de cristal”. Nele, é formulada uma operação que nos é cara: “Seria preciso apenas trocar a metafísica molar e solar do Um neo-platônico pela metafísica da multiplicidade lunar, estelar e molecular indígena”.

Plotino é o primeiro grande filósofo do êxtase (lembrando que "êxtase" significa literalmente "sair de si mesmo"). Francis Yates, em seu brilhante “Giordano Bruno e a Tradição Hermética”, o considera o verdadeiro iniciador histórico do hermetismo. Porfírio, seguidor de Plotino, nos diz que seu mestre sofreu quatro êxtases em que ele sofria tremores e tinha visões, donde os textos das “Enéadas” derivavam-se a partir de tais êxtases. Deleuze celebra o conceito de “contemplação” em Plotino, que já era uma relação onde sujeito e objeto se misturavam.

O autor que Deleuze considera o seu “plano de imanência”, Spinoza, também tinha várias influências místicas (a cabala judaica, por exemplo), como afirma Marilena Chauí em sua máquina do tempo “A Nervura do Real”. Vale lembrar que Bergson, outro grande atrator na obra de Deleuze, possui um livro chamado “A Energia Espiritual”, onde afirmava a telepatia e a vida após a morte. As questões de Deleuze seriam místicas, mas não com essa alcunha: mistura de sujeito e objeto, problematização da atomização do eu, conexão intensiva com a Natureza apenas para sair dela rumo ao inominável: o devir contra-natureza e a criação de Corpo sem Órgãos.

Uma relação do tarô com Deleuze já foi feita, sobretudo enfatizando o seu caráter semiótico, por Inna Semetsky. A nossa abordagem é diferente, relacionando conceitos filosóficos. François Jullien - esse um grande autor cujo conjunto de obra é um extensivo trabalho relacionando a filosofia do Ocidente e o pensamento chinês - em seu livro “Figuras da Imanência”, realizou um ótimo estudo relacionando o “I Ching”, antigo livro oracular chinês, com vários conceitos da filosofia da diferença.

O tarô, como quase tudo relacionado ao conhecimento antigo, tem um passado incerto. Costuma-se afirmar que tenha se originado no Antigo Egito, com o hermetismo. Os jogos de carta começaram a se popularizar na Europa no séc XIV e o tarô mais popular – com o qual lidaremos neste texto – conhecido com o Tarô de Marselha, surgiu no final do séc XV, constituído por 22 arcanos maiores, de sentido mais geral e por 56 arcanos menores.

Jogar tarô é mais e menos que realizar um “oráculo”. Mais do que “dizer o futuro”, o tarô realiza o princípio hermético de correspondência, a saber: tudo o que está em cima é como o que está embaixo. Desse princípio se desenvolve, por exemplo, a astrologia, que é um embrião da astronomia. O princípio hermético da correspondência é o mais profícuo (e popular, daí um texto apenas para ele: “Fractais quânticos monádicos”) de todos, pois possui ressonância com a teoria do caos (fractais), mecânica quântica (“colapso” de onda) e filosofia, já que o conceito leibniziano de mônada, se origina no hermetismo. Então, jogar tarô é ver o presente, grávido de passado e futuro



Fonte:
http://cosmoseconsciencia.blogspot.com/2010/02/deleuze-e-o-taro.html

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cristianismo e xamanismo


The Pharmacratic Inquisition
Gênero: Astrologia e xamanismo
Diretor: Andrew Rutajit
Duração: 1h58 minutos
Ano de Lançamento: 2007
País de Origem: Estados Unidos
Idioma do Áudio: Inglês

"O filme argumenta que virtualmente toda a mitologia, simbolismo e a história de Jesus e das tradições Cristãs estão relacionadas a dois assuntos básicos: astrologia e xamanismo. Para aqueles não familiares com as evidências que apóiam esta declaração, este filme pode ser verdadeiramente revolucionário e abrir a mente.

Muito do material do filme está apoiado no trabalho de John Allegro. Allegro foi um dos acadêmicos originalmente escolhidos para traduzir os Pergaminhos do Mar Morto, escritos Católicos antigos, descobertos em Qumran próximo ao Mar Morto no meio do século XX. Diferentemente de seus colegas, Allegro não era comprometido com a Igreja Católica e portanto foi capaz de desenvolver suas próprias teorias e interpretações, livre do dogma Católico. O resultado foi a sugestão radical de que Jesus era um cogumelo psicoativo. Em particular, Allegro argumentou que a mitologia e o simbolismo que rodeiam Jesus Cristo apontam para o cogumelo Amanita muscaria, o icônico cogumelo vermelho e branco tão comum no simbolismo e imagens Cristãs.

O cogumelo Amanita tem papel central no filme e é apresentado como base dos elementos xamânicos no Cristianismo. Existe uma história longa de uso do Amanita entre xamãs do norte europeu e da Sibéria, as próprias culturas de onde se origina a palavra "xamã". Nestas culturas, xamanismo era sinônimo do uso do Amanita e o conhecimento de suas propriedades psicoativas eram bem conhecidos em toda esta região do mundo. Portanto a influência do uso xamânico do Amanita no Cristianismo não deveria necessariamente surpreender, mas o argumento de que Jesus é o Amanita, e não um personagem histórico, é provavelmente surpresa para muitos.

O filme faz uma argumentação convincente para esta conexão entre Jesus e o Amanita, e mesmo com os cogumelos psilocibe, através da apresentação do simbolismo Católico, iconografia e imagens. Quando se olha cuidadosamente para a Igreja Católica, o simbolismo do Amanita parece abundante, das roupas dos Papas e cardinais até afrescos, arcos de passagem e arquitetura de igrejas. Mesmo os mitos, como do Santo Graal, parecem cair na categoria de simbolismo do amanita. Realmente, quando as imagens são apresentadas desta maneira, a comparação com o amanita se torna imediatamente óbvia e difícil de desbancar.

Mesmo Papai Noel recebe o tratamento amanita neste filme. Aqui o elfo bom velhinho é apresentado no contexto do xamanismo do norte europeu, onde, de acordo com a tradição, o xamã secava seus amanitas em um pinheiro e depois visitava os yurts de sua comunidade, entrando pelo buraco para fumaça trazendo de presente para as pessoas cogumelos sagrados. Não é muito estender esta visão para perceber que estes xamãs que passeavam com renas foram o modelo icônico para o velho gordo Noel vestido de vermelho e branco, ele mesmo parecendo muito com o amanita.

O filme apresenta, adicionalmente à influência do xamanismo e de cogumelos psicoativos no Cristianismo, a relação entre astrologia e astronomia com o mito Cristão. Aqui os produtores fornecem argumentos convincentes para a correlação entre o mito Cristão e o céu no Solstício de inverno, incluindo as Eras Zodiacais, demonstrando graficamente como estes contos da estrela brilhante, os três reis, a morte e ressurreição de Jesus todos se encaixam com fatos previamente conhecidos do céu noturno e a mudança das estações.

Por fim, a Inquisição Farmacrática desafia muitos dos pressupostos e crenças que podemos ter sobre o Cristianismo e suas figuras centrais, mostrando evidências provocativas de que as coisas não são como parecem nesta tradição. Se for verdade, a pergunta que vem é: Será que a Igreja Católica ainda usa o amanita secretamente nos confins do Vaticano? Estariam eles realmente escondendo esta verdade fundamental por dois milênios, ou eles mesmos passaram a acreditar nos mitos que foram criados para comunicar e esconder a verdadeira identidade de Jesus Cristo? Assista este filme e tome sua decisão."



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Consciência e consciência



(Nota do Editor: usa-se aqui o termo "Consciência" - com letra inicial maiúscula - quando se refere à presença onde não há sentido de " eu". Refere-se à consciência pura e impessoal. O estado original e eterno, além da percepção, do tempo e de qualquer identificação mundana. Usa-se a palavra "consciência" - em minúsculo - quando se refere à sensação de existir, ao sentimento "eu sou" identificado com um objeto, uma entidade, à consciência no nível da percepção manifestada do tempo e do espaço)



Pergunta: Que você faz quando está adormecido?

Maharaj: Tenho consciência de estar adormecido.

P: Não é o sono um estado de inconsciência?

M: Sim, tenho consciência de estar inconsciente.

P: E quando está desperto, ou sonhando?

M: Tenho consciência de estar desperto ou sonhando.

P: Não o entendo. O que quer dizer exatamente? Deixe-me esclarecer meus termos; por adormecido quero dizer inconsciente, por desperto quero dizer consciente, por sonhar quero dizer consciente da mente mas não das cercanias.

M: Bom, é quase o mesmo para mim. Ainda assim, parece que há alguma diferença. Em cada estado, você esquece os outros dois, enquanto que, para mim, apenas há um estado de ser, incluindo e transcendendo os três estados mentais de vigília, do dormir e do sonhar.

P: Você vê um rumo e um propósito no mundo?

M: O mundo não é senão um reflexo de minha imaginação. Posso ver o que quiser. Mas porque eu deveria inventar modelos de criação, evolução e destruição? Não os necessito. O mundo está em mim, o mundo sou eu mesmo. Não o temo e não desejo encerrá-lo em uma imagem mental.

P: Voltando ao dormir. Você sonha?

M: Certamente.

P: Que são os sonhos?

M: Ecos do estado de vigília.

P: E seu sono profundo?

M: A consciência do cérebro está suspensa.

P: Está, então, inconsciente?

M: Inconsciente de minhas cercanias, sim.

P: Não totalmente inconsciente?

M: Permaneço ciente de que estou inconsciente.

P: Você utiliza os termos "cônscio" e "consciente". Não são a mesma coisa?

M: A Consciência é primordial; é o estado original, sem princípio nem fim, sem causa, sem apoio, sem partes, sem mudança. A consciência está em contato, um reflexo contra uma superfície, um estado de dualidade. Não pode haver consciência sem a Consciência, mas pode haver Consciência sem a consciência, como no sono profundo. A Consciência é absoluta, a consciência é relativa a seu conteúdo; a consciência é sempre de alguma coisa. A consciência é parcial, a Consciência é total, imutável, tranqüila e silenciosa. E é a matriz comum de toda experiência.

P: Como se vai além da consciência, até a Consciência?

M: Já que a Consciência é a que faz possível o ser consciente, há Consciência em todo estado de consciência. Portanto, a própria consciência de ser consciente já é um movimento na Consciência. O interesse em sua corrente de consciência o levará à Consciência.
Não é um novo estado. Ele é imediatamente reconhecido como a existência básica, original, que é a própria vida, e também o amor e a alegria.

P: Já que a realidade está sempre conosco, em que consiste a auto-realização?

M: A realização é o oposto da ignorância. Tomar o mundo por real e ao próprio ser por irreal é ignorância, a causa da aflição. Conhecer o ser como a única realidade e todo o restante como temporal e transitório, é liberdade, paz e alegria. Tudo é muito simples. No lugar de ver as coisas como as imaginamos, aprenderá a vê-Ias como são. Quando puder ver as coisas como são, também você se verá como é. É como limpar um espelho. O mesmo espelho que lhe mostra como é o mundo também lhe mostrará sua própria face.
O pensamento "eu sou" é um pano de limpeza. Use-o.




(extraido do livro "EU SOU AQUILO - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" - Editora Advaita)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nota do Editor sobre o livro Sinais do Absoluto




"Descobrir um novo autor de mérito genuíno é como descobrir um novo planeta ou estrela no espaço infinito do céu. Enquanto escrevo estas linhas, posso imaginar como William Herschel se sentiu quando descobriu Urano.

Ramesh Balsekar, o autor desta obra, é uma nova luz de cintilante esplendor que adornou o firmamento misterioso da literatura esotérica de grande significação, embora totalmente indiferente a seu próprio brilho. Quando, depois de um rápido olhar para uns poucos capítulos de seu manuscrito, o qual me chegou às mãos através de um amigo comum, eu o encontrei e lhe falei sobre quão gratamente impressionado eu estava, ele me fixou um olhar vazio. Eu não sou o autor, ele disse, e o que escrevi não é para publicação, mas para minha clara compreensão dos ensinamentos do meu mestre, para minha orientação e para minha própria satisfação. Foi difícil convencê-lo de que o que ele havia escrito para sua satisfação poderia ser proveitoso para milhares de outros se fosse publicado como um livro. Ele escutou-me sem responder – um enigmático sorriso nos lábios, com atitude afável, mas totalmente neutra.

Aparentando sessenta anos e muito bem conservado para sua idade, Balsekar tem tez branca, sendo bastante gentil e amigável, mas taciturno por natureza. Quando decide falar, fala com uma circunspecção e distanciamento próprio de um presidente de banco conversando com um solicitante de crédito. Mais tarde, senti-me muito intrigado ao saber que ele realmente tinha sido um banqueiro e que tinha se aposentado como o mais alto executivo de um dos principais bancos da Índia.

Evidentemente, como um solicitante de crédito, fui uma pessoa bastante tenaz, pois fui bem sucedido em tomar emprestado de Balsekar o seu manuscrito por uns poucos dias, para minha iluminação pessoal como um admirador dos ensinamentos de Maharaj. E, quando eu o li, achei-o muito além de minhas melhores expectativas. Não perdi tempo em chamá-lo e a lhe oferecer a publicação da obra. Depois de um breve silêncio, e despreocupadamente, ele abanou a cabeça, expressando seu consentimento.

Li novamente todo o manuscrito, muito cuidadosamente, como um leitor profundamente interessando, mantendo à margem minhas inclinações editoriais. E, enquanto o lia, experimentei em um flash, momentaneamente, minha verdadeira identidade como algo distinto do que penso ser, ou do que pareço ser. Nunca havia tido tal experiência antes. Uns poucos anos atrás, quando tive a boa sorte de editar e publicar as conversações de Nisargadatta Maharaj, Eu Sou Aquilo, senti o impacto de sua originalidade criativa e raciocínio socrático, mas não tive sequer um fugaz lampejo da Verdade ou Realidade ou de minha verdadeira entidade, como agora. E isto porque Balsekar em seus escritos não repete meramente as palavras de Maharaj, mas as interpreta com grande discernimento e lucidez, e um profundo entendimento. Ele escreve com um poder e uma autoridade intrínseca oriunda do próprio Maharaj, por assim dizer. Ele não argumenta; ele anuncia. Suas afirmações são da natureza dos pronunciamentos em nome do Mestre.

Eu nunca fui um visitante regular de Maharaj, mas ouvi suas conversas com bastante freqüência, sempre que minhas ocupações me permitiam um tempo livre. Um dedicado devoto de Maharaj, chamado Saumitra Mullarpattan, que é igualmente bem versado em Marathi e inglês, atuava como intérprete. Em um par de ocasiões, contudo, encontrei uma pessoa desconhecida traduzindo, e fiquei impressionado pelo tom competente com que comunicava as respostas de Maharaj a seus inquiridores. Ele sentava com os olhos fechados e transmitia as sábias palavras de Maharaj com a determinação característica do Mestre. Era como se o próprio Maharaj estivesse falando em inglês, para variar.

Quando perguntei, disseram-me que o tradutor era um devoto novo de Maharaj, chamado Balsekar. No fim da sessão, quando os presentes se dispersavam, apresentei-me a ele e o elogiei por sua excelente tradução das palavras do Mestre. Mas ele mostrou-se impassível, como se nada tivesse ouvido. Surpreendido por sua atitude intratável, afastei-me e nunca voltei a pensar nele até que o encontrei recentemente tendo como motivo este livro. E, agora, compreendi quão deploravelmente errado estava ao formar minha opinião sobre ele. Devia ter-me ocorrido que ele vivia em um diferente nível de existência, o qual estava fora do alcance de elogio ou crítica. Eu devia ter entendido que ele estava em união com o Mestre e nada mais o interessava. E isto é provado por seu presente trabalho no qual encontrei a presença de Maharaj em cada página – sua agilidade mental excepcional, suas conclusões rigorosamente lógicas, seu pensamento total, sua completa identidade com a unidade que aparece na diversidade.



Sri Nisargadatta Maharaj e Ramesh Balsekar



É interessante notar que em seu Prefácio ao livro, Balsekar quase negou sua autoria. Ele disse que o material que apareceu neste volume surgiu espontaneamente, ditado, em um frenesi que sobrecarregou seu ser, por um poder compulsivo que não podia ser negado. Eu acredito no que ele falou. E estou inclinado a pensar que o leitor estará de acordo comigo, conforme avançar na leitura. Não há nada neste trabalho que possa ser tomado como projeção do próprio autor, nenhuma improvisação, nenhuma citação erudita das escrituras; não há nenhum adorno de qualquer tipo tomado emprestado. Os pensamentos apresentados por Balsekar levam a assinatura silenciosa do Mestre. Eles parecem vir de um conhecimento luminoso, de uma exaltação da glória da Verdade que preenche seu interior.

Esta obra, intitulada SINAIS DO ABSOLUTO, é o próprio Maharaj, de modo completo. É, sem dúvida, um tipo de curso de pós-graduação para o leitor que já absorveu o que é oferecido em EU SOU AQUILO. Ela compreende os ensinamentos finais e mais sublimes do Mestre e vai muito além do que ele havia ensinado nos anos anteriores. Eu arriscaria dizer que não pode existir nenhum conhecimento mais elevado do que o que este livro contém. Também arrisco dizer que ninguém, exceto Balsekar, poderia ter exposto este conhecimento, pois nenhum daqueles que estiveram próximos do Maharaj entenderam seu ensinamento tão profundamente como ele.

Alguns dos devotos de Maharaj que conheço assistiram a suas conversas por vinte anos ou mais e, no entanto, suas mentes não mudaram, e eles continuam as mesmas entidades que eram duas décadas atrás. A associação pessoal de Balsekar com Maharaj, por outro lado, estendeu-se por apenas três anos. Mas, tais associações não devem ser medidas no tempo, se pudessem ser medidas de alguma forma. O que é mais importante que a duração da associação é o tipo especial de receptividade que é o forte de Balsekar. Não tenho dúvidas de que o manto de Maharaj tenha caído sobre seus ombros. Na falta de uma expressão melhor, eu diria que Balsekar é o alter ego vivo de Maharaj, embora ele não tenha nenhuma inclinação para desempenhar o papel de um mestre. Que ele está saturado com a Jnana passada pelo Mestre é mais do que evidente por este livro. Todavia, quero atrair a atenção particular do leitor para este artigo especial, “A Essência do Ensinamento”, o qual expõe, em todas as suas facetas, a filosofia única de Maharaj (Apêndice 1) assim como sua nota sobre o desconcertantemente difícil tema da consciência (Apêndice 2). Nenhum leitor deve deixar de ler.

Antes de terminar, posso também relatar um divertido incidente no qual o editor em mim teve um choque com o autor em Balsekar. Sua distância e indiferença sempre me irritaram. Ele obteve a graduação da Universidade de Londres e tinha um bom domínio da língua inglesa. Dificilmente poderia encontrar alguma falha em sua linguagem. Ainda assim eu tentei melhorar sua dicção e expressão aqui e lá, como um editor deve fazer! Ele reparou nos melhoramentos não solicitados e permaneceu quieto, com sua habitual indiferença. Então ficou claro que ele tinha feito de seu silêncio uma virtude, exatamente como eu havia feito com minha verbosidade. Éramos antípodas, senti. Ansiando por um entendimento com ele, queria retirá-lo de sua casca, de qualquer modo. E achei por acaso um artifício. Ataquei sua exposição de um dos aspectos do ensinamento de Maharaj (embora realmente concordasse com ele), e ele explodiu repentinamente. Seu contra-ataque foi devastador e eu me alegrei com a quebra da casca, finalmente. Ele, contudo, rapidamente acalmou-se quando concordei com ele sem muita discussão. E seus olhos irradiavam amizade. As habituais circunspecção e distância desapareceram, dando lugar a uma nova intimidade entre nós. Depois daquilo, nós trabalhamos juntos no livro; de fato, ele me permitiu todas as liberdades com seu manuscrito e nunca se incomodou em olhar os acréscimos e alterações que escolhi fazer. Desenvolvemos um necessário entendimento entre nós, o qual, sem dúvida, apreciei muito. Ele passou os olhos casualmente na cópia final, antes que fosse para a gráfica, e parecia estar totalmente feliz com isto.

Perguntei a ele se iria escrever para nós outro livro sobre os ensinamentos do Mestre. Ele sorriu levemente e talvez houvesse um imperceptível abanar de sua cabeça."

Sudhakar S. Dikshit - Editor

Mumbai
Março, 1982


"Sinais do Absoluto"



Fonte:

http://editoraadvaita.blogspot.com/

sábado, 10 de julho de 2010

EXPERIÊNCIAS FORA DO CORPO DURANTE A ATIVAÇÃO DOS CHACRAS



Por Hiroshi Motoyama -


O DESPERTAR DO CHAKRA ANAHATA

Embora tivesse tido problemas digestivos (1), nunca senti nenhum incomodo relacionado com o coração. Entretanto, depois de aproximadamente dois anos após ter iniciado a Ioga, comecei a sentir um tipo de dor no ponto onde a linha que liga os dois mamilos se cruza com a mediana (o ponto Danchu do meridiano do vaso da concepção, Shanchung, VC 17) e meu coração parecia estar funcionando de modo irregular. Porém, em lugar de me sentir doente, estava saudável, muito ativo e necessitava de pouco descanso.

Nesta época, como de costume durante o período mais rigoroso do inverno, praticava o tradicional ascetismo aquático. Levantava-me de madrugada, ia para o lado de fora da casa e derramava água gelada sobre o corpo seminu, durante aproximadamente uma hora. Enquanto fazia isso, minha mãe ficava do meu lado, rezando por mim.

Certa manhã, aconteceu o seguinte: senti um tipo de energia quente elevar-se de meu cóccix para o coração, através da espinha dorsal. Percebi que meu tórax estava muito quente e vi brilhar em meu coração uma luz dourada. A água gelada se esquentava com esse calor e da superfície de meu corpo saía vapor; porém, eu não sentia frio. Quando a kundalini (2) subiu de meu coração para o alto da cabeça, ela tornou-se uma luz branca radiante. Deixei meu corpo e elevei-me juntamente com ela, para uma dimensão muito mais elevada. Meu corpo físico ficou imóvel, exposto ao vento frio do mundo terreno; havia me esquecido dele. Estava meio inconsciente, porém ainda podia perceber que estava nos céus e adorava o Divino. Quando voltei a mim dez ou vinte minutos depois, minha mãe me disse que havia visto uma luz dourada brilhar no alto de minha cabeça e em meu coração. Creio que esta experiência ocorreu no momento em que se ativou meu chakra anahata (chacra cardíaco, na região peitoral).


O DESPERTAR DO CHAKRA SAHASRARA

Uma das práticas que executei regularmente em meu programa inicial de disciplina foi a taoísta chamada Shoshuten. Esse método purifica o sushumna (canal central da coluna) através da circulação de energia na parte superior do corpo, o que se consegue com a elevação da kundalini pelo sushumna até o alto da cabeça e depois deixando-a fluir para o chakra ajna (chacra frontal) durante a inspiração. Em seguida, prende-se a respiração por dois ou três segundos, conservando a energia neste chakra. Depois ele é deixado fluir para o chakra svadhishthana (chacra sexual) através da linha mediana frontal, sendo conservado ali simplesmente prendendo-se mais uma vez a respiração por dois ou três segundos. Deve-se manter, então, a circulação da energia através do sushumna, partindo do muladhara (chacra da base da coluna) até o alto da cabeça e depois de volta ao muladhara, por diversas vezes.

Enquanto executava o Shoshuten, eu podia ver o interior do sushumna (3), o sahasrara (chacra coronário, situado no meio da alto da cabeça) e dois ou três outros chakras brilhando. Depois de praticar Ioga de seis meses a um ano, uma luz dourada brilhante começou a entrar e sair de meu corpo pelo alto da cabeça, e senti como se este ponto tivesse se alongado de dez a vinte centímetros. Na dimensão astral, não na física, notei um vulto que parecia a cabeça de Buda, brilhando nas cores violeta e azul, apoiado em cima de minha própria cabeça. Havia uma luz dourada-clara que entrava e saía pelo alto da coroa de Buda. Fui gradualmente perdendo a sensação do meu corpo, porém continuava com a perfeita percepção de consciência, e também de superconsciência. Pude ver meu próprio espírito elevando-se, saindo de meu corpo pelo alto da cabeça, a fim de ser revigorado nos Céus.

Tornei-me capaz de ouvir uma Voz poderosa, mas muito tema, ressoar pelo Universo. Enquanto escutava essa Voz, compreendi espontaneamente minha missão, minhas vidas anteriores, meu próprio estado de espírito, e muitas outras coisas. Em seguida, senti um estado de fato indescritível; toda minha existência espiritual ficou corno que inteiramente imersa numa serenidade extraordinária. Após algum tempo, senti que era imperativo voltar ao mundo físico. Retomei pelo mesmo caminho, entrando pelo portão no alto de minha cabeça. Tive de inundar conscientemente todo o corpo com a energia espiritual, pois ele estava enregelado e todas as extremidades paralisadas. Afinal, consegui mover mãos e pés, e gradualmente fui retomando ao estado normal.

Isso aconteceu depois de menos de um ano de prática iogue. Durante os dois anos seguintes, os chakras vishuddhi (chacra laríngeo) e anahata (chacra cardíaco) foram ativados. Meus chakras svadhishthana (sexual), manipura (chacra umbilical) e sahasrara, conforme mencionei antes, foram os primeiros a serem ativados.

Depois de ativar o chakra sahasrara, meu corpo astral tomou-se capaz de sair livremente pelo Portão de Brahman (4). Isso me permitiu observar o mundo exterior durante a meditação.

(Texto extraído do livro “Teoria dos Chacras” – Hiroshi Motoyama – Editora Pensamento)

- Comentários de Wagner Borges:

O livro "Teoria dos Chacras", do pesquisador japonês Hiroshi Motoyama é uma das principais obras sobre o estudo dos chacras dentro do contexto iogue. Uma das partes essenciais do seu livro é quando ele narra as repercussões da ativação dos chacras dentro de sua prática iogue. E com isso, ele também relata as projeções da consciência que ocorriam com ele durante o processo de ativação energética.

Baseado nas narrativas projetivas dele, e de outros iogues ao longo da História, pode-se dizer que seguramente há estreita relação dos processos energéticos dos chacras com as saídas do corpo. Por esse motivo, e evidenciando tal correlação bioenergética com as projeções, é que selecionei esses dois relatos projetivos iogues para esse envio de texto pelo site.

1. O autor se refere a alguns problemas digestivos ocorridos com ele enquanto atendia a pessoas doentes e assediadas espiritualmente. Nesse ocasião, o seu chacra umbilical foi afetado seriamente pela ação das energias pesadas dos obsessores que assediavam às pessoas que ele estava atendendo. Isso chegou a prejudicar as suas saídas do corpo por um tempo, já que ele se deparava com severos ataques extrafísicos e não sabia lidar espiritualmente com isso.

Numa da partes do seu livro ele explica como isso acontecia com ele: "Há aproximadamente treze anos (1967), dezessete anos após ter-me iniciado na ioga, minha mãe ficou doente. Substituindo-a, dei consultas espirituais aos membros do Tamamitsu Shrine durante uns três anos. A princípio, era capaz de deixar meu corpo, através do chakra sahasrara, durante a meditação para entrar num estado de união divina ou superior. Contudo, depois de uns seis meses de ter dado início àquelas consultas, apareciam espíritos diante de meu chakra manipura ou ajna quando eu me concentrava, isso me obrigava a negociar com eles constantemente. Era incapaz de passar por eles e deixar meu corpo através do chakra sahasrara para alcançar aquela união – uma situação que continuou por dois ou três anos. Apesar de não ter mais ficado doente depois de começar a praticar a ioga, meu estômago passou a abalar-se com facilidade e comecei a sentir-me freqüentemente cansado."

2. Kundalini (do sânscrito): Kundalini significa literalmente "enroscada". Esse nome deve-se ao seu movimento ondulatório que lembra o movimento de uma serpente. Daí a expressão esotérica "fogo serpentino". Ela também é chamada pelos iogues de "Shakti" (do sânscrito): a força divina aninhada na base da coluna (chacra básico).

Kundalini nada tem a ver com o sexo diretamente, muito embora seja a energia que ativa e vitaliza a sexualidade. Devido a prática de exercícios tântricos que envolvem a contenção do orgasmo, quando esse conhecimento chegou ao Ocidente foi logo desvirtuado. Hoje, esse tema surge associado a rituais e posturas sexuais aqui no Ocidente. No entanto, o despertar da kundalini é um processo puramente espiritual e energético em essência. Envolve a ativação dos chacras, principalmente do chacra cardíaco, que equilibra e distribui corretamente o fluxo ascendente da shakti ao longo dos nádis.

3. Os nádis são os condutos sutis de transporte de energia pelo sistema. Há milhares deles interligando vibracionalmente vários pontos energéticos no corpo sutil. Estão correlacionados com os mesmos pontos no corpo denso. Contudo, apenas dez deles é que são de grande importância na ativação dos chacras e da kundalini. E desses, são três os principais: Ida, Píngala e Sushumna.
Esses nádis são importantes porque correm ao longo do duplo etérico da coluna, onde estão situadas as raízes dos chacras principais.

4. Portão de Brahman (do sânscrito "Brahmarandra"): Trata-se de uma abertura sutil situada no centro do chacra coronário. Dentro do Hinduísmo se considera essa abertura como a passagem sutil do espírito, ligada ao centro cardíaco em linha reta por dentro do canal central da coluna vertebral. É por isso que muitos iogues narram saídas do corpo pelo alto da cabeça, principalmente nos momentos de ativação de alguns chacras, ou mesmo no despertar da Kundalini.



Fonte:

http://www.ippb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2353&catid=31&Itemid=57